Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Paulo Guedes acena à indústria com manutenção de programa

Brasil Mais Produtivo investe em gestão nas fábricas e custou R$ 56 milhões

Mariana Carneiro
Brasília

Um dos mais recentes programas de política industrial criados pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o Brasil Mais Produtivo deve continuar no governo Jair Bolsonaro (PSL).

Esse é um primeiro aceno que o novo governo faz ao setor industrial, que não foi atendido no pleito de manter uma interlocução exclusiva na Esplanada dos Ministérios.

A tentativa de criar uma pasta da Produção e do Emprego, fundindo Mdic e Trabalho, naufragou logo nos primeiros dias após a eleição.

As entidades que representam o setor também têm, entre as preocupações, a perda dos recursos do Sistema S (recolhido como parte dos tributos pagos pelas empresas), a interrupção de outros programas de política industrial e, ainda, ficar sem os incentivos tributários.

No novo governo, a pasta será fundida à Fazenda e ao Planejamento, formando o novo Ministério da Economia. Suas atribuições ficarão sob o comando do economista Carlos da Costa, ex-diretor do BNDES, que será secretário-geral de Produtividade e Competitividade.

A escola liberal do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e de boa parte de seus assessores é conceitualmente contrária a programas que atendam a um setor específico e defende medidas que ajam de forma horizontal sobre toda a economia.

O Brasil Mais Produtivo, no entanto, tem a simpatia de economistas ligados a Guedes, que afirmam que ele provavelmente será mantido na próxima gestão.

Um dos fatores observados é o custo baixo. O programa-piloto, que durou dois anos e atendeu 3.000 empresas, custou R$ 56 milhões.

Para ter uma comparação, o programa voltado à indústria automotiva, o Rota 2030, consumirá R$ 2,1 bilhões em 2019 e R$ 1,5 bilhão por ano durante a vigência do programa.

Estudos encomendados pelo Mdic ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e à Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) mostram que houve ganho de produtividade de 52% nas empresas contempladas pelo programa.

O projeto investe recursos na melhoria da gestão das fábricas, evitando problemas como a superprodução e a perda de tempo entre os processos produtivos.

"Temos o desejo de que o próximo governo possa atender pelo menos o dobro de empresas, ou seja, 6.000 empresas, já no próximo ano", afirmou à Folha o atual ministro, Marcos Jorge (Mdic). Para ele, o programa teve "resultado expressivo".

Apesar do aceno, a indústria ainda demonstra preocupação com a perda de interlocução no governo Bolsonaro.

Mesmo com o diálogo aberto com Carlos da Costa, empresários já disseram que esperam ter acesso direto ao chefe da área econômica para levar pleitos do setor.

Em encontro no Rio, há alguns dias, uma coalizão de dez entidades, entre elas a Anfavea (montadoras), o Instituto Aço Brasil (siderúrgicas) e a Abimaq (máquinas e equipamentos), apresentou estudo a Guedes com contra-argumentos a uma abertura comercial mais ampla, como prometida pelo economista.

As entidades alegam que países com setores produtivos mais complexos, como Brasil e EUA, têm um pequeno grau de inserção de produtos importados em seus mercados.

"Os países mais abertos são aqueles que têm economias menores e menos complexas, como Malta e Luxemburgo", disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.


O que é o programa Brasil Mais Produtivo

Gestão Investe recursos na melhoria da gestão das fábricas, evitando problemas como a superprodução e a perda de tempo entre os processos produtivos

3.000  Empresas beneficiadas

R$ 56 mi é quanto foi gasto no programa

52% foi o ganho de produtividade nas empresas contempladas pelo programa, segundo estudos encomendados pelo Mdic ao Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada) e à Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe)

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