Mulher de diretor da Nissan preso diz que ele sofreu golpe da diretoria

Greg Kelly foi preso no Japão com ex-presidente da montadora, Carlos Ghosn

Chester Dawson

A mulher de Greg Kelly, diretor da Nissan Motor Co. preso no Japão com seu ex-presidente, Carlos Ghosn, disse que o marido foi vítima de um golpe da diretoria e foi atraído a Tóquio apesar de ter uma cirurgia marcada nos Estados Unidos.

Donna "Dee" Kelly, em seu primeiro comentário público desde a prisão do marido, em 19 de novembro, fez a mais veemente contestação até agora das acusações contra ele e criticou o tratamento dado a Kelly pelas autoridades japonesas de detenção.

Em uma declaração em vídeo fornecida a "The Wall Street Journal" pelo advogado americano de Greg Kelly, sua mulher disse que ele foi apanhado em um complô pelo executivo-chefe da Nissan, Hiroto Saikawa, para tomar o controle da fabricante de carros japonesa de Carlos Ghosn, que foi deposto no mês passado após ser preso por supostos desvios financeiros. 

"Greg foi acusado por engano, como parte de uma tomada de poder de vários executivos da Nissan chefiados pelo atual CEO, Saikawa", disse ela no vídeo. 

Um porta-voz da Nissan disse: "A causa desta série de eventos é a má conduta adotada por Ghosn e Kelly". E acrescentou: "Durante a investigação internacional dessa má conduta, a Promotoria do Japão iniciou sua própria investigação e tomou medidas".

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O executivo Greg Kelly foi preso no Japão com o ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn - AP


 

Donna Kelly disse que seu marido, de 62 anos, sofre de um problema na coluna que precisa de cuidados imediatos e quer que os promotores japoneses o libertem para que possa ser operado nos EUA antes que sua condição cause danos permanentes. 

O gabinete da promotoria em Tóquio disse que Kelly está recebendo tratamento adequado na detenção e não quis comentar mais. 
 

Ghosn e Kelly foram acusados neste mês pela promotoria japonesa de declarar um valor menor dos honorários de Ghosn nos registros financeiros da Nissan. Uma pessoa inteirada da defesa jurídica de Ghosn disse que ele afirma sua inocência. 

A Nissan rapidamente cortou laços com Ghosn, aumentando as tensões com a parceira estratégica Renault, que tem participação de 43,4% na fabricante japonesa.

No início desta semana, Saikawa rejeitou um pedido do vice-CEO da Renault, Thierry Bolloré, para convocar uma reunião de acionistas antecipada, dizendo que a Nissan precisa de vários meses para encontrar maneiras de melhorar sua governança.

Kelly, que era um dos três principais membros da diretoria da Nissan, foi detido depois de voar para o Japão dos EUA, para onde havia voltado em 2015 depois de abandonar a maior parte de seus deveres operacionais na companhia. 

"Greg e Ghosn acreditam plenamente que não infringiram a lei", disse a mulher de Kelly no vídeo. Ela afirmou que teria mais a declarar nos próximos dias, mas não deu pistas. "A verdade disto tudo virá à tona", declarou.

A Nissan se recusou a disponibilizar Saikawa para fazer comentários. 

Kelly foi um dos poucos cidadãos americanos a ocupar um papel de liderança sênior em uma companhia chefiada principalmente por executivos europeus e japoneses. Ele também foi o primeiro e único americano a se tornar diretor sênior no conselho da Nissan quando entrou na companhia em 2012.

Conhecido dentro da empresa como um firme aliado de Ghosn e um resolvedor de problemas nos bastidores, Kelly ocupava o cargo de CEO e recursos humanos em 2010, quando entraram em vigor novas regras de honorários aos executivos. Os promotores afirmam que depois disso Ghosn e Kelly levaram a Nissan a omitir legalmente cerca de US$ 44 milhões em honorários de Ghosn nas declarações financeiras da companhia durante cinco anos.

Donna Kelly disse que seu marido, que é advogado, tinha de resolver questões jurídicas complexas da companhia como parte de seu trabalho e contava com fontes internas e externas para ajudá-lo. 

Antes de ser preso, Ghosn pretendia convocar uma reunião de diretoria para reorganizar a administração da companhia —incluindo a remoção de Saikawa como CEO e a reinstalação de Kelly em uma posição administrativa, segundo pessoas inteiradas dos planos.

Kelly geralmente participava das reuniões de diretoria da Nissan por telefone. Mas segundo sua mulher o executivo da empresa Hari Nada disse a Greg que ele era necessário no Japão e o convenceu a participar da reunião pessoalmente, arranjando para que um jato da companhia o levasse de Nashville (Tennessee) até Tóquio. 

Donna Kelly disse que o marido relutou em viajar, por causa da saúde e de uma cirurgia marcada para o início de dezembro. Ele sofre de estenose espinhal, uma compressão dos espaços na medula espinhal, que o faz experimentar amortecimento e dores nas extremidades, segundo ela.

A Nissan não quis comentar os fatos que levaram à prisão de Kelly.

Desde que Kelly foi preso em Tóquio, seu advogado japonês disse que sua saúde se deteriorou, em parte porque ele dormiu em um "futon" no chão e sem um travesseiro especial, segundo Donna. O médico americano de Kelly disse que os sintomas poderão se tornar permanentes se ele não fizer a cirurgia, segundo ela. 

"Estamos pedindo que os promotores liberem Greg e permitam que ele receba o tratamento de que precisa", disse Donna Kelly, que está nos EUA. "Com o Natal a menos de dez dias, meu desejo de Natal seria que Greg estivesse em casa com sua família, recuperando-se da cirurgia."


Os promotores receberam aprovação do tribunal para deter Ghosn e Kelly sem a possibilidade de fiança até quinta-feira (20), e eles podem pedir uma prorrogação desse período por dez dias. Depois disso --supondo que os promotores não apresentem novas suspeitas--, os réus poderiam requerer liberdade sob fiança, mas em casos semelhantes os tribunais a recusaram.

As autoridades japonesas disseram que pedirão a um médico para examinar Kelly para confirmar seu diagnóstico e a necessidade de cirurgia, disse a mulher do executivo. Kelly não pôde falar com a família pessoalmente ou por telefone, nem receber cartas de amigos e familiares, disse ela. 

Um porta-voz do centro de detenção em Tóquio não quis comentar. Um porta-voz do Ministério da Justiça, falando geralmente sobre detidos, disse que poderá levar algum tempo para que artigos da família sejam entregues se a condição do detido não for de risco de morte. 

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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