Fundador da Huawei rompe silêncio e descarta acusações de espionagem

Além de espionagem, empresa de telecomunicações é acusada de violar sanções dos EUA ao vender ao Irã

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Yuan Yang
Shenzhen | Financial Times

Ren Zhengfei, fundador da Huawei, rebateu afirmações de que sua empresa é usada pelo governo chinês para espionagem, usando um raro encontro com a mídia para defender o grupo de telecomunicações, depois da prisão de sua filha no Canadá, no mês passado.

Ren falou a jornalistas em Shenzhen na terça-feira (14). Meng Wanzhou, sua filha e vice-presidente de finanças da Huawei, foi detida em Vancouver em dezembro por conta de um pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos.

Mulher usa seu celular em frente à loja da Huawei em Pequim, na China
Mulher usa seu celular em frente à loja da Huawei em Pequim, na China - Thomas Peter/Reuters

A Huawei foi acusada de violar sanções ao vender ao Irã equipamentos de telecomunicações com componentes fabricados nos Estados Unidos.

Ren, antigo oficial do exército chinês e um empresário que prefere a reclusão, disse que a Huawei "jamais recebeu qualquer pedido, de qualquer governo, para fornecer informações inapropriadas", e que sentia "muita falta" de sua filha.

"Ainda amo meu país. Apoio o Partido Comunista, mas jamais faria qualquer coisa que prejudicasse qualquer pais do planeta", ele disse, ecoando sua rejeição anterior de afirmações de que a Huawei está envolvida em espionagem.

A detenção de Meng aconteceu ante um pano de fundo de preocupação internacional exacerbada sobre as supostas conexões entre a Huawei e o governo da China, e de ansiedade americana, em termos mais amplos, quanto às capacidades tecnológicas chinesas, que estão em ascensão.

Diversos países, entre os quais Reino Unido, Austrália e Estados Unidos, apertaram a fiscalização sobre a companhia, e em alguns casos proibiram seu envolvimento na criação redes de telecomunicação 5G de próxima geração.

Na semana passada, um executivo da Huawei foi detido na Polônia por acusações de espionar para o serviço secreto chinês. A Huawei demitiu o empregado, posteriormente.

Em uma tentativa de aproximação com Donald Trump, que disse que estaria disposto a intervir no caso de Meng para conseguir um acordo comercial com a China, Ren descreveu o presidente americano como "ótimo" e apontou que seus cortes de impostos haviam beneficiado a indústria dos Estados Unidos.

"A mensagem que quero comunicar aos Estados Unidos é: colaboração e sucesso compartilhado. No nosso mundo de alta tecnologia, é cada vez mais impossível que uma única companhia ou país sustente ou satisfaça as necessidades do planeta", disse Ren.

Em resposta aos temores quanto à segurança dos equipamentos da Huawei, Ren disse que "nenhuma lei na China requer que uma empresa instale portas dos fundos compulsórias" [para acesso das autoridades aos seus equipamentos eletrônicos].

Ele acrescentou que a empresa "nunca teve incidentes de segurança sérios".

Ren também minimizou os riscos para a Huawei de se ver bloqueada no lançamento de redes 5G em alguns países.

"Esse sempre foi o caso: não se pode trabalhar com todo mundo... mudaremos de foco para atender melhor os países que recebem bem a Huawei", ele disse, acrescentando que a empresa tem 30 contratos em todo o mundo para construir redes 5G.

Para tentar esclarecer um pouco a opaca estrutura de propriedade da Huawei, Ren disse deter 1,14% das ações da empresa.

A Huawei afirma que é controlada pelos trabalhadores da empresa. A detenção de Meng causou reações severas em Pequim.

As autoridades chinesas detiveram pelo menos dois cidadãos canadenses e esta semana um tribunal chinês condenou à morte um cidadão canadense acusado de tráfico de drogas, alterando uma sentença anterior de 15 anos de prisão.

Ren afirmou que o ataque de hackers chineses aos computadores da União Africana, revelado no ano passado, "nada teve a ver com a Huawei". 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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