Mercado não vê centrão como entrave a Alckmin na condução de reformas

Bolsa sobe com força e dólar recua ante real após anúncio de apoio da cúpula ao tucano

Geraldo Alckmin (PSDB) em encontro com mulheres da Fundação Brava, em São Paulo
Geraldo Alckmin (PSDB) em encontro com mulheres da Fundação Brava, em São Paulo - Ciete Silvério
Anaïs Fernandes
São Paulo

A presença de partidos que apresentaram resistência ao projeto de reforma da Previdência do governo Temer no chamado centrão, cuja cúpula decidiu nesta quinta-feira (19) apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial de outubro, não abalou o bom humor dos investidores.

A Bolsa brasileira sobe, enquanto o real lidera valorização ante o dólar entre 31 das principais divisas do mundo.

"A notícia mostra para o mercado que candidatos que não vinham apresentando um programa de reformas estruturantes, um discurso de que o investidor gosta, podem perder força", diz Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, avançava 2,1% por volta do meio-dia, ao patamar de 79 mil pontos que não alcançava desde a penúltima semana de maio. Fechou em alta de 1,42%, com 78.590 pontos.

Pelo mundo, as bolsas europeias caem em meio às ameaças comerciais entre Estados Unidos, Europa e China, enquanto os mercados americanos avançam timidamente.

O dólar comercial recuou 1,87%, cotado a R$ 3,774.​ A moeda americana perde força também pelo mundo depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a política de aumento de juros do banco central do país —sinalizações de taxas mais altas atraem fluxo de capital aos EUA e vice-versa.

Após longo tempo de indefinição, líderes do centrão decidiram apoiar Alckmin, o candidato preferido do mercado, isolando Ciro Gomes (PDT), que é visto por investidores como um nome avesso às reformas que eles avaliam serem essenciais economicamente para o país.

O anúncio oficial do acordo, antecipado pela Folha, só deve ocorrer na próxima quinta (26). Até lá, os comandos de DEM, PP, PR, SD e PRB vão informar as instâncias inferiores de seus partidos e resolver questões de alianças nos estados.

"Teoricamente, é uma turma que poderia gerar desconfiança, mas o mercado demonstra entender que Geraldo Alckmin vai tomar as rédeas do negócio", diz Fabrício Stagliano, analista-chefe da Walpires Corretora.

"Para investidores, uma esquerda ou um centro-esquerda fortes não seriam bons, e Alckmin, com toda a debilidade que tem de expressão e captação, seria o menos ruim. Estrategicamente, é uma ajuda, porque ele vai ganhar mais tempo de TV", afirma Marco Tulli, da Coinvalores. 

Com o apoio do centrão, Alckmin, que tinha sozinho 1 minuto e 18 segundos na propaganda eleitoral na TV (em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos), somará 4 minutos e meio, quase 40% de toda a fatia da disputa. Adversário histórico do PSDB, o PT, que ainda não fechou nenhuma aliança, tem 1 minuto e 34 segundos.

Na avaliação de Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos, a ideologia dos partidos do centrão deve ficar em segundo plano no momento. "Historicamente, não são partidos que demonstram uma questão ideológica tão consistente, variam mais conforme o momento político", afirma.

"A grande arma da candidatura de Alckmin é conseguir ter uma estrutura partidária e uma força política para fazer alianças, o que não vemos hoje claramente em outros candidatos. Ele ainda não ganhou tração e vem demonstrando um desempenho mais fraco do que se esperaria. Essas alianças podem aumentar a capacidade de Alckmin ganhar fôlego nas pesquisas", completa Crespo.

Apesar do ânimo inicial, Stagliano ressalta que o otimismo dos investidores pode ser precipitado. "O mercado tende a ficar bem volátil conforme caminhamos para os 'finalmente' da eleição, as coisas ainda estão bem incertas. Movimentos de euforia, como o de agora, e também de pânico, com quedas fortes, devem acontecer com frequência", afirma.

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