Descrição de chapéu Previdência

Maioria vê Previdência no Brasil como sustentável, aponta pesquisa

Mais de 70% dos brasileiros declaram que origem do déficit da Previdência está na corrupção

Anaïs Fernandes
São Paulo

A maioria dos brasileiros avalia que o sistema previdenciário do país poderia perdurar da mesma forma por muitos anos, mas quase metade aceita que a reforma da Previdência seja abordada pelo futuro presidente.

O modelo foi considerado sustentável por 51% dos entrevistados em pesquisa encomendada pela FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada) ao Instituto Ipsos. Foram ouvidas 1.200 pessoas, com idades entre 16 e 60 anos, de 72 municípios durante o mês de abril. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Apenas 28% afirmaram que o sistema previdenciário vigente não se sustentaria ao longo do tempo, enquanto 21% não têm opinião formada sobre o assunto.

Por outro lado, 43% dos entrevistados disseram que uma reforma da Previdência será necessária no futuro e 49% acham que o assunto deve ser tratado pelo futuro presidente.

Para Edson Franco, presidente da FenaPrevi, os dados mostram que há contradições na sociedade a respeito do assunto.

"Parece haver um problema de comunicação. O que as pessoas entendem por sustentabilidade? Ao mesmo tempo, falou-se tanto no tema que uma parcela se convenceu de que é preciso fazer algo", afirma.

Franco ressalta, no entanto, que os brasileiros continuam divididos sobre mudanças na Previdência. "Temos a maior parte das pessoas [43%] acreditando que a reforma é necessária, mas não é uma diferença esmagadora para os 38% que consideram que ela não é", diz.

A maioria das pessoas que entendem que há equilíbrio no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) tem ensino fundamental I ou ensino médio —53% dos entrevistados em cada segmento. Mas a percepção é quase a mesma entre os mais escolarizados: 52% das pessoas com ensino superior compartilharam dessa opinião. Entre aqueles sem nenhum grau de instrução, a porcentagem cai para 30%.

Entrevistados com ensino fundamental I e ensino superior são também os mais resistentes a mudanças na aposentadoria: em cada grau de instrução, 40% acham que uma reforma da Previdência futura não será necessária.

"Há um alto nível de desinformação na sociedade. Falhamos em passar a mensagem adequada ao público. Para 53%, o sistema de previdência pública deve se manter com os próprios recursos. Isso demonstra que as pessoas não entendem o tamanho e a importância do déficit que existe hoje na Previdência", afirma Franco.

A Previdência Social registrou um déficit recorde de R$ 268,8 bilhões em 2017 —considerando o INSS e o regime dos servidores públicos da União —, alta de 18,5% ante o ano anterior.

Só no INSS o déficit foi de R$ 182,5 bilhões —o maior rombo da série histórica, que começa em 1995.

Quase um terço dos entrevistados acha que o INSS deve ser mantido com verbas reservadas para outras áreas do Orçamento. "Dadas as questões demográficas de envelhecimento da população e projeções atuariais futuras, esse gasto da Previdência vai tirar dinheiro da saúde, educação, infraestrutura", diz Franco.

Segundo Jessica Mosher, analista de políticas na Unidade de Previdência Privada da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o principal desafio para sistemas previdenciários em emergentes como o Brasil é o trabalho informal.

"A força de trabalho informal nesses países é muito grande e fica muito difícil que esses trabalhadores sejam cobertos pelos sistemas de Previdência. No Chile e no Peru, tentaram incluir os informais no modelo, mas não tiveram sucesso até o momento", diz Mosher.

Ela observa que o Brasil é um país generoso em sua taxa de reposição de pensões, em 70%. "O melhor caminho é construir uma complementaridade dos sistemas públicos e privados", afirma.

ORIGEM DO ROMBO

Apenas 15% dos entrevistados pela Ipsos apontaram que a origem do rombo na Previdência está no modelo atual das aposentadorias e no envelhecimento da população. Para 75%, o maior problema do INSS é a corrupção e o desvio de verbas. "Acabar com a corrupção vai resolver muitos problemas do país, mas não necessariamente este da Previdência, porque a questão é sobre equilíbrio estrutural", afirma Franco.

Mais da metade das pessoas (51%) afirmaram que querem se aposentar até 64 anos. A proposta do governo para a reforma, no entanto, elevava a idade mínima para 65 anos (homens) e 62 (mulheres). Só dois em cada dez aceitam se aposentar com mais de 65 anos.

E quanto maior o grau de instrução dos entrevistados, maior a resistência: 19% dos indivíduos com ensino fundamental I aceitariam se aposentar aos 65 anos, enquanto esse valor cai para 9% entre pessoas com ensino superior.

"A reforma é em favor da população, mas é impopular, porque efetivamente mexe nos direitos das pessoas" diz Franco.

Apesar de quererem se apontar mais cedo, 43% dos entrevistados disseram que planejam seguir trabalhando após a aposentadoria para garantir o sustento. "As pessoas querem se aposentar cedo, talvez para receber o benefício o quanto antes, mesmo sabendo que terão que continuar trabalhando", avalia Franco. 

O INSS foi apontado como principal fonte de renda na fase de aposentadoria por 76% dos brasileiros --80% das pessoas da classe C (renda média familiar de R$ 2.268,46) declararam que dependem muito ou totalmente da aposentadoria pública.

A pesquisa mostrou ainda que seis em cada dez entrevistados acham necessário ter um plano de previdência complementar, e essa preocupação é maior entre os jovens adultos --63% das pessoas com 25 a 34 anos declararam que esse tipo ser totalmente necessário ou necessário.

"Isso é um sinal positivo, porque quanto antes se começa uma poupança previdenciária, menor será o esforço mensal para formar um fundo suficiente para complementar a renda de aposentadoria futura", diz Franco.

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