Dólar sobe 6% em abril e tem maior alta mensal desde novembro de 2016

Expectativa de altas adicionais de juros nos EUA e eleições pesaram; Bolsa sobe 0,9% no mês

Dólar lidera ranking de investimento em abril por turbulências externas e eleitorais
Dólar lidera ranking de investimento em abril por turbulências externas e eleitorais - ATTA KENARE/AFP
Danielle Brant
São Paulo

O dólar subiu 6% em abril e teve a maior alta mensal desde novembro de 2016, quando avançou 6,2%, com o temor dos investidores de altas adicionais de juros nos Estados Unidos e também com as incertezas que rondam o cenário eleitoral brasileiro. A Bolsa também fechou o mês no azul, com valorização de 0,9%.

Nesta segunda (30), o dólar comercial teve alta de 1,21%, a R$ 3,505, o maior valor desde 3 de junho de 2016, quando atingiu R$ 3,527. O dólar à vista, que fecha mais cedo, subiu 0,5%, para R$ 3,485. 

Já o Ibovespa, índice das ações mais negociadas, fechou a sessão em queda de 0,38%, para 86.115 pontos, com um volume negociado menor por causa do feriado de 1º de Maio, Dia do Trabalho, nesta terça. 

A forte valorização do dólar em abril fez os fundos cambiais, opção para o investidor que quer aplicar em moeda estrangeira, liderarem o ranking de investimentos da Folha no mês. Esses fundos se valorizaram 5,3%, após desconto de Imposto de Renda de 15%, que incide em resgates realizados após 720 dias. 

"Houve uma diferença entre a taxa de juros nos Estados Unidos e no Brasil que ficou favorável ao mercado americano, e não ao brasileiro", diz Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven Financial.

Essa diferença ocorreu principalmente por causa das expectativas de que o banco central americano poderia ter que acelerar os aumentos de juros no país por uma inflação pressionada pelo preço de matérias-primas —em especial o petróleo—, que ganhou força ao longo do mês.

O cenário doméstico também influenciou a cotação da moeda americana. As primeiras pesquisas divulgadas depois da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxeram na liderança Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). A falta de clareza sobre as propostas de ambos para a economia preocupa os investidores, segundo analistas.

Por causa dessas dúvidas, muitos estrangeiros que compram ações no país utilizam instrumentos de proteção cambial, como a compra de dólares ou de contratos futuros da moeda estrangeira.

"O investidor estrangeiro que está entrando aproveita o fato de a Bolsa estar barata em dólar, mas busca manter os preços dos ativos no patamar em que comprou, sem ser afetado por eventuais desvalorizações do real", diz Figueredo.

Esse movimento contribuiu para a valorização do dólar, mas, segundo o sócio-analista da Eleven, é responsável por apenas 30% do movimento de alta da moeda americana. "Eu vejo vantagem nesse movimento, porque, com o dólar mais forte, os ativos brasileiros ficam mais baratos sob a ótica do capital estrangeiro, o que abre a possibilidade de ter mais investimento em Bolsa", ressaltou.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) teve alta de 2,58%, para 173,9 pontos. 

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados fecharam com sinais mistos. O DI para julho deste ano recuou de 6,246% para 6,240%. O DI para janeiro de 2019 teve alta de 6,215% para 6,230%.

AÇÕES

O fluxo de entrada de estrangeiros contribuiu para a alta de 0,88% do Ibovespa no mês. Apesar disso, os fundos de ações indexados, alternativa para o investidor que quer aplicar em Bolsa, recuaram 0,55% em abril.​

Nesta sessão, dos 64 papéis do Ibovespa, 43 caíram, 19 subiram e dois fecharam estáveis.

O mês de abril marcou a retomada dos IPOs na Bolsa brasileira. Depois de NotreDame  Intermédica, que subiu 22,7% na estreia, e HapVida (22,8%), foi a vez do Banco Inter começar a negociar seus papéis em Bolsa. Na estreia, as ações fecharam estáveis em R$ 74.

As ações da BRF lideraram as quedas do Ibovespa, com recuo de 3,58%. A Natura se desvalorizou 3,42%, e a Ultrapar perdeu 2,47%.

A Rumo encabeçou as altas, com avanço de 3,41%. A Suzano se valorizou 2,01%, a EcoRodovias teve ganho de 1,95%.

As ações da Petrobras subiram, acompanhando a alta do petróleo no exterior. Os papéis mais negociados avançaram 1,14%, para R$ 22,97. Os papéis com direito a voto tiveram valorização de 0,45%, para R$ 24,63.

A mineradora Vale subiu 0,66%, para R$ 48,67, em meio à alta dos contratos futuros de minério no exterior.

No setor financeiro, o Itaú Unibanco recuou 0,95%. As ações preferenciais do Bradesco perderam 1,54%, e as ordinárias caíram 1,94%. O Banco do Brasil teve queda de 1,74%, e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil tiveram desvalorização de 0,29%.

RENDA FIXA

O cenário de queda da taxa básica de juros Selic deixa as aplicações de renda fixa ainda menos atrativas, avalia Vinícius Maeda, diretor de relações com investidores da plataforma Magnetis. A melhor colocada em abril foi a poupança com depósitos até 3 de maio de 2012, que rendeu 0,5%.

"Dada a evolução, a inflação estabilizando dentro das projeções do mercado, em torno de 4%, o mercado já projeta um novo corte, que deve acontecer na próxima reunião, em maio", diz. Com isso, a Selic deve cair para 6,25%. No segundo semestre, dependendo da economia, há espaço para que os juros voltem a subir.

Para ele, apesar da queda significativa dos juros —de 14,25% em outubro de 2016 aos atuais 6,5%—, a renda fixa ainda tem um papel importante na carteira dos investidores. "Para o curto prazo, é importante ter a renda fixa para que não tenha uma surpresa numa eventual volatilidade", afirma. É o caso de alguém que precisa juntar dinheiro para quitar um financiamento, por exemplo. 

Maeda adverte que o investidor tem que tomar cuidado com a euforia. "A gente vem de altas históricas de Bolsa e ativos de risco, como o câmbio, mas é importante ter a carteira bem diversificada para que as volatilidades não peguem o investidor de surpresa."

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