Descrição de chapéu Eleições 2018

Com Bolsonaro, MDB, DEM e alas de militares disputam setor de energia

Área que movimento bilhões e sempre serviu de moeda política é estratégica para governo

Taís Hirata
São Paulo

O mercado de energia vive momentos de dúvida e disputa sobre qual será a abordagem dada pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), eleito neste domingo (28), para o setor. 

Além da divisão entre técnicos, representados pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e os militares, que veem a energia como um setor estratégico e de interesse nacional, há rachas mesmo dentro desses grupos. 

Parte dos analistas defende um nome que agrade o Centrão do Congresso Nacional e que possa fazer articulações políticas que beneficiem o mercado. 

Nessa linha, foram sugeridos nomes como os deputados Leonardo Quintão (MDB-MG) e José Carlos Aleluia (DEM-BA), segundo uma pessoa que acompanha as negociações.

Quintão foi um dos principais opositores à privatização de Furnas, subsidiária da Eletrobras. Já Aleluia é relator de um projeto de lei que defende a desestatização da elétrica. Nenhum dos dois conseguiu se reeleger. 

Para um analista do setor, a ascensão de um ministro com esse perfil representaria uma continuidade em relação à atual gestão de Moreira Franco (MDB-RJ), que tem tomado decisões polêmicas entre os técnicos do setor e de viés mais político do que técnico.

Outro grupo defende uma escolha mais técnica e menos política para o cargo. 

Entre os candidatos sugeridos estão os do ex-ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho (DEM-PE), que é bastante elogiado pelos empresários e executivos do setor, ou mesmo um nome mais liberal —uma das sugestões é Eduardo Guardia, atual ministro da Fazenda. 

O nome de Luciano de Castro, professor da Universidade de Iowa convocado pelo economista Paulo Guedes para cuidar da área de energia durante a campanha eleitoral, é visto com simpatia por seu perfil liberal, mas analistas avaliam que ele não tem força política nem conhecimento suficiente das particularidades brasileiras para se gabaritar ao comando do setor.

Além desses dois grupos, há ainda a dúvida se Bolsonaro optará por manter a área de energia sob o comando de um militar. Neste caso, há também duas alas: um segmento que é mais liberal e outro, mais estatizante. 

Ainda não está claro nem mesmo se o ministério de Minas e Energia será integrado à pasta de Transportes, como foi proposto pela equipe de Bolsonaro durante a campanha. Caso essa junção se concretize, a perspectiva é que os militares tenham mais poder sobre o setor. 

A expectativa é que o ministério de Minas e Energia continue sozinho, mas ainda há dúvidas sobre a real influência dos militares no governo do PSL. A desconfiança ficou maior principalmente após declarações de Bolsonaro, que durante a campanha se posicionou contra a privatização total da Eletrobras e da Petrobras.

Essa discussão, porém, ainda é incipiente, e os nomes não passam de especulação, ressalta um analista. 
Para ele, há dúvidas sobre como ficará a participação de estrangeiros e investidores privados no segmento de geração elétrica, considerada estratégica pelos militares. 

No entanto, ele avalia que, de modo geral, a atração de investidores privados no setor deverá continuar.

Uma das propostas da ala militar da equipe do próximo presidente é retomar a construção da usina nuclear de Angra 3, assim como de hidrelétricas. 

Nesta segunda (29), o ministro Moreira Franco criticou o modelo calcado nas usinas hidrelétricas e disse que o setor hídrico "não se olha no espelho" para enxergar suas fragilidades –em referência às secas que têm prejudicado a capacidade de geração de energia das hidrelétricas. 

Hoje, o ministério defende como solução a construção de usinas térmicas a gás natural, com um modelo de contratação regional, que é bastante controverso entre técnicos

Na semana passada, um grupo do setor foi recebido pelo então candidato e apresentou a pauta ligada ao gás natural, que teria sido bem recebida por Bolsonaro. 

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