Telefone fixo desaparece mais rápido de regiões pobres

Corte de gastos de famílias na recessão explica desuso do modelo tradicional

Natália Portinari
São Paulo

Durante a crise econômica, as linhas de telefone fixo caíram em uma velocidade maior nas regiões mais pobres do país, onde o corte de custos dos consumidores foi mais impactante. 

De abril de 2015 ao mesmo mês deste ano, houve queda de 22,5% das linhas fixas no Nordeste, ante apenas 7,7% na região Sul, 4,7% no Centro-Oeste e 12% no Sudeste.

“Quem mantém telefone fixo hoje são as empresas. No residencial, o maior motivo é a inércia de quem não pensou em cancelar”, diz Eduardo Tude, da consultoria Teleco.

“A renda impacta nessa decisão. Com o aperto da crise, o telefone fixo foi um dos primeiros cortes que o pessoal pensou em fazer, especialmente no Norte e Nordeste.”

A queda nas linhas nos últimos três anos foi muito maior entre as concessionárias (13,7%) do que entre autorizadas (6%).

As primeiras são as empresas que ganharam concessões na época da privatização, em 1998, ou seja, principalmente Oi e Telefônica; as segundas incluem outras empresas, como TIM e Claro.

A queda nas autorizadas é mais lenta porque elas não são obrigadas a cumprir metas de universalização de acesso como as concessionárias e podem restringir sua atuação a cidades maiores, onde há mais mercado consumidor.

Telefones antigos coloridos em cima de mostruário
Telefones antigos são vendidos na feira do vão livre do Masp na Avenida Paulista, em São Paulo - Cris Faga - 6.set.15/Folhapress

“Como as concessionárias chegaram antes, elas têm menos clientes com pacotes [com telefone, internet e TV], então há menos incentivo para esses clientes desligarem as linhas”, diz Tude.

Um projeto de lei pleiteado pelo setor de telecomunicações, o PLC 79, permite que as empresas migrem do regime de concessão de telefonia fixa para autorização.

A nova lei desoneraria as teles em até R$ 100 bilhões, segundo estimativa do TCU (Tribunal de Contas da União). A mudança é discutida no Congresso desde 2016 e no momento está parada no Senado. Em 2017, foi questionada pela oposição, em um processo que chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Orelhões enfileirados; apenas um é usado por uma mulher
Orelhões no terminal Itaquera, na capital paulista - Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Por enquanto, a lei obriga as concessionárias a instalar e manter orelhões em locais com mais de cem habitantes.

Apesar do apelo menor, ainda há quem contrate telefone fixo. A base de clientes da Algar, empresa do Triângulo Mineiro, cresceu 12% do primeiro trimestre de 2017 para o deste ano, uma alta impulsionada por cliente corporativo.

“Levamos a fibra óptica até cidades do Sul e do Centro-Oeste e focamos esse tipo de cliente, que tem troncos com mais de uma linha e contrata pacote para a empresa”, diz Marcio Stefan, vice-presidente de operações da Algar.

Segundo a TIM, “o telefone fixo ainda é muito importante para uma parcela significativa da população, mas precisa ser tratado, atualmente, mais como um serviço de valor adicionado do que como um produto essencial”.

Em nota, a Vivo afirma que há um “processo natural de redução da demanda por serviços de voz tradicional”.

Hoje, há 79,3 milhões de linhas fixas no país. Destas, 78% são de concessionárias. A mesma empresa pode atuar como concessionária em uma região e autorizada em outra, como a Telefônica/Vivo, que tem concessão em São Paulo e autorização fora do estado.

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