Dólar mantém alta e fecha em R$ 4,06 após divulgação de pesquisa

Mercado digere resultados de pesquisa eleitoral e busca proteção na moeda americana

Anaïs Fernandes
São Paulo

O dólar emendou o sexto pregão de alta e se aproximou de R$ 4,10 nesta quarta-feira (22), ainda refletindo o nervosismo do mercado com o cenário eleitoral que levou o câmbio a romper a barreira de R$ 4 na véspera pela primeira vez em mais de dois anos.

O dólar comercial avançou 044%, para R$ 4,057, maior nível desde 16 de fevereiro de 2016 (R$ 4,071). Na máxima desta quarta, chegou a R$ 4,09. O dólar à vista subiu 2,16%, para R$ 4,0749.

"O mercado ainda não parece ter encontrado um novo patamar de equilíbrio e novas máximas devem ser testadas", escreveu a Guide Investimentos em seu relatório pela manhã.

Investidores digeriam a pesquisa Datafolha divulgada no começo do dia, que mostra o ex-presidente Lula (PT) com 39% das intenções de voto, no primeiro levantamento realizada após os registros das 13 candidaturas ao Palácio do Planalto.  

Na simulação da disputa com Lula, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) mantém estabilidade no seu eleitorado, com 19% no segundo lugar. Aparecem embolados em terceiro Marina Silva (Rede, com 8%), Geraldo Alckmin (PSDB, 6%) e Ciro Gomes (PDT, 5%).

No cenário sem Lula —a condenação em segunda instância enquadra o petista na Lei da Ficha Limpa e deverá provocar sua inabilitação—, Bolsonaro surge à frente da disputa, com 22%.

Marina e Ciro dobram suas intenções de voto, ficando com 16% e 10%, respectivamente. Alckmin também sobe para 9%, empatando na margem com Ciro.

Fernando Haddad (PT), vice de Lula e potencial substituto do ex-presidente em caso de inabilitação de sua candidatura, não tem uma largada muito promissora: apenas 4% das intenções de voto, empatado com o senador Alvaro Dias (Podemos).

Apesar da melhora de Alckmin —candidato preferido pelo mercado por ser visto como um nome mais reformista—,  a potencial transferência de votos de Lula para Haddad é o principal receio do mercado no momento, apontam analistas.

A Rio Bravo Investimentos destaca que, segundo o Datafolha, 31% votariam "com certeza" num candidato indicado por Lula. "Diminui a chance de um segundo turno com pelo menos um candidato centrista com o potencial de transferência de votos de Lula para Haddad e a resiliência dos votos de Bolsonaro", escreveu em relatório.

O Datafolha ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios, de 20 a 21 de agosto. A margem de erro do levantamento, uma parceria da Folha e da TV Globo, é de dois pontos percentuais para mais ou menos. 

Lá fora, o dólar avançou apenas sobre 8 das 31 principais divisas do mundo.

Nos últimos dois dias, os mercados brasileiros se descolaram do exterior e foram fortemente influenciados por pesquisas eleitorais.

Profissionais do mercado destacam que, em grande parte, a pesquisa desta quarta reforça tendências apontadas nos dias anteriores, mas o dólar continua subindo porque, em meio a incertezas, investidores fazem hedge (buscam proteção cambial).

"O dólar não voltou porque investidores usam o mercado para buscar proteção, e está muito mais barato fazer hedge hoje do que já foi", diz Adriano Fontes, da Saga Capital.

BOLSA

Após atingir na terça-feira (21) a mínima em seis semanas, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa brasileira, abriu em baixa, mas inverteu o sinal e fechou em forte alta de 2,29%, a 76.902,30 pontos.   

Das 67 ações que compõem o Ibovespa, apenas duas caíram (Ambev e BB Seguridade).

A Bolsa perdia há três dias, e o nível atingido pelos ativos pode ter atraído um fluxo comprador, apontam operadores. 

Ações do setor financeiro, que foram penalizadas nos últimos pregões, subiram com força. O Banco do Brasil, por exemplo, avançou 2,67%. O cenário eleitoral incerto tem afetado especialmente os papéis de estatais.

Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, destaca ainda o desempenho de ações ligadas ao comércio exterior —como Suzano (+2,20%) e Vale (+3,03%)—, que continuam se beneficiando de um dólar mais forte, e também aquelas relacionadas a commodities.

A Petrobras, por exemplo, subiu 3,56% (preferenciais).​

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