Descrição de chapéu Facebook Mark Zuckerberg

Europa e EUA cobram do Facebook esclarecimentos sobre suposto uso ilegal de dados

Consultoria que ajudou a eleger Trump teria obtido informações de 50 milhões de usuários

Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, em Sun Valley, Idaho
Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, em Sun Valley, Idaho - Drew Angerer - 14.jul.2017/Getty Images/AFP
São Paulo | agências de notícias

O Reino Unido está investigando se o Facebook fez o suficiente para proteger dados, depois da denúncia de que uma consultoria política com sede em Londres, contratada por Donald Trump, acessou de forma indevida informações de 50 milhões de usuários do Facebook para influenciar a opinião pública.

As ações do Facebook recuaram quase 7% na segunda (19), reduzindo em quase US$ 40 bilhões o valor de mercado da empresa, em meio a preocupações de investidores de que danos à reputação podem dissuadir usuários e anunciantes da maior rede do mundo. Às 12h37h desta terça (20), as ações caíam 4,7%.

Elizabeth Denham, chefe da Comissão de Informação britânica, está buscando uma autorização para fazer buscas nos escritórios da consultoria Cambridge Analytica, depois que uma denúncia revelou que a empresa colheu informações privadas de milhões de pessoas para apoiar a campanha presidencial norte-americana de Trump em 2016.

Parlamentares dos Estados Unidos e da Europa exigiram explicações de como a empresa de consultoria obteve acesso aos dados em 2014 e por que o Facebook não informou seus usuários, levantando questões mais amplas da indústria sobre a privacidade do consumidor.

"Estamos analisando se o Facebook garantiu e protegeu informações pessoais na plataforma e se, quando descobriu sobre a perda dos dados, agiu de forma robusta e se as pessoas foram ou não informadas", disse Denham à BBC Radio.

A agência Bloomberg informou que a Comissão Federal de Comércio dos EUA está investigando o Facebook

Em Washington, o presidente republicano do Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado enviou uma carta na segunda ao presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, solicitando informações sobre o uso de dados de usuário do Facebook.

"A possibilidade de que o Facebook não tenha sido transparente com os consumidores ou não tenha podido verificar se os desenvolvedores de aplicativos de terceiros são transparentes com os consumidores é preocupante", informou a carta, que também foi enviada a Nigel Oakes, presidente- executivo da filial SCL de Cambridge Analytica.

Em Londres, o chefe da comissão parlamentar da Mídia do Reino Unido também escreveu para Zuckerberg pedindo mais informações. "Gostaríamos de receber sua resposta até segunda-feira, 26 de março", escreveu o parlamentar Damian Collins.

"O comitê perguntou repetidamente ao Facebook como as empresas adquirem e retêm informações dos usuários e, em particular, se seus dados foram adquiridos sem o seu consentimento", afirmou Collins.

"As respostas de seus representantes [a essas questões] subestimaram consistentemente esse risco e foram enganosas."

"Chegou o momento de ouvir um executivo sênior do Facebook com autoridade suficiente para explicar esse alarmante fracasso", disse. 

A ministra da Justiça alemã, Katarina Barley, convocou o Facebook a assumir a responsabilidade por violações das leis de privacidade de dados. Barley disse ao jornal Passauer Neue Presse que a empresa precisava ainda explicar como protegeria melhor a privacidade de seus usuários no futuro, observando que as pessoas precisavam saber o que seria feito de seus dados antes de autorizarem seu uso.

"O Facebook deve aderir a esta base legal. É hora de a empresa assumir responsabilidade clara", afirmou.

CONSULTORIA

Criada em 2013, a Cambridge Analytica se vende como uma fonte de pesquisa do consumidor, com publicidade direcionada e outros serviços relacionados a dados para clientes políticos e corporativos.

De acordo com o jornal The New York Times, a empresa foi lançada com o apoio de US$ 15 milhões do doador republicano bilionário Robert Mercer e de Steve Bannon, que posteriormente foi conselheiro de Trump na Casa Branca.

O Facebook disse que os dados foram colhidos por um acadêmico britânico, Aleksandr Kogan, que criou um aplicativo na plataforma que foi baixado por 270 mil pessoas, proporcionando acesso não só aos seus próprios dados pessoais, mas também aos de amigos.

A rede social informou que Kogan então violou suas políticas passando os dados para a Cambridge Analytica. A rede social disse ainda ter sido informado de que os dados teriam sido destruídos.

O Facebook suspendeu a empresa de consultoria e sua controladora Strategic Communication Laboratories (SCL).

Kogan afirmou que mudou os termos e as condições de seu aplicativo de avaliação de personalidade no Facebook de uso acadêmico para comercial durante o curso do projeto, de acordo com emails para os colegas da Universidade de Cambridge obtidos e citados pela CNN.

Kogan diz que o Facebook não fez objeção, mas o Facebook afirma que não foi informado sobre a mudança, conforme a CNN. Kogan não foi encontrado imediatamente para comentar.

A Universidade de Cambridge disse que queria que o Facebook confirmasse que Kogan não usou dados, recursos ou instalações da universidade nas supostas violações.

"Nós já buscamos e recebemos garantias do dr. Kogan de que nenhum dado, recurso ou instalação da universidade foi usado ​​como base para seu trabalho com o GSR ou o trabalho subsequente da empresa com qualquer outra parte", disse a universidade nesta terça, referindo-se à própria companhia de Kogan.

"Atualmente, não encontramos nenhuma evidência para contradizer as garantias anteriores do dr. Kogan. No entanto, estamos escrevendo para o Facebook para solicitar todas as provas relevantes em sua posse."

VIOLAÇÃO GRAVE

O Facebook disse que se os dados passados para a  Cambridge Analytica ainda existirem, "seria uma grave violação das políticas do Facebook e uma violação inaceitável da confiança e dos compromissos assumidos por esses grupos."

A Cambridge Analytica tem negado todas as informações publicadas pela mídia e disse que eliminou os dados depois de tomar conhecimento que não estavam de acordo com as regras de proteção de dados.

"Não estamos sozinhos ao usar dados de sites de redes sociais para extrair informações do usuário", disse a Cambridge Analytica. "Nenhum dado do Facebook foi utilizado pela nossa equipe de ciência dos dados na campanha presidencial de 2016".

A comissária de Informação, Elizabeth Denham, disse na segunda-feira que estava buscando uma autorização para fazer buscas nos escritórios da Cambridge Analytica, depois de ver uma reportagem no Channel 4, canal de notícias do Reino Unido, que secretamente registrou seus executivos se vangloriando de sua capacidade de influenciar as eleições.

Ela disse que não demoraria para obter o mandado de buscas.

O Facebook disse que contratou auditores forenses da empresa Stroz Friedberg para investigar e determinar se a Cambridge Analytica ainda tinha os dados.

"Os auditores de Stroz Friedberg estavam no local do escritório da Cambridge Analytica em Londres nesta noite", disse a empresa em comunicado na segunda.

A rede social suspendeu a auditoria, no entanto, após o órgão de vigilância de proteção de dados do Reino Unido solicitar a retirada dos auditores dos escritórios da Cambridge Analytica, devido a preocupações de que a ação poderia prejudicar a integridade da revista planejada pelos reguladores.

A crítica da Cambridge Analytica apresenta uma nova ameaça para o Facebook, que já está sob ataque pelo suposto uso de suas ferramentas pela Rússia para influenciar os eleitores dos EUA com publicações divisórias e falsas antes e depois das eleições de 2016.

 
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