A capacidade de articulação do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) no Congresso definirá a recuperação da nota de crédito da dívida brasileira, de acordo com Lisa Schineller, diretora executiva da agência de classificação de risco Standard & Poor's.
Em conferência para analistas, a especialista apontou a necessidade de reformas que permitam ao país retomar o crescimento e estabilizar a trajetória de crescimento da dívida brasileira, tratando da Previdência e da folha de pagamentos do setor público.
Segundo ela, há pouca margem de manobra no Orçamento brasileiro que permitam inverter a trajetória de crescimento da dívida. Governos anteriores já fizeram cortes nos gastos que podem ser administrados livremente, não havendo alternativa às reformas estruturais.
Schineller lembrou que o governo de Michel Temer (MDB) aprovou uma emenda constitucional criando um teto para o crescimento dos gastos e tentou reformar a Previdência, sem sucesso no Congresso Nacional.
Para a analista, o desafio de Bolsonaro na casa também será grande.
"Ele está longe de ter uma maioria no Congresso. Seu partido tem a segunda maior bancada na Câmara, mas terá de formar coalizões e haverá muita oposição, inclusive do PT [partido com a maior bancada]."
Ela diz que o desafio é antigo, devido à fragmentação partidária brasileira. Não é impossível que Bolsonaro tenha sucesso, mas é possível que seu progresso para aprovar medidas seja lento, afirma.
Segundo ela, usar reservas internacionais para pagar a dívida interna, medida discutida pela equipe de Bolsonaro, não resolve o problema fiscal brasileiro.
Schineller disse ser ainda cedo para avaliar as medidas em discussão pela equipe econômica de Bolsonaro, para que se possa entender o que delas é retórica de campanha e o que, de fato, será executado.
"Não estamos ainda em situação que o presidente tem toda sua equipe no Planalto e temos políticas específicas sendo discutidas no Congresso."
Ela também elogiou a atuação do Banco Central que, apesar de não ser formalmente autônomo, tem demonstrado agir com independência e vem obtendo sucesso na busca por manter a inflação dentro da meta.
Em janeiro, a agência reduziu a nota de Crédito soberano do Brasil de "BB" para "BB-".
Com isso, o rating do país segue sem o selo de bom pagador, mas agora está três degraus abaixo do grau de investimento.
A perspectiva da agência para a nota é estável.
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