Vale encerra ciclo de investimentos e prioriza dividendos

Companhia registrou menor nível de investimentos desde 2005

Área de "cava", de onde são extraídos os minérios do solo, em Minas
Área de "cava", de onde são extraídos os minérios do solo, em Minas - Ricardo Borges/Folhapress
Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

Sem grandes projetos de investimento no horizonte, a mineradora Vale vai focar nos próximos anos em pagar dividendos a seus acionistas, disse nesta quarta (28) o presidente da companhia, Fabio Schvartsman.

Na terça (27), a empresa anunciou lucro de R$ 17,6 bilhões em 2017, ano em que teve o menor volume de investimentos desde 2005 - foram US$ 3,8 bilhões, o equivalente a R$ 12,3 bilhões na cotação atual.

"É o momento do dividendo da Vale. Estamos encerrando um ciclo de investimentos e teremos cada vez menos necessidade de caixa", afirmou Schvartsman, em conferência telefônica com jornalistas.

Com relação ao resultado de 2017, a companhia distribuirá a seus acionistas R$ 4,7 bilhões. Trata-se do mínimo previsto pelo estatuto, mas a perspectiva é que os valores sejam mais generosos no futuro, caso as metas de redução da dívida sejam atingidas.

"Estamos em um momento de geração muito forte de caixa, prestes a atingir nossa meta de alavancagem, então chegou o momento de retribuir aos acionistas, em agradecimento à paciência com que contribuíram para o desenvolvimento da Vale", disse o presidente da companhia.

A Vale fechou 2017 com dívida de US$ 18,1 bilhões e tem como meta levar o número a US$ 10 bilhões durante o ano. Para isso, conta com a entrada de recursos de financiamento para obras do corredor logístico de Nacala, em Moçambique, e da venda de ativos de fertilizantes.

Já os investimentos devem ficar no mesmo nível de 2017, com foco principal na manutenção das operações já existentes. Schvartsman diz que a Vale exigiu "paciência" dos acionistas em um um esforço para concluir as obras da mina S11D, projeto de US$ 14 bilhões no Pará, inaugurado no fim de 2016.

"Precisamos de um tempo para a companhia respirar um pouco antes de se lançar em um novo ciclo de investimentos", disse ele, ressaltando que há projetos na mesa, como a expansão da produção de cobre na mina de Salobo, no Pará, mas sem a magnitude do S11D.

Uma das metas da companhia é reduzir a dependência do minério de ferro, responsável em 2017 por 76% da geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, depreciações e amortizações). A ideia é que outros minérios cheguem a 30% desse indicador.

Na conferência, o diretor financeiro da empresa, Luciano Siani, defendeu que, mesmo com a redução dos investimentos, a Vale ainda fará grandes aportes no mercado brasileiro, por meio dos gastos com manutenção das operações.

"Estamos falando de R$ 12 bilhões por ano, dos quais 80% serão no Brasil. Não conheço outra empresa, fora a Petrobras, que invista tanto no país", afirmou.

A mineradora, que passou em 2017 por um processo de pulverização de seu controle, quer também garantir maior previsibilidade a seus investidores. Isso significa, segundo Schvartsman, ter controle sobre custos, capacidade produtiva e investimentos, para que seja possível prever o desempenho sob qualquer cenário de preços dos minérios que ela produz.

SAMARCO

O presidente da Vale diz que a empresa ainda espera a conclusão do licenciamento ambiental de uma nova cava para minérios para definir cronograma para o retorno das operações da Samarco, fechada desde a tragédia ambiental provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015.

"Ainda não começarmos a investir na cava Alegria Sul, porque ainda não temos autorização e, consequentemente, existe razoável incerteza no cronograma de repartida da Samarco. Trabalhamos, com melhor expectativa para o fim do ano, início do ano que vem, mas depende do andamento do licenciamento."

Em teleconferência com analistas também nesta quarta, ele defendeu que a retomada das operações da Samarco é uma "obrigação social", por propiciar geração de renda à região onde está instalada.

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