Congresso volta sem votos para alterar a aposentadoria

Com chance remota de aprovação, governo discute perder ou deixar para novembro

Daniel Carvalho Gustavo Uribe
Brasília
Sessão no plenário da Câmara dos Deputados, sob a presidência do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Sessão no plenário da Câmara dos Deputados, sob a presidência do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) - Folhapress

O Congresso Nacional volta às atividades nesta segunda (5) na mesma situação em que se encontrava no fim de 2017 sem os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência na Câmara.

Com essa possibilidade cada vez mais remota, tanto o Planalto quanto o Legislativo começam a preparar discursos para minimizar o desgaste que cada um sofrerá caso a reforma não seja votada.

Para aprovar a PEC (proposta de emenda à Constituição), são necessários 308 votos em dois turnos. A contagem mais otimista hoje é de 270 votos, mas ao menos três articuladores ouvidos pela Folha dizem que o governo não tem nem esse placar.

Em um último esforço, líderes reunirão suas bancadas na terça (6). No dia seguinte, encontram o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para somar os votos.

"Ainda não tem [votos necessários], mas acham que é possível. Tem que conversar com cada deputado", diz o líder do PR, José Rocha (BA).

No DEM, partido de Maia, o clima é mais pessimista. O líder da legenda na Câmara, Efraim Filho (PB), diz acreditar que não houve mudança de votos a favor da reforma.

No governo e no Congresso, já é consenso que será muito difícil conseguir os votos necessários em ano eleitoral. "Se colocar para votar, o governo será derrotado. Não acredito que se chegue aos 308 votos em nenhuma hipótese", diz o deputado Rogério Rosso (PSD-DF).

Com a previsão de derrota, o governo discute o que seria menos traumático: votar a proposta para perder ou adiá-la para novembro, evitando que, na prática, o mandato do presidente acabe antes da hora. A expectativa do mercado é um dos alicerces da administração de Temer, avalia o Palácio do Planalto.

Na semana passada, Maia disse à Folha que só levará a reforma à votação após o Carnaval se tiver convicção de vitória e que, se ela não for apreciada em fevereiro, não será mais votada neste ano.

A fala contrariou Temer, que receia ser alijado do processo eleitoral se o tema sair da pauta. Apesar de julgarem a não votação uma derrota menor, negociadores dos dois lados admitem ser inevitável o desgaste de Maia e Temer.

Maia sempre reclamou da comunicação do governo e da falta de empenho de alguns atores para angariar votos.

Auxiliares de Temer adotam o discurso de que o presidente não tem culpa e de que o governo fez sua parte ao enviar, há mais de um ano, uma proposta ao Congresso.

"Esse não é um problema do presidente. Quem votar contra está votando contra os brasileiros, não é contra nós", disse o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

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