Estatais representam rombo de R$ 9,3 bi para os cofres públicos

Levantamento do Tesouro Nacional recomenda redução da dependência dessas empresas

Maeli Prado
Brasília

No ano passado, os gastos da União com empresas estatais superaram as receitas em R$ 9,3 bilhões, mostram dados divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Tesouro Nacional.

De acordo com o Boletim das Participações Societárias da União de 2017, a arrecadação de dividendos e juros sobre capital próprio da União somou R$ 5,5 bilhões no ano passado, uma melhoria em relação ao quadro de 2016, quando essas receitas foram de R$ 2,8 bilhões.

Por outro lado, as subvenções do Tesouro para manter as estatais federais (ou seja, os repasses feitos para o pagamento de despesas de pessoal, investimentos ou custeio dessas empresas) somaram R$ 14,8 bilhões no ano passado. 

"Desde 2012, essa relação [entre receitas e despesas] sempre ficou negativa, com exceção de 2014. Ou seja, os custos das estatais superaram as receitas em todos os anos de 2012 a 2017, com exceção de 2014", afirma o boletim.

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Banco do Brasil, BNDES, Caixa, Eletrobras e Petrobras (foto) respondem por 90% do patrimônio líquido das estatais. - Sergio Moraes/Folhapress

A privatização de estatais como forma de reduzir o rombos das contas públicas é uma das medidas defendidas pelo economista Paulo Guedes, conselheiro do presidente eleito Jair Bolsonaro. Na avaliação da atual equipe econômica, entretanto, a venda de estatais leva tempo e não resolve o problema no longo prazo. 

No boletim divulgado nesta segunda, o Tesouro lembrou que tanto os repasses feitos às estatais quanto as receitas com dividendos estão em crescimento. 

Em 2012, lembra o texto, as subvenções custaram R$ 6,5 bilhões. "O crescimento das subvenções ao longo do tempo supera a inflação do período", afirma o boletim divulgado pelo órgão. 

Para 2018, a expectativa é que a arrecadação com dividendos e juros sobre capital próprio chegue a R$ 7,1 bilhões, confirmando a tendência de alta também pelo lado da receita com as estatais.

"A receita com dividendos respondeu por 0,40% do resultado primário do Tesouro Nacional no ano passado; em 2012, essa proporção havia ficado em 2,62%", afirma o texto.

O boletim lembrou que o grau de dependência das estatais dos recursos da União é elevado.

"Ao todo, para 14 empresas, as subvenções do governo respondem por mais de 80% de sua receita total. Para quatro delas, as subvenções somam 100% de sua receita", afirma o levantamento. 

De acordo com o levantamento, realizado pelo segundo ano consecutivo, a situação do Tesouro Nacional exige a redução dessa dependência. 

"Os benefícios sociais devem ser melhor quantificados e explicitados para possível avaliação da melhor forma de intervenção do setor público", diz o documento. 

ESTATAIS EM NÚMEROS

No final do ano passado, o governo federal possuía participação em 148 estatais controladas direta e indiretamente. São 47 empresas de controle direto, número igual ao do fim de 2016. 

Dentre elas, 20 são sociedades de economia mista, 26 empresas públicas e uma de controle compartilhado. Outras 98 estatais são controladas indiretamente por outras estatais, cinco a menos do que em 2016. 

A União possuía também, em dezembro de 2017, 58 participações minoritárias em empresas, além de cotas em sete fundos de natureza especial e em 14 organismos internacionais. 

De acordo com o boletim, no ano passado 17% das empresas sob controle direto da União atuavam em energia e outras 17% em portos. Em seguida, aparecem bancos e serviços financeiros, com 13%. 

PATRIMÔNIO CONCENTRADO 

O valor das participações da União nas 47 empresas sob controle direto atingiu R$ 260,1 bilhões no ano passado, 13,3% a mais do que em 2016. 

Cinco empresas (Banco do Brasil, BNDES, Caixa, Eletrobras e Petrobras) respondem por 90% do patrimônio líquido das estatais. 

"Por outro lado, nove empresas apresentaram PL [patrimônio líquido] negativo – ou seja, possuíam obrigações superiores a bens e direitos. A Infraero deixou esse grupo em 2017 após um aporte de capital", lembrou o boletim. 

O texto ainda afirma que tudo indica que há espaço para valorização das ações das estatais, "principalmente diante das medidas de melhoria de governança e sustentabilidade".

O boletim apontou que a Infraero e os Correios estão entre as estatais não dependentes em pior situação. 

"[...] Infraero não registra lucro desde 2012, enquanto os Correios voltaram a ter lucro no ano passado com a reversão de provisões para despesas pós-emprego com plano de saúde após quatro anos consecutivos de prejuízo", afirma o texto. 

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