Presidente da Petrobras anuncia redução de 10% no preço do diesel por 15 dias

Expectativa é de que a greve seja suspensa e que governo e caminhoneiros encontrem uma solução

São Paulo e Rio de Janeiro

Em meio ao movimento de protestos de caminhoneiros por todo o país, a Petrobras recuou, ainda que temporariamente, de sua política de preço de combustíveis e decidiu, na noite desta quarta-feira (23), reduzir em 10% o preço do diesel nas refinarias da estatal. 

A Petrobras anunciou que irá interromper por 15 dias sua política de preços, atualmente baseada na cotação internacional do petróleo, enquanto governo Michel Temer e a categoria dos caminhoneiros negociam o fim do movimento. 

A Petrobras cortou em R$ 0,23 o litro do diesel vendido nas suas refinarias. O preço médio no país já a partir da quinta-feira (24) será de R$ 2,1016 por litro. Para o consumidor da bomba, a Petrobras calcula que haverá um corte de até R$ 0,25 o litro. 

Com o corte, a Petrobras terá uma perda de R$ 350 milhões em suas receitas com venda de diesel. O caixa da empresa sofrerá uma perda de R$ 100 milhões. 

A informação foi confirmada na noite desta quarta-feira (23) pelo presidente da estatal, Pedro Parente, em coletiva de imprensa chamada às pressas. 

Parente afirmou que a medida é um sinal de "boa vontade" da empresa, uma espécie de prazo para que governo negocie com os caminhoneiros. 

O presidente da estatal disse  que a mudança foi tomada no âmbito da direção da estatal e não representa qualquer ingerência política do governo federal da companhia. 

Parente assumiu a presidência da Petrobras em maio de 2016 com a missão de recuperar o caixa da empresa, reduzir suas dívidas, vender ativos e desenvolver uma nova política de preços de combustíveis. 

Ele ressaltou à época que a Petrobras teria autonomia para criar e praticar seu próprio modelo. O governo dizia que a Petrobras não faria mais política populista com o preço do combustível, referindo-se ao governo de Dilma Rousseff que congelou reajustes da gasolina e diesel. 

"O preço fica parado para que o governo encaminhe suas negociações. Depois desse prazo, voltamos com a política convencional", disse Parente. 

O presidente da estatal afirmou que a direção levou em conta também as possíveis perdas para a empresa com a paralisação de caminhoneiros. Em caso de as refinarias não conseguirem escoar sua produção, a perda estimada, segundo Parente, seria de R$ 90 milhões. 

"Não é uma solução definitiva. Estamos dando a nossa contribuição, esperando que os transtornos para população possam ser interrompidos", disse ele. 

"Espero que os movimentos [de caminhoneiros] entendam esse gesto", afirmou Parente.

Questionado sobre como fica ao final dos 15 dias a política de preços, que tem como base a cotação internacional do barril de petróleo, Parente garantiu que ela voltará.

"Não vejo nenhum arranhão na nossa autonomia e a nossa liberdade de praticar preços. Não foi uma decisão fácil. Eu tenho horror a dogmas. O momento que o Brasil vive exige pragmatismo. Vou dormir bem esse noite", disse Parente. 

PEDIDO DE TEMER

Pouco antes do anúncio de Parente, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que o presidente Michel Temer havia solicitado à direção da Petrobras que encontrasse uma saída para atender aos pedidos de revisão de preços feitos pelos caminhoneiros.

"Esta política (de preços) deu à Petrobras a condição que ela tem. Agora chegou o momento em que o presidente Michel Temer resolveu fazer com que nós analisássemos de novo o que nós temos que fazer em relação a isso", afirmou o ministro.

Contradizendo Padilha, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) negou que Temer tenha procurado Parente e disse que o governo não interferiu decisão da Petrobras de reduzir o preço do diesel em 10%, por 15 dias.

“Não cabe ao governo fazer uma pressão em relação ao preço cobrado pela Petrobras. Isso poderia até gerar indenizações”, disse Marun.

Padilha disse que, apesar de o governo ter mudado a política da Petrobras, a presidência da estatal é um cargo de confiança do presidente da República, responsável pela indicação. 

"O cargo do ministro Pedro Parente é um cargo de confiança do presidente da República. E, seguramente, o presidente Michel Temer, preocupado que está com a família brasileira saberá como dialogar com o presidente Pedro Parente para a melhor solução para os interesses da Petrobras e da população brasileira. Eu não tenho dúvida disso."

Perguntando se Parente corria risco de demissão, o ministro da Casa Civil respondeu que isso estava fora de cogitação.

A greve dos caminhoneiros começou segunda-feira e gera desabastecimento em vários setores. Nesta quarta-feira, postos de gasolina e aeroportos afirmaram estar começando a sofrer com a falta de combustíveis. 

"Estamos oferecendo à sociedade e aos consumidores a redução, desde que as demais etapas transmitam a redução", disse o presidente da Petrobras.  

Mais cedo, houve reunião entre os grevistas e o governo, porém sem acordos. O presidente Michel Temer disse que pediu uma trégua de três dias, os grevistas porém não aceitaram. Na terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Eliseu Padilha, acordaram a redução do Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico)  sobre o diesel.

NEGOCIAÇÃO

Marun foi à Câmara na noite de quarta-feira negociar com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o relator do projeto de reoneração da folha de pagamento, Orlando Silva (PC do B).

O governo tenta tirar da proposta a redução do PIS/Cofins do óleo diesel. Segundo Marun, isso representaria um impacto de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões até o final deste ano.

“Tem que se estudar no Orçamento de onde vai tirar. A reoneração, por si só, não consegue compensar uma eventual redução a zero, neste momento, do PIS/Cofins”, afirmou Marun na Câmara.
Confira na galeria abaixo os impactos causados até agora pela greve dos caminhoneiros:

 
Talita Fernandes, Lucas Vettorazzo e JULIO WIZIACK
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