Descrição de chapéu indústria

Produção industrial sobe em abril, mas não retoma patamar de 2017

Melhora no desempenho da indústria em abril foi maior do que o esperado

Natália Portinari
São Paulo

A produção industrial do Brasil fechou abril com um resultado acima do esperado, devido ao forte desempenho nos setores de biocombustíveis e automóveis.

No mês, a produção da indústria cresceu 0,8% sobre março, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (5). É o melhor resultado desde dezembro (2,9%) e acima da alta de 0,5% esperada em pesquisa da Reuters com analistas.

Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve aumento de 8,9%, também melhor do que a expectativa de alta de 7,7%. É o resultado mais forte desde abril de 2013, quando houve alta de 9,8%.

"[Abril] foi o primeiro bom resultado de 2018, mas não é suficiente para voltar ao patamar do fim do ano passado", afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo. 

O destaque em abril foi o aumento de 5,2% na produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Segundo o IBGE, as usinas deram preferência pela fabricação do etanol em detrimento do açúcar, o que motivou a alta.

Também ajudou o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, com aumento de 4,7%, terceiro mês consecutivo de ganhos.

Entre as categorias econômicas, a fabricação de consumos duráveis avançou 2,8% no mês, enquanto a de bens de capital —uma medida de investimento— subiu 1,4%.

Ainda assim, é preciso cautela antes de comemorar esses números, afirma Tabi Thuler Santos, pesquisadora da FGV (Fundação Getulio Vargas).

"A comparação com abril do ano passado parece muito mais positiva do que é, porque no ano passado tivemos três dias úteis a menos no mês e o resultado foi muito fraco", diz Santos.

"Além disso, a alta em abril ainda não é suficiente para retomar o nível de produção de dezembro, porque em janeiro a queda foi muito forte. Então é um bom resultado, mas cheio de poréns."

A produção de abril ainda foi 1,3% menor do que estava em dezembro de 2017, considerando o ajuste sazonal.

Sem o ajuste, o índice era de 77,3 de fevereiro e 86,3 em março, e subiu para apenas 86,5 em abril, sinal de arrefecimento, segundo Otto Nogami, professor de economia do Insper.

De acordo com o economista, os valores com o ajuste (que desconta efeitos sazonais, como as safras agrícolas), divulgados pelo governo, podem distorcer a comparação da atividade econômica mês a mês.

"Os ajustes escondem tanto as altas repentinas quanto as quedas mais bruscas", diz. "Comparando apenas com o mês imediatamente anterior, sem ajuste sazonal, vemos um arrefecimento do crescimento em abril. O crescimento de março em relação a fevereiro foi maior."

"É um sinal de algo estranho no ar, que se confirma quando vemos que a produção de bens de capital caiu neste mês."

Ainda assim, a produção vem aumentando em 2018, e a variação acumulada dos 12 meses anteriores chegou a 3,9% em abril, mostrando um cenário de retomada, ainda que lenta.

Atividade econômica

No primeiro trimestre, a indústria cresceu 0,1%, colaborando para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil expandir 0,4% sobre os três meses anteriores.

Mesmo com a inflação e os juros baixos, o cenário no Brasil é de confiança abalada, em um ano de eleição presidencial marcada por incertezas, economia instável, desemprego elevado e, mais recentemente, a greve de caminhoneiros, que trouxe desabastecimento de forma generalizada.

As contas sobre o crescimento da economia deste ano estão sendo reduzidas pelos analistas para em torno de 2%, sobre cerca de 3% esperados até pouco tempo atrás, e há quem fique ainda mais abaixo.

"A greve dos caminhoneiros [em maio] afeta o processo e o ritmo de produção. Ela vai afetar negativamente, mas o tamanho do reflexo ainda não sabemos", diz Macedo, do IBGE.

Com Reuters

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