Joana Cunha
São Paulo

Depois dos temores de que Marcelo Odebrecht poderia comprometer o futuro do grupo que leva o nome da família, num momento em que tentam reerguer os negócios, Marcelo e o pai, Emílio, divulgaram nesta terça-feira (3), conforme antecipou a Folha, comunicado conjunto que denota um armistício entre os dois. Eles estão brigados desde a prisão de Marcelo na Lava Jato em 2015.

O texto, assinado pelo fundador Emílio, presidente do conselho de administração da empresa, e Marcelo, na condição de acionista, afirma que a dupla tem "como objetivo comum a preservação e o fortalecimento das empresas do Grupo Odebrecht".

Afastando preocupações em relação à atuação de Marcelo, a nota diz também que ele "tem se dedicado neste período à sua família e às obrigações do seu acordo de colaboração com a Justiça".

Conforme noticiou a Folha, Marcelo tinha como alvo Newton de Souza, futuro presidente do conselho de administração, sucessor de Emílio, que teria sido, na visão de Marcelo, preservado por Emílio no acordo de delação que envolveu 78 executivos.

INICIATIVAS

O comunicado vem em um momento em que a empresa reúne diversas iniciativas no esforço de sair do poço.

Nos últimos meses, a Odebrecht avançou nas negociações por um acordo de leniência com AGU (Advocacia-Geral da União) e CGU (Controladoria-Geral da União), que pode ser assinado nas próximas semanas, afastando a possibilidade de que a construtora do grupo seja declarada inidônea.

A construtora já tinha homologado um acordo com o Departamento de Justiça americano em 2016, mas o processo fecharia o ciclo com as autoridades brasileiras.

O acordo teria um efeito colateral positivo: a chance de sair da lista negra das empresas impedidas de celebrarem contratos novos com a Petrobras, beneficiando a Ocyan, antiga Odebrecht Óleo e Gás.

A construtora acaba de assinar seu primeiro contrato no Brasil depois da Lava Jato, com Furnas, para reformar uma termelétrica no Rio, de quase R$ 600 milhões. Ela também está disputando uma obra de hidrelétrica na Tanzânia, no valor de US$ 3 bilhões.

Além da saída de Emílio da presidência do conselho neste mês, haverá uma grande renovação das outras cadeiras, com mais conselheiros independentes, na esteira dos esforços para melhorar a imagem da empresa. Uma das vagas será ocupada por uma mulher, pela primeira vez na história do conselho da Odebrecht.

A discussão sobre os bonds (títulos) da construtora, de cerca de R$ 500 milhões, também estaria perto de um desfecho. A promessa é que sejam honrados, dizem pessoas próximas às conversas.

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