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Disputa entre gigantes

Prisão de executiva adiciona um novo abalo às já esgarçadas relações entre EUA e China

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Meng Wanzhou, filha do fundador da Huawei, Ren Zhenfei, durante participação em fórum em Moscou, em 2014
Meng Wanzhou, filha do fundador da Huawei, Ren Zhenfei, durante participação em fórum em Moscou, em 2014 - Alexander Bibik - 2.out.14/Reuters

A delicada trégua entre Estados Unidos e China —acordada ao final de uma reunião do G20 para suspender por 90 dias a adoção de novas sanções comerciais de lado a lado— foi logo posta à prova pela surpreendente prisão de uma alta executiva do país asiático.

Cercada de simbolismo, a ação adiciona um novo abalo às já esgarçadas relações entre as duas potências. Meng Wanzhou, detida no Canadá a pedido de autoridades americanas, ocupa o cargo de diretora financeira da empresa de tecnologia Huawei, com base em suspeitas de transações irregulares com o Irã. 

A companhia é uma campeã do setor, que fatura cerca de US$ 100 bilhões ao ano e rivaliza com as melhores do Ocidente na produção de equipamentos de comunicações. 

A executiva, além disso, é filha do fundador da Huawei, Ren Zhenfei, um ex-oficial do Exército de Libertação Popular da China —e, segundo a visão do lado ocidental, próximo demais do regime comunista. 

Por essas razões, os Estados Unidos há anos baniram o uso de produtos da companhia chinesa por suas empresas de telecomunicações. Agora pressionam seus aliados a fazer o mesmo, passo já dado por Austrália e Nova Zelândia. 

Tais restrições devem aumentar conforme se aproxima a adoção da tecnologia 5G, que moverá a chamada internet das coisas (disponível em objetos). Para os órgãos de inteligência ocidentais, haveria risco de espionagem e mesmo de ataques cibernéticos chineses a partir dessas plataformas. 

Trata-se também, está claro, de uma disputa dos dois gigantes pela primazia tecnológica, que vai além da questão das tarifas comerciais. 

Ainda que a detenção da executiva possa ser uma ação independente, a coincidência não deixa de gerar suspeitas do ponto de vista asiático. Ao chamar o embaixador americano para consultas e exigir a libertação de sua cidadã, a China reagiu com firmeza, mas não parece intencionar uma escalada de represálias, por enquanto.

Tudo isso ocorre num momento de fragilidade da economia mundial. As evidências de desaceleração são cada vez mais claras em todas as regiões —daí a indicação do banco central americano de que será mais contido nas altas de juros. 

Quanto à China, que também vem perdendo ritmo, uma guerra comercial de grandes proporções, que poderia significar a cobrança de tarifas sobre todas as suas vendas, seria difícil de suportar.

editoriais@grupofolha.com.br

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