Privatização não está em questão, diz indicado por Bolsonaro para chefiar Petrobras

Roberto Castello Branco diz que não prevê 'guinada espetacular' com relação à gestão atual

homem caminha em frente à fachada da petrobras
Fachada da Petrobras no Rio de Janeiro - Sergio Moraes/Reuters
Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

Nomeado nesta segunda (19) pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para presidir a Petrobras, o economista Roberto Castello Branco disse que a privatização da companhia “não está em questão” e que pretende reforçar o foco nos investimentos para a exploração e produção de petróleo do pré-sal.

Em entrevista à Folha, Castello Branco defendeu ainda a manutenção da política de preços internacionais dos combustíveis e a redução da presença da estatal no setor de refino, mas disse que não prevê “nenhuma guinada espetacular” com relação à gestão atual.

retrato do executivo
Roberto Castello Branco durante seminário organizado pela Folha sobre o futuro da Amazônia - Reinaldo Canato / Folhapress

“A privatização da companhia não está em questão. Não tenho mandato para pensar nisso”, disse Castello Branco, que já manifestou publicamente defesa de privatização de estatais, incluindo a própria Petrobras.

Ele não descartou, porém, a saída de áreas hoje consideradas estratégicas, como a distribuição de combustíveis.

Em entrevista nesta segunda, Bolsonaro repetiu que a Petrobras pode ser privatizada “em partes”, mas disse não ser inflexível a opiniões de sua área econômica. Castello Branco foi indicado pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e deve se encontrar com o presidente eleito nesta terça (20), em Brasília.

O futuro presidente da Petrobras disse que o foco atual, de concentrar esforços na produção do pré-sal, “não só será mantido mas reforçado”. “Precisamos aproveitar essa riqueza enquanto há tempo. Em algumas décadas, o petróleo perderá a relevância que tem hoje”, argumentou. A área de exploração e produção, diz, é “o coração da empresa”.

Castello Branco não quis adiantar medidas, alegando que “ainda não passou na porta da Petrobras”, mas sinalizou que os planos de vender refinarias serão mantidos. Ele argumenta que a competição no refino é positiva para o consumidor, inclusive quando se trata de preços dos combustíveis.

“O que está sendo feito [a política de preços alinhados às cotações internacionais] é a coisa certa. Inclusive, os preços no Brasil estão dentro da média mundial”, disse. “O que está errado é uma única empresa controlar 98% da capacidade de refino do país”.

“O fato de ter um único agente no mercado permite que algumas pessoas exerçam o monopólio”, argumentou, citando os períodos de preços defasados nos governos petistas, que geraram prejuízos à estatal e ao setor de etanol. “É melhor que o preço [dos combustíveis] seja determinado por condições de mercado.”

 

A Petrobras abriu processo de venda de fatias de 60% em dois polos de refino no país, cada um com duas refinarias, dutos e terminais. As negociações, porém, foram suspensas após liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) que condicionou a venda de fatias majoritárias em estatais ou subsidiárias a aprovação do Congresso.

Castello Branco disse acreditar que a questão será resolvida na Justiça, liberando a estatal para vender as refinarias. Ele não adiantou, porém, se o modelo de venda atual será mantido no governo Bolsonaro.

Sobre uma possível privatização da BR Distribuidora, disse que ainda não há decisão, mas alegou que há casos de empresas petroleiras internacionais que não possuem distribuidoras de combustíveis. Em 2017, a Petrobras vendeu 28,75% das ações da empresa por R$ 5 bilhões, mas manteve o controle.

O novo presidente da Petrobras evitou também adiantar informações sobre a composição de sua equipe, limitando-se a dizer que “a Petrobras tem quadros muito bons”. 

“Continuaremos a orientar a empresa a gerar valor para os acionistas, lembrando que o maior acionista é o povo brasileiro”, afirmou.

Castello Branco foi membro do conselho de administração da estatal em 2015 e renunciou por divergências com a gestão Aldemir Bendine - que foi nomeado por Dilma Rousseff para resolver a crise da estatal e em 2017 foi preso pela Operação Lava Jato.

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