Brasil é aposta número um do mercado mundial de energia elétrica, diz presidente da Engie

Ativos da Eletrobras e da Petrobras estão no foco da Engie, empresa privada que mais gera energia no Brasil

Isabelle Kocher, presidente global da francesa Engie - Ricardo Borges/Folhapress
Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

Principal geradora privada de energia no Brasil, a francesa Engie iniciou há dois anos uma guinada global rumo a um perfil com menos emissões de gases poluentes. Vendeu ativos como usinas a carvão e decidiu focar em renováveis e no desenvolvimento de novas tecnologias.

Parte dos recursos foram gastos com a compra de duas usinas hidrelétricas que eram da Cemig por R$ 3,3 bilhões. E não deve parar por aí: o país, diz a presidente global do grupo, Isabelle Kocher, é o "número um" da companhia em projeções de crescimento.

A empresa disputa a rede de gasodutos das regiões Norte e Nordeste, colocada à venda pela Petrobras, e observa o plano de venda de ativos da Eletrobras. Para o futuro, a aposta é que as novas tecnologias vão permitir que cada vez mais pessoas e empresas gerem sua própria energia.

Kocher lidera uma equipe que tem mulheres também no comando das áreas financeira e de comunicações e defende maior diversidade no mundo empresarial. "É essencial para uma organização espelhar a sociedade na qual ela está inserida", afirma.

 

Neste momento, Eletrobras e Petrobras têm ativos à venda. São oportunidades para o crescimento das operações brasileiras da Engie?

Sim. As usinas da Cemig foram o primeiro passo. E vamos continuar a desenvolver projetos em renováveis, como hidrelétricas, eólica e solar no país. Para a Engie, O Brasil é o terceiro país em termos de tamanho, atrás da França e da Bélgica, mas é o número um em termos de projeções. Nossa ambição é continuar desenvolvendo nossa posição.

Vocês fizeram uma proposta pelos gasodutos da Petrobras?

Sim. Não posso dar detalhes porque estamos no meio do processo, mas espero que em alguns meses possamos ser mais específicos. Gás é uma parte importante do futuro da energia, como substituto de combustíveis mais poluentes. O Brasil é o celeiro do setor de agricultura e tem um grande potencial em termos de biomassa e biogás.

Sua gestão começou com uma proposta de reduzir as emissões de carbono na companhia. Até onde se pode chegar?

As novas tecnologias no campo da energia --que costumo descrever como 3 d's: descarbonização, descentralização e digitalização-- podem realmente mudar a vida das pessoas, garantindo o acesso em qualquer lugar do mundo de forma barata e mais rápida. Decidimos vender 15 bilhões de euros em ativos para reinvestir em renováveis e novas tecnologias. Às vezes as pessoas perguntam: "ok, vocês querem ser um grupo com um alto grau de responsabilidade social, mas qual o custo disto?" Ganhamos lucratividade e conseguimos pagar mais dividendos.

No Brasil, o crescimento das fontes renováveis está concentrado em grandes usinas. Como desenvolver a energia distribuída em um país de baixa renda, onde as pessoas têm restrições para investir?

Hoje é possível equipar residências com sistemas solares eficientes do ponto de vista econômico. No Brasil, considerando o nível de radiação, o investimento é pago em cinco ou seis anos, o que não é muito. Em outros países, podem ser sete ou oito anos. Mas, ainda assim, muitas pessoas não podem pagar. Queremos promover isso como serviço, no qual as pessoas não precisam investir, mas sim pagar uma taxa mensal para ter a instalação. Em muitos países, isso já é feito.

Esse segmento pode um dia ser tão importante quanto os grandes empreendimentos de geração?

Sim. Nossa meta é nos tornarmos uma grande provedora de soluções. Se somos capazes de financiar barragens ou grandes infraestruturas, também somos capazes de financiar soluções locais e distribuídas em grandes prédios, aeroportos ou hospitais.

O futuro da energia será mais individualizado?

Há uma tendência para isso. Primeiro, porque as novas tecnologias são muito eficientes e flexíveis e podem ser implementadas em grande escala e também localmente. Além disso, as pessoas querem tirar valor de seu próprio potencial. Se você tem um telhado, você vai querer tirar valor dele.

A Engie tem muitas mulheres em posições-chave, o que ainda não é muito usual. Como esse exemplo pode ser disseminado?

É essencial para uma organização espelhar a sociedade em que ela está inserida. Do contrário, você tem menos chances de estar certo em suas escolhas. Diversidade, não apenas de gênero, mas cultural, de formação, de idade... Eu realmente tento promover isso internamente, e progressivamente nós vamos ampliando o nível de diversidade. Já avançamos em diversidade de gênero, o que já é um passo. Mas deveríamos chegar à paridade, para sermos um reflexo da sociedade. É apenas o começo.


RAIO-X

Isabelle Kocher, 51

Graduada em engenharia pela Mines Paris Techs, começou a trabalhar na Engie em 2002 e assumiu a presidência em 2016. Já foi assessora de assuntos industriais do primeiro ministro da França, entre 1999 e 2002. Em 2016 e 2017, foi apontada como terceira mulher mais poderosa do mundo pela revista Fortune.

Engie

Maior produtora independente de energia do mundo, a Engie é hoje a maior empresa privada em capacidade de geração no Brasil. A companhia iniciou um processo de reposicionamento em 2016, com a venda de ativos mais poluentes, para focar em energias renováveis e novas tecnologias de geração. Em 2017, a Engie teve receita de 65 bilhões de euros (cerca de R$ 250 bilhões, ao câmbio do fim do ano) e lucro de 1,4 bilhão de euros (R$ 5,4 bilhões). no Brasil, investiu R$ 5,5 bilhões em 2017, fechando o ano com lucro de R$ 2 bilhões

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.