Publicidade do Sistema S vira vitrine de Skaf, pré-candidato ao governo de SP

Estratégia de exposição do presidente da Fiesp, Sesi-SP e Senai já foi questionada

José Marques
São Paulo

Paulo Skaf aplaudindo show de Ed Motta na avenida Paulista. Paulo Skaf respondendo que "é segredo" ao ser questionado se tem tatuagem. Paulo Skaf mostrando foto de duas das suas quatro cadelas labradoras ("a Palu, a Juju, a Mel e a Lulu").

Em tese, essas não são divulgações pessoais do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pré-candidato a governador pelo MDB, mas são vídeos institucionais do Sesi-SP e do Senai-SP --as seções paulistas do Serviço Social da Indústria e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

As aparições do emedebista nas peças das entidades, que haviam diminuído depois que ele perdeu as eleições de 2014, voltaram a se intensificar em 2017, ano pré-eleitoral.

O padrão é parecido com o de 2013, ano que também precedeu uma candidatura de Skaf. A TV foi inundada por aparições suas em publicidades dos órgãos. Foram gastos, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), R$ 22 milhões com as propagandas naquele ano.

Mantidos com recurso público, o Sesi e o Senai de São Paulo também são presididos por Skaf.

Todos os vídeos do Senai publicados em 2017 em canal institucional no YouTube, por exemplo, são protagonizados por ele --seja inaugurando unidade do serviço em Votuporanga (a 532 km da capital) ou instalando conversores digitais em televisões na favela de Paraisópolis.

Em 2015, aparecia e falava em apenas dois vídeos do Senai. Esse número saltou para 12 em 2017. Já em relação ao Sesi, aumentou de 8 para 24.

A Folha levantou os dados em acessos feitos nos dias 29 e 30 de maio.

No canal do Sesi-SP, o vídeo destacado no topo da página até a quarta (30) é um dos protagonizados por Skaf, de outubro no ano passado. Sua legenda diz: "Na gestão do presidente Paulo Skaf, já foram construídas mais de 100 novas escolas, com o que há de melhor em inovação e qualidade de ensino."

Neste ano, o MDB lançou oficialmente sua pré-candidatura e as publicações cessaram. Em fevereiro, a Procuradoria Regional Eleitoral entrou com um procedimento preparatório contra Skaf.

Caso, de fato, se candidate, o órgão pode entrar com uma ação eleitoral contra ele, se encontrar indícios de irregularidades.

Nas outras duas eleições que Skaf disputou ao governo, em 2010 e 2014, também houve questionamentos a respeito do uso de recursos do chamado "Sistema S" para divulgar sua imagem.

Uma das ações citava levantamento publicado na Folha, em 2013, que apontava que Skaf aparecia mais em espaço publicitário na televisão que o apresentador Rodrigo Faro, da Record, à época no auge --Skaf quase empatava em aparições com Luciano Huck.

Chegaram a ser exibidas, no mesmo dia, inserções do então PMDB e do Senai protagonizadas pelo pré-candidato.

O Sesi e o Senai são consideradas "paraestatais" --sustentadas com dinheiro arrecadado pelo governo por meio de contribuições obrigatórias das empresas sobre suas folhas de pagamento.

O caso de 2014 foi parar no TCU (Tribunal de Contas da União). Na ocasião, ficou decidido que não havia como comprovar irregularidades nas aparições de Skaf nas propagandas.

Mas houve uma ressalva. "Não obstante isso, entendo não ser possível olvidar que o referido gestor, mesmo que de forma acessória, teve sua imagem divulgada de forma favorável, durante todo um ano pré-eleitoral", escreveu o relator, Augusto Sherman Cavalcanti.

Ele determinou que a questão fosse regulamentada com urgência no âmbito das entidades.

Na última pesquisa Datafolha, realizada entre 11 e 13 de abril, Skaf tinha 20% das intenções de voto. Em 2014, ele ficou em segundo lugar nas disputa ao governo, com 21% dos votos válidos. Desde 2004, Skaf comanda a Fiesp, que já mudou seu estatuto duas vezes para que ele continuasse à frente da entidade.

Skaf, Sesi-SP e Senai-SP dizem que peças são institucionais

Outro lado

Procurados, Paulo Skaf, o Sesi-SP e o Senai-SP disseram, por meio de nota, que os vídeos são institucionais.

Segundo as entidades, foram publicados mais de 550 vídeos nos canais entre 2015 e 2017 e, atualmente, 360 ainda estão disponíveis, "a grande maioria sem a presença do presidente Paulo Skaf, outros, com sua participação".

"A comunicação do Sesi e Senai de São Paulo tem natureza institucional. Seu objetivo é informar a sociedade sobre os programas e projetos das entidades e, em especial, a indústria, que as custeia," diz o comunicado, acrescentando que segue regras da própria entidade e do Tribunal de Contas da União.

Questionadas sobre o valor gasto em publicidade em 2017, as entidades não responderam.

"A eventual utilização de imagem de dirigentes e funcionários em campanhas institucionais é sempre aprovada expressamente pelos seus respectivos Conselhos Regionais", informa. "Sempre que o presidente aparece na comunicação, é como porta-voz do Sesi, do Senai e da Indústria que mantém as entidades."

O comunicado ainda diz que já houve ação semelhante contra Skaf em 2014 e a Justiça Eleitoral não encontrou irregularidades.

"Desta vez, confiamos que o desfecho será o mesmo -- pois seguimos as mesmas orientações."

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