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Reforma da Previdência desafia trabalhador a seguir no mercado sem ficar obsoleto

Idade mínima para aposentadoria aumentará tempo de carreiras e exigirá investimento em educação

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São Paulo

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma da Previdência, que será discutida no Congresso neste ano, já leva trabalhadores a reavaliar seu futuro profissional para planejar uma carreira mais longeva e garantir uma renda na aposentadoria.

O desafio é seguir atualizado e requisitado pelas empresas por mais tempo, em um mercado de trabalho que será transformado por novas tecnologias e que tende a privilegiar os mais jovens.

Entre as propostas do governo está a de estabelecer uma idade mínima para aposentadoria de 65 anos para homem e 62 anos para mulher. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) cogitou 60 anos para mulheres.

A exigência pode adiar planos de parar de trabalhar de profissionais mais jovens, que, pelas regras atuais, poderiam se aposentar antes, por tempo de contribuição (mínimo de 35 anos para os homens e de 30 anos para as mulheres).

O consultor técnico Márcio Cocuzzo, 45, trabalha em concessionárias do setor automotivo desde os 16 anos.

A incerteza sobre o futuro foi um dos motivos que o incentivaram a voltar a estudar neste ano, matriculando-se em curso de tecnologia em sistemas automotivos do Senai.

Segundo ele, além de ajudar no emprego atual, a formação o deixará apto a abrir uma oficina, caso seja necessário —uma futura fonte de renda.

“A gente não sabe muito bem o que vai acontecer [na reforma] e, conforme fica mais velho, aumenta o risco de as empresas preferirem as pessoas mais jovens”, diz.

Ricardo Basaglia, diretor-geral da consultoria de recursos humanos Michael Page, afirma que a tendência global do aumento da expectativa de vida —uma das razões que levaram à necessidade da reforma— fará com que as carreiras se tornem mais longas e dinâmicas.

“O profissional passará a ter três ou quatro carreiras ao longo da vida. A atividade exercida vai mudar de acordo com o conhecimento que ele tem, sua energia, suas habilidades e interesses.”

Segundo Basaglia, a mudança fará com que seja mais importante investir em educação ao longo da carreira, em vez de concentrar os estudos no início dela.

Daniela Barchi, 35, estudou pedagogia e já trabalhou como analista de RH e bancária
Daniela Barchi, 35, estudou pedagogia e já trabalhou como analista de RH e bancária - Gabriel Cabral/Folhapress

Ainda na primeira metade do que deve ser sua trajetória profissional, Daniela Barchi, 35, já passou por mudanças de atividades e diz acreditar que novas virão.

Formada em pedagogia, ela trabalhou como analista de recursos humanos e como bancária. Tem pós-graduação em psicologia organizacional e fez recentemente um curso na Escola de Mentores para poder orientar profissionais mais jovens.

Ela quer criar programas ligados ao desenvolvimento de inteligência emocional.

Segundo Barchi, as mudanças no sistema de aposentadoria fazem com que as pessoas de sua geração tenham de se preparar para o futuro investindo em formação e em uma previdência privada.

“Tenho a visão de que precisamos nos preocupar com atualizações, considerando um futuro no qual não vamos nos aposentar”, diz ela.

Por outro lado, Barchi diz que também há uma responsabilidade das empresas de se tornarem mais inclusivas para profissionais mais velhos.

A dificuldade para que esses profissionais fiquem no mercado formal é confirmada por Morris Litvak, sócio da empresa Maturi Jobs, que disponibiliza vagas de empregos para pessoas com mais de 50 anos.

A companhia, criada em 2015, tem 85 mil currículos cadastrados e disponibilizou 1.000 vagas de emprego, a partir de solicitações de outras empresas por profissionais com esse perfil.

A diferença entre a demanda por oportunidades e as vagas ofertadas fez Litvak perceber que oferecer apenas o emprego formal não seria suficiente. Sua empresa passou a criar programas que apoiassem o empreendedorismo de pessoas maduras.

“Cada vez mais o trabalho vai ser mais autônomo. A pessoa não terá emprego, mas terá trabalho. Isso é algo natural para os jovens, mas, para os mais velhos, desapegar dos modelos tradicionais é mais difícil.”

Maria Elisa Moreira, professora de gestão e liderança do Insper, diz que o mais importante para lidar com o novo cenário previdenciário é tomar responsabilidade por se manter atraente para o mercado em geral, seja em uma empresa, seja atuando por conta própria.

“Ficarão no mercado de trabalho os profissionais dispostos a investir na carreira, independentemente da demanda das empresas nas quais estão empregados”, diz.

Pensamento semelhante levou Vandir da Cruz Júnior, 59, especialista em manutenção elétrica, a buscar cursos de aperfeiçoamento para, segundo ele, não ficar obsoleto.

Ele espera, mesmo depois de se aposentar —o que deve acontecer quando ele completar 65 anos—, continuar trabalhando. Por isso, voltou a estudar e já criou um roteiro dos assuntos nos quais quer se aprofundar.

“Primeiro quero aprender sobre a parte mecânica dos veículos, para juntar com meus conhecimentos de elétrica. Depois vou estudar a parte de eletrônica, embarcada, sensores, energias limpas”.

Para Felipe Morgado, gerente-executivo de Educação Profissional e Tecnológica do Senai, o avanço da digitalização, apesar de exigir atualização dos profissionais, permitirá o alongamento da vida ativa de quem estiver preparado.

Isso porque tecnologias em ascensão como robótica, internet das coisas, inteligência artificial e análise de dados diminuirão a necessidade de esforço físico em muitas áreas da indústria e permitirão aos trabalhadores seguir desempenhando suas atividades em alto nível por mais tempo.


Como se preparar para uma carreira longa

Mudanças 
É provável que a maior parte dos trabalhadores que hoje são jovens exerça três ou quatro atividades muito diferentes ao longo da carreira

Formação 
O estudo deixará de estar concentrado principalmente no início da vida profissional. Será preciso aprender sempre e por iniciativa própria para lidar com mudanças tecnológicas e novas exigências que possam aparecer no futuro

Finanças 
É fundamental começar a poupar desde cedo para a aposentadoria levando em conta que apenas o benefício previdenciário pode não ser o suficiente, já que a expectativa de vida deve aumentar. Além disso, a reforma proposta prevê que novas alterações poderão ser feitas futuramente

Saúde 
Para ter uma trajetória profissional longa, é preciso ter atenção à qualidade de vida desde cedo para ter disposição para o trabalho na maturidade

Empreendedorismo 
O mercado profissional está mudando e indo em direção a modalidades de trabalho mais flexíveis, o que torna importante ter conhecimentos de gestão

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