Acordo Mercosul-União Europeia está próximo, diz deputado europeu

Negociação começou há quase 20 anos e principal oposição é dos agricultores franceses

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Fazendeiros estacionam tratores em Clemont_Ferrand em protesto contra acordo - Thierry Zoccolan-22.fev.2018 / AFP
Madri

A rodada atual de negociações de livre comércio entre Mercosul e União Europeia se aproxima de seu prazo final na próxima sexta-feira (2), em Assunção, e ainda não pôde superar as fortes resistências encontradas na Europa. Mas legisladores europeus creem que, mesmo com os obstáculos, este é o mais próximo que os blocos econômicos estiveram de um tratado.

“Sabemos que há sensibilidades e dificuldades em ambas as partes, mas estamos mais perto do que nunca de poder fechar este acordo”, disse o eurodeputado espanhol José Ignacio Salafranca. Ligado ao conservador Partido Popular, Salafranca representa o Parlamento Europeu nas negociações com o Mercosul -- legisladores têm de dar o aval a qualquer acordo negociado pela Comissão Europeia, o braço Executivo do bloco.

O deputado se reuniu com jornalistas nesta sexta-feira (23) no escritório do Parlamento Europeu em Madri antes de participar de um seminário sobre os acordos comerciais da União Europeia com o México e o Mercosul. Sobre o primeiro, disse ser “iminente”. Já no caso do segundo, “estamos buscando fórmulas para fechá-lo no prazo mais breve o possível”, disse.

“O acordo com o Mercosul lançaria uma mensagem importante em favor do multilateralismo. É a grande pendência da agenda da União Europeia para a América Latina”, afirmou. Estava presente também a eurodeputada espanhola Inmaculada Rodríguez-Piñero, do Partido Socialista Operário Espanhol.

NOVA FASE

União Europeia e Mercosul já negociam um acordo de livre comércio há quase 20 anos, mas enfrentam desde então persistentes barreiras, em especial vindas da França. Agricultores franceses protestaram nesta semana contra a perspectiva de ter de competir com a carne brasileira, derramando esterco e palha em avenidas do país. Com um acordo, esse setor teria de concorrer com entre 70 mil e 99 mil toneladas de carne bovina sul-americana sem tarifas alfandegárias.

Mas o contexto político é agora bastante diverso. O Reino Unido deve deixar o bloco econômico em 2019 e, em paralelo, os EUA têm se afastado da abordagem multilateral com a União Europeia. “Precisamos de sócios estáveis e previsíveis nestes tempos”, disse Salafranca. O bloco exportou em 2016 ao Mercosul bens equivalentes a € 43,2 bilhões e importou € 41,6 bilhões dali.

Há alguma pressa entre os negociadores reunidos em Assunção porque já se prevê uma série de mudanças políticas em ambas as regiões envolvidas, incluindo as eleições brasileiras de outubro e a troca de chefia na Comissão Europeia. As próximas eleições ao Parlamento Europeu serão realizadas já em 2019.

O posicionamento de deputados como Salafranca é importante porque a Espanha é justamente um dos principais defensores do acordo com o Mercosul, em posição oposta à da França -- o presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu agricultores no Palácio do Eliseu nesta semana para ouvir suas demandas.

A Argentina, outrora resistente ao acordo, tem agora interesse em enviar uma mensagem de abertura econômica. O presidente Michel Temer é igualmente favorável ao acordo, assim como seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Negociadores europeus pressionam o Mercosul para que, além da exportação de carne, o bloco ceda também oferecendo uma maior abertura de seu setor automotivo. Os negociadores do Cone Sul já aceitaram zerar as tarifas de importação de carros, agora em 35%, em 12 anos. Mas a UE quer uma meta de oito anos.

Europeus também pedem que os latino-americanos flexibilizem a regra de origem do setor, ao qual é exigido hoje que 60% das peças dos veículos sejam fabricadas dentro do bloco econômico. A indústria automobilística europeia está, afinal, mais acostumada a modelos de produção descentralizados.

Enquanto as conversas com o Mercosul avançam mais devagar, a União Europeia acredita estar próxima de renovar seu acordo com o México. Já existe um tratado há 17 anos, mas o país e o bloco têm negociado para modernizá-lo. Salafranca afirmou na sexta-feira que esse acordo já pode ser fechado em março.

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