Plataformas permitem renegociar dívidas sem ter de falar com bancos

DENILSON OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil atingiu, em 2017, níveis recordes de inadimplência, com mais de 60 milhões de pessoas na lista de nomes sujos do Serasa Experian, em novembro.

Para instituições financeiras e empresas de cobrança, a quitação desses débitos é um desafio. Para algumas das novas empresas de tecnologia financeira, as chamadas fintechs, uma oportunidade.
Essas start-ups estão inserindo no mercado uma nova forma de renegociação de dívidas, totalmente on-line.

O modelo funciona assim: o banco disponibiliza para a fintech parte ou toda sua carteira de devedores e define as regras de renegociação (eventuais descontos e quantidade de parcelas). A empresa entra em contato com o cliente, por aplicativos de mensagem ou e-mail, e o devedor acessa o sistema para definir condições e valores.

Crédito: Rafael Roncato/Folhapress Gabriel treina no CT do Santos, no litoral de São Paulo, antes do clássico contra o Palmeiras, pelo Campeonato Paulista
Marc Lahoud, fundador da Quero Quitar, na sede da empresa, em SP

A instituição credora paga à fintech conforme as parcelas são quitadas –o valor da comissão varia entre 10% e 15% do valor da parcela.

"O método tradicional de cobrança não é totalmente eficiente. As ligações constantes e a abordagem, na maioria das vezes não amigável, acabam gerando muito atrito entre o credor e o devedor", diz Marc Lahoud, fundador da Quero Quitar.

Criada em 2014, a empresa foi a primeira no país a oferecer o ambiente digital para renegociação de dívidas.

A novidade chamou a atenção do Bradesco e, em 2015, Lahoud e sua equipe fizeram parte do primeiro laboratório de inovação do banco. Oito meses depois, a Quero Quitar se tornou o canal oficial de quitação de dívidas da instituição financeira.

Desde sua fundação, a empresa já renegociou 270 mil dívidas. Hoje, tem clientes como Porto Seguro e MRV.

"Como não existe contato direto com o atendente, cresce o número de pessoas que se sente mais confortável para negociar no ambiente virtual, sem intervenção de terceiros e na hora que quiser", afirma Lahoud.
Outra que decidiu investir nesse filão é a Blu 365. Itaú, Magazine Luiza e Hipercard são alguns de seus clientes.

"Nosso foco não é apenas o pagamento da dívida, mas devolver ao consumidor o poder de crédito", afirma o cofundador Alexandre Lara.

Em quatro anos de existência, a Blu 365 fechou 37 mil acordos, que geraram um volume de R$ 33 milhões. Segundo a empresa, 80% dos devedores que acessam o sistema fecham algum acordo.

Nessa onda, o Serasa transferiu aos poucos o Feirão Limpa Nome, seu principal mutirão de renegociação de dívidas, para o mundo on-line.

"O feirão sempre teve bastante êxito entre credores e devedores. Mas, na versão digital, o número de acordos chega a ser quatro vezes maior que na convencional", afirma Raphael Salmi, diretor de estratégia e recuperação de crédito da empresa.

Além de conseguir renegociar parte de suas dívidas por meio do site do Serasa, o consumidor também tem acesso a praticamente todas as pendências em seu nome.

"Hoje, 98% dos débitos estão em nosso banco de dados. Mesmo que a empresa não realize o acordo em nosso sistema on-line, o devedor tem acesso à informação e pode procurar a instituição para resolver a questão", diz Salmi.

Crédito: Editoria de Arte/Folhapress Raio-X das dívidas
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