Para gestores de fundos, Bolsonaro recupera grau de investimento do Brasil

Pesquisa do Bank of America é feita com com investidores que têm quase US$ 100 bi sob gestão

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Nova York e São Paulo

A confiança dos investidores de que o presidente Jair Bolsonaro conseguirá reverter a crise fiscal do país é tamanha que 2 em cada 3 gestores de fundos que aplicam em América Latina acreditam que o Brasil volta a ter o selo de bom pagador já neste governo.

É o que mostra uma pesquisa do Bank of America com 34 investidores institucionais e clientes do banco que somam US$ 93 bilhões em ativos sob gestão. A sondagem foi feita entre os dias 4 e 9 de janeiro.

Questionados se o Brasil retomaria o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco, 85% dos consultados responderam que sim. 

Quando? Dois em três disseram que durante o governo Bolsonaro. Outros 18% acham que será em 2023. Só 6% responderam que o selo não virá num futuro próximo.

A derrocada da confiança das agências de risco na situação fiscal brasileira começou em setembro de 2015, quando a S&P retirou o selo de bom pagador do país. Em dezembro daquele ano, a Fitch rebaixou a nota brasileira; em fevereiro de 2016, foi a vez da Moody's.

Hoje, o país está a dois degraus de retomar a chancela na Moody's (Ba2). Na Fitch (BB-) e na S&P (BB-), está a três níveis. Nas três, a perspectiva é estável, o que indica poucas chances de mudança. Antes de elevar as notas, as agências costumam melhorar a perspectiva para positiva, mas não é incomum que isso aconteça com panorama estável.

Boa parte do otimismo dos gestores está na confiança de aprovação da reforma da Previdência, medida considerada essencial pelo mercado para devolver sustentabilidade financeira ao Brasil. Para 91% dos consultados pelo banco, as mudanças serão aprovadas neste ano —32% acreditam que nos primeiros seis meses.

A equipe de análise da Oxford Economics é uma das que acredita que neste ano as coisas já começam a melhorar para o país nas agências, com a condição de que o país consiga avançar na redução do déficit fiscal.

O Brasil, que parece estar desfrutando de uma lua de mel com os investidores em 2019, é destacado como candidato para uma ação de rating positiva neste ano, acompanhando um ajuste externo impressionante e desalavancagem do setor privado em 2015-18”, escreveu a casa, em relatório assinado pelo economista James Watson, por Marcos Casarin, economista-chefe para América Latina, e Evghenia Sleptsova, economista sênior para mercados emergentes.  

Segundo eles, apesar do peso do elevado endividamento interno, o Brasil conseguiu conter os desequilíbrios externos.

A Oxford Economics adverte, porém, que para que a ação se materialize, Bolsonaro não pode entregar menos do que o prometido em sua agenda de reforma econômica.

O governo ainda precisa convencer o mercado de que vai agir para reduzir o déficit fiscal brasileiro.

“Se o novo governo brasileiro puder fazer um movimento mais decisivo na direção de disciplina fiscal, como aprovar a reforma neste ano, nós podemos ver ações de rating positivas na maior economia da América latina em 2019”, indica o relatório.

Para Tony Volpon, economista-chefe do banco UBS, uma previsão otimista não incluiria a retomada do grau de investimento do Brasil ao menos nos próximos cinco anos. 

"Não vejo isso acontecendo até ser estabilizado por alguns anos um patamar de queda da dívida bruta", ele afirma.

Pelas projeções da equipe do UBS, o endividamento bruto do Brasil em relação ao PIB —hoje em 77,3%, segundo o Banco Central— deve continuar crescendo até 2023, a partir de quando começa a cair gradualmente.

Com o teto de gastos —​regra que impede o aumento das despesas públicas acima da inflação— em vigor, conforme o crescimento do país fica positivo, diz Volpon, o superávit primário aumenta.

"Não é politicamente viável achar, pensando nos 20 anos de vigência do teto, que teríamos um superávit primário de 5% do PIB. Quando ele chegar em certo patamar, o teto deve ser flexibilizado. Mas, mesmo pressupondo esse aumento vegetativo do superávit primário, não voltaríamos a um patamar de 60% do PIB até 2030", completa.

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