A maior abertura do Brasil ao comércio internacional —com redução linear de alíquotas do imposto de importação, como tem sido defendida publicamente por representantes do governo— não se caracteriza como uma solução absolutamente razoável para a inserção do Brasil no livre comércio.
Há décadas temos estudado a questão do desenvolvimento do país e do crescimento da indústria. Em todos os debates, a conclusão é que a questão central não está na simples redução da alíquota em si, mas essencialmente chegar a condições de competição isonômicas.
Para reduzir os custos dos investimentos e aumentar a competitividade da indústria brasileira, além de ampliar o comércio internacional, representantes do governo e alguns economistas defendem sumariamente a maior abertura comercial da economia.
As alternativas seriam a ampliação de acordos bilaterais e multilaterais, a participação mais efetiva na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e no Icsid (Centro Internacional para a Arbitragem de Disputas sobre Investimentos).
Afora isso, como é patente, advogam a simples redução das tarifas alfandegárias. A ideia, com essas medidas, seria reduzir os custos dos investimentos e aumentar a produtividade da indústria brasileira. São soluções simples para problemas complexos.
Nós da Abimaq, que representamos 12% do total das exportações de manufaturados do Brasil, somos a favor da abertura comercial do país. No entanto, não podemos promover uma abertura unilateral de forma ingênua, sem antes cuidarmos para que as condições de competição sejam iguais.
Ter como prioridade a abertura comercial sem antes eliminar as assimetrias será um grande equívoco. A chance de não funcionar é enorme. Por essa razão, defendemos que, antes, o Brasil priorize uma agenda de competitividade, começando pelas reformas previdenciária e tributária —e que esta desonere investimentos e exportações. São necessárias também taxas de juros civilizadas para o capital de giro das empresas e para os investimentos, além de câmbio competitivo e previsível.
Aliás, o Brasil é o único país do mundo que tributa investimentos e que exporta tributos, através dos impostos não recuperáveis na cadeia produtiva. Nunca defendemos políticas protecionistas, mas sim a isonomia na competição com nossos concorrentes internacionais.
Fica evidente que cada um desses itens impacta a competitividade da produção brasileira muito mais do que o imposto de importação —o que, por consequência, torna a proposta do governo sem grande eficiência para o problema em questão.
Aumentar a competitividade da indústria é louvável e tem que ser perseguido, intervindo, primeiramente, nos itens que mais impactam o custo do produto brasileiro. Eliminadas, então, as assimetrias, a redução do imposto de importação, obedecendo à escalada tarifária, trará a resposta almejada pelo governo.
Na verdade, precisamos de um projeto de país, com representantes políticos que pensem nas próximas gerações, deixando um legado em que tenhamos a valorização dos nossos potenciais e, com isso, um crescimento compatível com nossas necessidades, tamanho e importância.
Precisamos, portanto, persistir na implementação das reformas estruturais: previdenciária, tributária e política. Serão elas que vão fazer a diferença e dar à indústria isonomia e condições de novamente investir e contratar, contribuindo para diminuir o desemprego, dando dignidade a um universo ainda superior a 13,7 milhões de pessoas que precisam voltar a trabalhar e contribuir com a construção de um futuro melhor para todos os brasileiros.
João Carlos Marchesan: Uma abertura comercial inteligente
É preciso, antes de tudo, fazer reformas estruturais
sua assinatura pode valer ainda mais
Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!
sua assinatura vale muito
Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?
ASSINE POR R$ 1,90 NO 1º MÊS
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.