Para Procuradoria, Temer pode responder por prevaricação se retardar nomeação de vices da Caixa

Justiça diz que Planalto ignora pedido de fazer seleção sem interferências políticas

Fábio Fabrini Gustavo Uribe
Brasília

A Procuradoria da República no Distrito Federal avaliará se a decisão de congelar as nomeações de quatro vice-presidentes da Caixa configura prevaricação do presidente Michel Temer e de seus auxiliares, entre eles o chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

A força-tarefa Greenfield —grupo de procuradores responsável por investigar desvios na Caixa – poderá abrir processo contra os dois, caso mantenham até janeiro a postura de barrar a contratação dos executivos, selecionados pelo banco por meio de um processo de recrutamento no mercado.

Uma eventual medida dessa natureza só poderá ser tomada após Temer e Marun deixarem os cargos, pois eles atualmente têm foro especial, devido às funções que exercem.

Outra medida em estudo pela Procuradoria é recomendar que a PWC —empresa que audita as contas da Caixa—  mantenha as ressalvas feitas ao balanço do banco em função de esquemas de corrupção descobertos em sucessivas operações, a partir de 2015.

A restrição impede a Caixa de emitir no exterior bônus perpétuos para reforçar o seu capital de nível 1.

Para a Procuradoria, ao sustar as nomeações, o Palácio do Planalto ignora pedido feito pelos próprios procuradores e pelo Banco Central de fazer seleção profissionalizada de executivos, livre de interferências políticas.

Como noticiou a Folha, o Palácio do Planalto decidiu deixar para o próximo governo a nomeação dos novos vice-presidentes da Caixa.

A medida foi tomada após tratativas com emissários de Jair Bolsonaro (PSL), que pretende, ele próprio, chancelar as indicações.

A informação foi confirmada à reportagem por integrantes do governo e auxiliares do candidato.

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O presidente Michel Temer em discurso na quarta-feira (24), no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

O gesto de Temer para o presidenciável mira a possível negociação de cargos para aliados e a manutenção de programas da atual gestão no futuro.

Ele também sustou a escolha para cargos de comando em agências reguladoras.

Marun foi quem comunicou à equipe econômica a intenção de suspender o processo de sucessão nas vice-presidências da Caixa.

"Ao fim de governo, é ideal que não tenha esse tipo de modificação. Não é hora de fazer mudança. Que o próximo presidente faça essas alterações", disse ele à Folha.

Após a publicação de reportagem a respeito nesta quarta (24), o Planalto negou, em nota, que tenha negociado com a campanha de Bolsonaro congelar as nomeações, mas não informou quando as fará.

A Caixa aprovou este ano um estatuto que prevê a escolha de vice-presidentes no mercado, com base em critérios técnicos e de qualificação profissional, sem a interferência de partidos.

O objetivo é evitar o aparelhamento político dos cargos, o que favoreceu a montagem de esquemas de desvio de recursos na instituição.

Segundo a norma, cabe ao Conselho de Administração do banco definir os nomes, com base no concurso, enviando-os ao presidente da República apenas para a nomeação. A lista de executivos selecionados foi remetida ao Planalto este mês.

Antes da mudança, a tradição era o Palácio do Planalto ratear os cargos de comando entre os partidos da base aliada.

Para a Procuradoria no DF, Temer e Marun podem responder por retardar ato de ofício para dar sequência ao processo de nomeação dos executivos, previsto no estatuto do banco.

A seleção envolveu despesas para a Caixa, com a contratação de uma empresa especializada em buscar talentos no mercado.

Prevaricação, segundo o Código Penal, é o ato de “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

A pena prevista é de detenção de três meses a um ano, além de multa.

Procurado pela Folha, o Palácio do Planalto afirmou que o "processo de seleção será mantido e concluído, administrativamente, no tempo correto e sem interferências externas". Ele não respondeu a perguntas, enviadas pela Folha, se o presidente tem cometido crime de prevaricação e se as nomeações serão feitas ainda neste ano. 

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