Propaganda do Dollynho foi inspirada em Teletubbies, diz dono da Dolly

Empresário diz que não tinha dinheiro para contratar a produção e resolveu fazer tudo em casa

Joana Cunha Rogério Gentile
São Paulo

​Preso durante uma semana no mês passado após ser acusado de deixar de pagar R$ 4 bilhões em impostos, o empresário Laerte Codonho, dono da empresa de refrigerantes Dolly, diz que quer resolver o problema para voltar a fazer o que gosta: o marketing da bebida. 

Codonho, que nega ser devedor dos tributos e diz ter sido vítima de uma armadilha montada pela concorrente Coca-Cola, é o idealizador da famosa propaganda em que o personagem Dollynho --representado por uma garrafa de refrigerante com braços e rosto-- canta os jingles da marca, exaltando a origem nacional da fabricante. 

Foram ele e sua irmã, a cantora Cibele Codonho, que há mais de uma década tiveram a ideia de colocar os próprios filhos do empresário, fantasiados de coelhos, cantando e dançando ao lado de Dollynho em uma propaganda de Páscoa.

O vídeo, que virou hit na internet, chegou a incomodar o Conar (conselho de autorregulação publicitária) e depois foi liberado, é apenas um exemplo de uma série de produções que o empresário criou nos últimos anos aproveitando o talento dos músicos da família. 

“Eu gosto de música, toco, a minha filha canta bem. Meu pai é músico. Meu primeiro dinheiro na vida eu ganhei tocando. Todo mundo que é empresário tem um filho músico. Eu sou o contrário: filho de músico que virou empresário”, diz Codonho. 

Ele revela que suas criações publicitárias são inspiradas na série Teletubbies, sucesso na televisão brasileira no início dos anos 2000 que se notabilizou pela repetição de frases com vozes infantis.  
Irônico, o empresário diz que “não tinha dinheiro” para contratar a produção e resolveu fazer tudo em casa.

“Eu pensei que precisava de um personagem para a Dolly. Todo mundo ficava pagando para ter um personagem da Disney. Eu falei: 'não vou pagar para ninguém. Vou fazer um personagem meu. E, na época, eu via tanto Teletubbies com minha filha, que passei a gostar da repetição. Chega uma hora que você sente falta quando não vê o Tinky Winky’”, afirma.

Além da famosa campanha de Páscoa, Codonho criou vídeos dedicados ao Dia dos Pais e ao Dia das Mães porque diz ter percebido que nunca um anunciante se preocupou em lançar uma música emblemática para as duas datas. 

A princípio, ele afirma que a ideia foi criar um personagem que representaria a mãe do Dollynho, mas desistiu da iniciativa. “Eu falei: 'não! O Dollynho é seu amiguinho. Ele não tem pai e não tem mãe. Ele não concorre com você em nada!”, conta.

Em entrevista concedida à Folha no escritório de seus advogados na tarde de sexta-feira (8), o empresário se mostrou preocupado em não descumprir a determinação judicial de recolhimento domiciliar que o obriga a voltar para casa antes das 19h.

Apesar da pressa, ele cantou trechos dos jingles e ironizou a situação. Disse que sua vida empresarial é tão complexa que ele pretende fazer uma minissérie.

“Mamãe você é amor, mamãe você é minha vida. Eu te ofereço um Dolly, com toda emoção”, cantou Condonho, antes de começar a versão paterna. “Papai você é amor, é meu exemplo na vida, eu te ofereço um Dolly, com toda emoção.”

E depois, o empresário desafiou a reportagem: “Qual é a música da Coca-Cola que você se lembra? A da Dolly todo mundo sabe.” 

Quando foi preso em maio, Codonho chegou à delegacia segurando um papel onde escreveu com caneta vermelha: “preso pela Coca-Cola”. Ele acusa a concorrente multinacional de ter feito um conluio com a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo para prejudicar a Dolly, que seria um grande concorrente. 
Codonho não revela o faturamento da Dolly, mas afirma que a marca tem 30% de participação no mercado na Grande São Paulo. 

As consultorias especializadas Nielsen, Kantar e Euromonitor não confirmam o número citado pelo empresário. A reportagem apurou que ele tem em torno de 1% do mercado de refrigerantes no Brasil e 6% na região metropolitana de São Paulo. 

Procurada, a Coca-Cola nega as acusações feitas por Codonho. “A companhia não tem qualquer envolvimento com os processos judiciais que o empresário enfrenta”, diz a Coca-Cola, em nota.

Procurada, a Procuradoria Geral do Estado afirma que a prisão de Laerte Codonho em 10 de maio foi decretada por decisão judicial, após requerimento do Ministério Público do Estado de São Paulo e que o processo tramita em segredo de Justiça. 
 

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