Órgão de defesa do consumidor dos EUA começa a investigar Facebook

FTC apura violação à privacidade no escândalo da utilização de dados na campanha de Trump 

Imagem do presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, em versão russa da plataforma
Imagem do presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, em versão russa da plataforma - Mladen Antonov - 22.mar.2018/AFP
Washington | Financial Times

A FTC (Comissão Federal do Comércio, na sigla em inglês), agência de proteção do consumidor e de defesa da concorrência dos EUA, anunciou oficialmente nesta segunda (26) que iniciou investigação sobre as práticas de proteção da privacidade do Facebook, depois do escândalo da Cambridge Analytica, no qual dados sobre 50 milhões de usuários da rede social foram usados indevidamente.

Tom Pahl, diretor interino da divisão de proteção ao consumidor da FTC, disse que a agência "encara com muita seriedade as recentes reportagens que apontaram preocupações substanciais quanto às práticas de proteção da privacidade no Facebook".

O diretor também alertou para o fato de que a comissão está determinada a agir contra empresas que deixem de honrar suas promessas quanto à privacidade de usuários.

A investigação pode resultar em multas para o Facebook, que em 2011 assinou acordo com a FTC nos termos do qual se comprometia a informar claramente aos usuários de que maneira seus dados estavam sendo compartilhados com terceiros.

Se for constatado que a empresa violou o acordo, ela pode enfrentar multa de até US$ 40 mil (R$ 132 mil) por violação/dia. Na semana passada, David Vladek, ex-diretor da FTC que supervisionou o acordo de 2011, disse que cada usuário cujos dados tenham sido usados indevidamente poderia ser computado como uma violação individual dos termos do acordo.

As ações do Facebook chegaram a cair até 6,1% nesta segunda-feira, mas se recuperaram e encerraram o dia em alta de 0,42% a US$ 160,06. Os papéis acumulam queda de 13,5% desde que irrompeu o escândalo da Cambridge Analytica.

Desde o dia 1º de fevereiro, quando atingiram um pico de US$ 193,09, as ações acumulam queda de 17%.

O Facebook voltou a divulgar declaração feita na semana passada por Rob Sherman, vice-presidente assistente da companhia para questões de privacidade, na qual ele disse continuar a ter forte compromisso com a proteção das informações das pessoas.

A investigação pela FTC é apenas um dos diversos inquéritos sobre o Facebook surgidos depois da revelação de que a Cambridge Analytica, empresa de marketing que trabalhou na campanha de Donald Trump, havia recolhido indevidamente dados sobre 50 milhões de usuários do Facebook.

As informações havia sido obtidas originalmente por um professor da Universidade de Cambridge, que desenvolveu questionário a ser usado para fins de pesquisa acadêmica, de acordo com o que o Facebook informou aos usuários.

Políticos dos EUA e da Europa convocaram Mark Zuckerberg, cofundador e presidente-executivo do Facebook, a depor sobre o escândalo, e 37 secretários estaduais de Justiça nos Estados Unidos exigiram respostas do Facebook quanto à questão.

Katarina Barley, ministra da Justiça da Alemanha, disse que o Facebook e outras empresas de internet têm de ser fiscalizados com mais rigor.

Falando depois de reunião com executivos do Facebook na Europa, em Berlim, Barley disse que os eventos relacionados à Cambridge Analytica são "intoleráveis", acrescentando que ainda não havia sido informada sobre o número de usuários alemães afetados pelo caso. "Promessas não bastam. No futuro, fiscalizaremos companhias como o Facebook de maneira muito mais severa."

Barley também apelou que o Facebook fosse mais "transparente" com respeito aos seus algoritmos --solicitação que a empresa demonstrou "prontidão" em honrar, segundo ela.

O Facebook descobriu o problema da coleta de dados em 2015, mas não informou o público a respeito até este mês, quando o New York Times e o Observer (edição dominical do Guardian) estavam a ponto de veicular a notícia.

A empresa disse ter confiado em certificação legal de que os dados haviam sido apagados e que investiga agora se isso de fato aconteceu.

No domingo, o Facebook publicou anúncios em jornais norte-americanos e britânicos anunciando que investigaria todos os apps que tivessem baixado grandes volumes de dados.

Tradução Paulo Migliaci

 

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