Descrição de chapéu bitcoin

Bolsa de NY planeja plataforma online para operações com bitcoin

Grandes investidores poderiam comprar e vendar bitcoins

Nathaniel Popper
San Francisco | The New York Times

Alguns dos maiores nomes em Wall Street estão começando a simpatizar com o bitcoin, moeda virtual que foi relegada por quase uma década às margens não regulamentadas do mundo financeiro.

A empresa que administra a Bolsa de Valores de Nova York está trabalhando em uma plataforma online para operações que permitiria que grandes investidores vendam e comprem bitcoins, de acordo com emails e documentos obtidos pelo jornal The New York Times, e com quatro pessoas informadas sobre o esforço que pediram que seus nomes não fossem revelados porque os planos ainda são confidenciais.

A notícia sobre a criação da nova bolsa virtual, que ainda não tinha sido divulgada, surgiu depois que o banco Goldman Sachs anunciou publicamente sua intenção de criar uma unidade para operar com o bitcoin —provavelmente a primeira desse tipo em um banco de Wall Street.

As decisões do Goldman Sachs e da ICE (Intercontinental Exchange), a empresa que administra a Bolsa de Valores de Nova York, representam uma virada dramática rumo à respeitabilidade para uma moeda digital que era conhecida primordialmente por suas associações com o submundo e status como investimento especulativo e de alto risco.

O novo interesse da parte dos poderosos de Wall Street também representa um capítulo novo e surpreendente na história renegada do bitcoin.

A moeda virtual foi criada depois da crise financeira de 2008, por um programador que ainda se mantém anônimo e usava o pseudônimo Satoshi Nakamoto. A ideia era substituir a estrutura bancária existente por uma alternativa online que não pudesse ser controlada por um punhado de organizações poderosas.

Mas em lugar de serem substituídos, os velhos bancos estão começando a assumir um papel no mundo financeiro heterodoxo das moedas virtuais, também conhecidas como criptomoedas.

Embora o bitcoin tenha sido criado originalmente para uso pelos consumidores em toda espécie de transação —sem o envolvimento de quaisquer instituições financeiras—, tornou-se acima de tudo um investimento virtual, armazenado em carteiras digitais e negociado em mercados no geral desregulamentados, em todo o mundo. As pessoas compram bitcoins na esperança de que seu valor suba, mais ou menos como adquiririam ouro ou prata.

Os detalhes sobre a plataforma na qual a ICE está trabalhando não foram concluídos, e o projeto ainda pode ser abandonado, dada a hesitação entre as grandes instituições de Wall Street quanto a se verem associadas de perto ao oeste selvagem das moedas virtuais. Um porta-voz disse que a empresa não tinha comentários.

Muitas empresas e governos expressaram interesse na tecnologia que o bitcoin introduziu, especialmente em uma forma de banco de dados conhecida como blockchain.

Algumas grandes bolsas financeiras, entre as quais a CME (Bolsa Mercantil de Chicago), já criaram produtos financeiros vinculados ao preço do bitcoin, em forma de contratos futuros. Mas a nova operação da ICE ofereceria acesso mais direto ao bitcoin, depositando a moeda digital diretamente na conta do cliente ao final da transação.

A ICE conversou com outras instituições financeira sobre estabelecer uma nova operação por meio da qual os bancos poderiam comprar um contrato, conhecido como swap, que terminaria com o cliente detendo bitcoins no dia seguinte —mas com o apoio e a segurança oferecidos pela bolsa, de acordo com pessoas informadas sobre o projeto.

O contrato de swap é mais complicado do que uma troca imediata de dólares por bitcoins, ainda que o resultado final venha a ser a posse de certo montante em bitcoins. Mas um contrato de swap permite que a operação seja regulamentada pela Comissão de Transações de Commodities e Futuros (CTFC), a agência regulatória do setor nos Estados Unidos, e que seja conduzida claramente sob as leis existentes - algo que os mercados atuais de bitcoins encontram dificuldades para fazer.

Adena Friedman, a presidente-executiva da bolsa de valores Nasdaq, disse recentemente que sua companhia também criaria uma bolsa de moedas virtuais, se as questões regulatórias forem resolvidas. Embora diversos fundos de hedge estejam comprando e vendendo bitcoins, a maioria dos grandes investidores institucionais, como fundos mútuos e de pensões, evita operar com a moeda, em grande parte como resultado de preocupações regulatórias semelhantes.

O bitcoin continua a ser encarado com bastante ceticismo pelo mundo financeiro mais convencional. No final de semana, o investidor Warren Buffett, do grupo Berkshire Hathaway, que critica há muito tempo as moedas virtuais, disse que o bitcoin provavelmente era "veneno de rato ao quadrado", em entrevista à rede de notícias CNBC. Bill Gates, cofundador da Microsoft, também expressou ceticismo, dizendo que, se pudesse, apostaria contra o bitcoin no mercado.

E os novos esforços para operar com o bitcoin em grandes bolsas não ajudam a responder questões básicas sobre o que torna a moeda virtual útil no mundo real. A maior parte das tentativas de usar o bitcoin no comércio cotidiano não foi adiante, e os investidores o tratam como commodity especulativa, a exemplo do ouro e da prata.

Alguns entusiastas do bitcoin disseram que sua integração crescente ao sistema financeiro existente havia afastado a moeda virtual dos ideais que animaram em sua criação. Paul Chou, antigo operador do Goldman Sachs que criou a LedgerX, uma bolsa regulamentada de bitcoins que poderia concorrer com o novo projeto da ICE, disse que sua empresa fez questão de tomar por foco os grandes detentores de bitcoins, e não as instituições financeiras."O motivo para que decidíssemos entrar no mercado cripto não era buscar parceria com os bancos, mas substitui-los", disse Chou, usando um jargão para se referir às criptomoedas. "Lidamos com os detentores de cripto diretamente, de uma forma que tira vantagem dos pontos fortes do bitcoin, e evitamos corretoras, bancos e outras instituições que abocanham múltiplas comissões com cada transação". 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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