Ex-ministro argentino é indiciado por suposto favorecimento à Odebrecht

Julio de Vido foi chefe da pasta de Planejamento nos governos Néstor e Cristina Kirchner

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O ex-ministro argentino do Planejamento Julio de Vido, em Buenos Aires - Juan Mabromata - 13.abr.2016/AFP
Sylvia Colombo
Buenos Aires

O juiz federal Daniel Rafecas indiciou nesta terça-feira (3) o ex-ministro do Planejamento do período kirchnerista (2003-2015) Julio de Vido e o ex-secretário de Energia Daniel Cameron por “supostas manobras para favorecer a construtora Odebrecht na licitação de contratos para a ampliação de gasodutos".

De Vido, homem-chave na condução das obras públicas na Argentina durante as gestões de Néstor e Cristina Kirchner, já se encontra preso, mas por outra razão. Ele responde a processo relacionado a um possível desvio de verbas para a construção de um projeto de mineração.

Como na Argentina a legislação ainda não permite que as denúncias por delação premiada feitas no Brasil sejam validadas no país vizinho, a Justiça local tem iniciado investigações por conta própria sobre a relação de funcionários da gestão anterior com a empreiteira brasileira.

De Vido se diz inocente e afirma que há perseguição política. “Macri tenta a todo custo me vincular com a Odebrecht”, declarou.

Seus advogados vêm tentando sua liberação há semanas sob a alegação de que sofre de diabetes e que seu estado estaria se deteriorando na prisão.

O caso pelo qual é acusado agora envolve intercâmbios de favores para assegurar que a Odebrecht vencesse o concurso para a ampliação dos gasodutos, um projeto US$ 2,3 bilhões (R$ 7,6 bilhões).

Segundo a empreiteira brasileira declarou ao ministério da Justiça dos EUA, na Argentina foram pagos US$ 35 milhões (R$ 116 milhões) em caixa 2 e propinas.

Até agora, o único atual funcionário do governo que passou por um processo foi o chefe de inteligência, Gustavo Arribas, acusado de receber US$ 850 mil (R$ 2,8 milhões), na época em que vivia em São Paulo e trabalhava com compra e venda de jogadores de futebol. Arribas, amigo e homem de confiança de Macri, negou as acusações e foi absolvido desta causa.

Segundo Rafecas, De Vido e os outros indiciados “realizaram uma série de atos com intenção de favorecer a construtora Norberto Odebrecht para que esta recebesse a licitação para os contratos de construção da obra denominada 'ampliação dos gasodutos TGS e TGN', nos anos entre 2006 e 2008”.

O juiz acrescentou que teria havido uma “possível decisão direcionada por parte das autoridades de distintos organismos públicos para que a Odebrecht fosse beneficiada com a concessão da ampliação dos gasodutos.”

CRISTINA

Nesta terça, a Justiça argentina abriu um novo processo contra Cristina Kirchner, desta vez sob a acusação de beneficiar as empresas hoteleiras da família com o contrato de hospedagem das tripulações dos aviões da estatal Aerolíneas Argentinas.

Segundo a Procuradoria, as compras de diárias, realizadas entre 2009 e 2015, não seguiram os mecanismos previstos por lei. Os promotores também pediram o bloqueio dos bens das três companhias hoteleiras dos Kirchners.

Além dela, são acusados dos mesmos crimes os ex-ministros Julio Alak e Axel Kicillof, o ex-presidente da estatal Mariano Recalde e o empresário Lázaro Báez. Amigo da família Kirchner, Báez está preso desde 2016 acusado de lavagem de dinheiro e superfaturamento de obras públicas cujas licitações foram vencidas por suas empresas.

Ele e Cristina são suspeitos também de usarem os hotéis para lavar dinheiro, por meio de falsas diárias vendidas às empreiteiras de Báez.

Com informações de São Paulo

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