Apagão que deixou Norte e Nordeste sem luz foi causado por falha humana, diz ONS

Disjuntor de subestação de Belo Monte foi programado erroneamente

Salvador sofre com apagão no fornecimento de energia
Salvador sofre com apagão no fornecimento de energia - Raul Spinassé/Agência A Tarde/Agência O Globo
Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

A divulgação de relatório preliminar sobre as causas do apagão que deixou 70 milhões de pessoas sem luz em 21 de março opôs o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) à BMTE (Belo Monte Transmissora de Energia), empresa que opera as instalações nas quais o problema foi iniciado.

Para o operador, o blecaute foi provocado por falha humana na programação de um disjuntor da subestação Xingu, parte do sistema de escoamento da energia da usina de Belo Monte, no Pará.

A BMTE, controlada pela chinesa State Grid e pela Eletrobras, diz que o problema foi causado pela "condição provisória" do sistema, que operava com "risco de desligamento por falha simples".

O apagão deixou 14 estados do Norte e do Nordeste sem luz e teve reflexos em outras regiões, com cortes isolados para reequilibrar a frequência da rede de transmissão.

O diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, disse nesta sexta (6) que o sistema de proteção do disjuntor estava programado de forma equivocada para operar com corrente máxima de 4.000 amperes, enquanto sua capacidade chega a 5.000 amperes.

A programação teria sido feita pela equipe técnica da BMTE e não informada ao operador do sistema.

Quando a corrente superou o teto programado, o disjuntor caiu, derrubando a ligação entre Belo Monte e o resto do país. "A proteção enxergou como se houvesse uma sobrecarga, mas não era sobrecarga", disse Barata.

O Norte caiu porque a rede ficou com mais energia do que consegue consumir. Já o Nordeste ficou com menos energia do que a demanda naquele momento, já que importava do Norte volume equivalente a 23% de seu consumo.

Uma falha no sistema de proteção da hidrelétrica de Paulo Afonso (BA) derrubou duas unidades geradoras da usina e contribuiu para o blecaute total em um momento em que apenas 50% da carga da região havia sido cortada.

A BMTE admite a falha no ajuste do disjuntor, mas diz que a configuração do sistema de transmissão de Belo Monte na hora do apagão era "degradada" e "provisória".

"Estamos trabalhando com uma situação que equivale a maiores riscos de contingências do que o planejado."

Inaugurado no fim de 2017, o sistema começou a operar sem a segunda conexão prevista entre a usina e a subestação, que só entrou em operação no fim de semana seguinte ao apagão.

A obra era de responsabilidade da espanhola Abengoa, mas foi transferida à BMTE devido a dificuldades financeiras daquela empresa, hoje em recuperação judicial.

O ONS admite que a segunda conexão poderia ter evitado o apagão, ao absorver a energia que era escoada pela primeira. Mas defende que a causa do blecaute não tem relação com o atraso nas obras.

A BMTE diz ainda que não houve testes do disjuntor com a carga máxima antes do dia do apagão, o que poderia detectar a falha de programação.

O relatório final com a conclusão das investigações sairá em até 15 dias e será encaminhado à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

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