Descrição de chapéu Financial Times

Associação de MBAs defende prazo de validade para diplomas de alunos

Estudantes precisariam renovar seu aprendizado a fim de manter sua qualificação

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Financial Times

Quando a Association of MBAs (Amba), organização fiscalizadora dos cursos de pós-graduação em gestão, credencia o programa de MBA de uma escola de administração de empresas, a validade máxima do credenciamento é de cinco anos. Mas o diploma que uma dessas escolas confere vale para o resto da vida.

Isso não faz sentido, de acordo com Bodo Schlegemilch, que é presidente da Amba e professor de gestão e marketing internacional na Escola de Economia e Administração de Empresas de Viena. Ele está envolvido tanto na avaliação das escolas quanto na formação de estudantes em cursos de MBA.

"Existe um bom motivo para que o credenciamento das escolas não seja permanente: a educação para os negócios muda a intervalos de alguns anos", ele diz. "Acreditamos, [na Amba], que as escolas de negócios precisem mudar seu modelo de negócios".

Schlegemilch quer um novo modelo de negócios para o MBA, no qual o diploma é "alugado" e não adquirido pelo estudante.

Modelos de negócios que operam por assinatura, como clubes de carros e serviços de streaming de música, fizeram de alugar coisas que no passado costumávamos possuir uma escolha inteligente e simples, disse Schlegemilch. Não seria necessário um grande salto para aplicar essa lógica a diplomas.

O custo dos cursos poderia ser redefinido na forma de uma assinatura paga por um período fixo depois de sua conclusão; mais adiante, os estudantes precisariam renovar seu aprendizado a fim de manter sua qualificação. "A menos que o detentor do MBA demonstre o compromisso de levar adiante seu desenvolvimento profissional, seu diploma expirará", diz Schlegemilch.

A maior barreira é convencer os conselhos das escolas de administração de empresas a adotar uma mudança radical como essa, ele diz. "Considero o setor de educação em geral como conservador demais, e obcecado com realizações passadas".

Schlegemilch não está sozinho em querer que os detentores de MBAs renovem seu aprendizado para se manterem relevantes. Alguns dirigentes de escolas de administração de empresas já vêm pensando dessa maneira.

Dois anos e meio atrás, a escola Ross de administração de empresas, na Universidade do Michigan, começou a oferecer a ex-alunos e aos 400 estudantes formados pelo seu programa de MBA a cada ano acesso vitalício e gratuito a tudo que existir no currículo da escola. Isso permite que eles retornem ao campus para estudar, ou que façam cursos online.

Centenas de alunos aceitaram o convite, apesar de ele estar disponível para milhares de pessoas, de acordo com Scott DeRue, o diretor da escola.

Para encorajar as adesões, a escola criou novos cursos online, dirigidos às necessidades das pessoas no período imediatamente posterior ao seu retorno ao mercado de trabalho, depois de obterem um MBA.

Os inscritos iniciais mais entusiásticos quanto aos programas de acesso vitalício são pessoas com menos de 15 anos de experiência de trabalho. Trata-se de pessoas interessadas em obter conhecimento sobre novos conceitos, como inteligência artificial e análise de dados, de acordo com DeRue.

"Criar um programa mais flexível para o aprendizado foi a parte fácil", ele diz. "A parte difícil é mudar a mentalidade dos alunos e ex-alunos para que vejam a escola de administração de empresas como um lugar onde poderão obter desenvolvimento profissional ao longo de toda uma vida ou de toda uma carreira".

A pressão por mudança não é tão grande em escolas prestigiosas como a Ross quanto nas centenas de programas de MBA que não aparecem em rankings de educação, como o compilado pelo Financial Times, disse DeRue.

Mesmo assim, a Ross esteve entre as muitas escolas de administração de empresas dos Estados Unidos que registraram queda de matrículas este ano. No ano letivo de 2017-2018, as matrículas da escola caíram em 8,5%. Mas o número de inscritos ainda assim foi 30% mais alto do que há cinco anos, apontou DeRue.

"Todas as escolas de administração de empresas, independentemente de sua posição no ranking ou no mercado, precisam garantir que sua relevância e valor cresçam", ele diz. "Mas para algumas escolas, isso será necessário para garantir a sobrevivência".

Uma maneira mais demorada de conduzir um processo de aprendizado contínuo é fazer mais de um MBA. Tulsi Parida, 27, que era professora de segundo grau, tomou esse caminho. Ela já tem dois mestrados, além de sua graduação inicial pela Universidade Northwestern, e agora está se preparando para um terceiro —um MBA pela Saïd Business School, na Universidade de Oxford.

"Depois de fazer meu primeiro mestrado [em pedagogia], não imaginei que faria outro", ela diz. "Mas nunca diga nunca".

A expectativa de vida mais longa e o avanço no número de pessoas que optam por segundas carreiras criará mais demanda por esses processos de aprendizado contínuo, de acordo com Peter Tufano, o diretor da escola de administração de empresas de Oxford. A maioria das pessoas não fará múltiplos mestrados, ao contrário de Parida, mas o plano oferecido por Tufano, que ele define como "MBA um plus", é que os formandos no programa de MBA de um ano da escola sigam seu diploma com uma série de cursos posteriores, enquanto trabalham, o que manteria seus conhecimentos atualizados pelos 10 anos seguintes de suas carreiras.

Ele acredita que isso possa ser oferecido por preço semelhante ao de um programa de MBA de dois anos —o curso mais comum nas escolas americanas de administração de empresas.

Mas ele acredita que as escolas terão de ir além, no futuro, desenvolvendo estruturas pra apoiar o aprendizado nos anos posteriores à obtenção de um MBA por um aluno.

"Todo dirigente de instituição de ensino que valha o que come já pensou em aprendizado contínuo", ele disse. "Todos precisamos atualizar nossos conhecimentos".

Parida espera que suas novas qualificações a ajudem a mudar de papel e encontrar um trabalho que envolva investimento em startups de educação que tenham impacto social benéfico. Por enquanto, porém, seu foco é "aprender fazendo" —por meio de um emprego de tempo integral.

Alunos de MBA na Cornell University
Alunos de MBA na Cornell University - Heather Ainsworth/The New York Times


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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