Crise empurra 7,4 milhões de brasileiros para pobreza, segundo dados do Banco Mundial

Total de brasileiros abaixo da linha da extrema pobreza saltou de 5,6 milhões para 10,1 milhões

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São Paulo

A crise econômica dos últimos anos empurrou 7,4 milhões de brasileiros na pobreza entre 2014 e 2017, segundo cálculo feito pela Folha a partir de um documento divulgado nesta quinta-feira (4) pelo Banco Mundial e da base de dados da instituição.

O acréscimo reflete um salto de 20,5% – de 36,5 milhões para quase 44 milhões – no número de pessoas vivendo com menos de US$ 5,5 (R$ 21,20) por dia. O valor representa a linha oficial da pobreza usada pelo organismo multilateral e é expresso em paridade do poder de compra (PPC), que reflete diferenças no custo de vida dos países. Com base na cotação atual entre o real e o dólar, seria o equivalente a cerca de R$ 637 por mês.

O Banco Mundial trabalha ainda com a definição dos que são considerados extremamente pobres, precisando sobreviver com menos de US$ 1,90 (R$ 7,30) - em PPC - por dia, aproximadamente R$ 220 mensais a preços de hoje.

Palafitas do  Beco da Independência no bairro Raiz em Manaus
Palafitas do Beco da Independência no bairro Raiz em Manaus - Eduardo Knapp/Folhapress

Olhando sob outra ótica, a fatia dos miseráveis entre o total de pobres do país saltou de 15,4% para 23% no período analisado.

O relatório do Banco Mundial apresenta uma análise dos principais fatores que provocaram mudanças nos indicadores sociais da América Latina nas últimas décadas. A instituição alerta os governantes para a grande vulnerabilidade da pobreza aos sabores do ciclo econômico que, na região, é muito sujeito a variações nos preços de commodities.

No caso brasileiro, o organismo multilateral mostra que 54% da queda na pobreza entre 2003 e 2013 se deveu ao impacto favorável da conjuntura – marcada por forte demanda externa por produtos básicos – sobre a renda per capita.

Embora os cálculos da instituição indiquem que o ciclo econômico teve grande peso na América do Sul como um todo, o efeito desse movimento sobre a redução da pobreza no Brasil foi maior do que em nações vizinhas como Chile (31%) e Peru (28%).

Já as políticas de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, explicaram 33% da diminuição na parcela de pobres na população brasileira na chamada “década de ouro”.  

Apenas 13% do movimento de redução da pobreza no Brasil se deveu a mudanças estruturais – e, portanto, mais sustentáveis – no aumento e na composição da renda per capita.

O Banco Mundial destaca que, como o Brasil abriga um terço da população da América Latina, os movimentos do indicador no país têm forte peso sobre o número da região como um todo. Excluindo o país da amostra, em média, a pobreza latino-americana continuou caindo após 2014.

A parcela de brasileiros abaixo da linha da pobreza de US$ 5,5 (R$ 21,20) por dia passou de 17,9% para 21% do total entre 2014 e 2017. No mesmo período, a fatia dos extremamente pobres saltou de 2,8% para 4,8% do total da população.

O relatório enfatiza, porém, que uma análise acurada do progresso social deveria ser pautada muito mais na evolução do acesso a serviços básicos, como moradia, saneamento, educação e saúde, do que na chamada pobreza monetária, muito mencionada por governantes em épocas de bonança.

Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, por exemplo, que 39,5 milhões de brasileiros – o “equivalente a uma Argentina” – haviam subido para a classe média nos oito anos do governo Lula. Com a crise, parte desse movimento acabou sendo revertido, embora a pobreza permaneça em patamar muito inferior ao de meados da década de 1990.

O Banco Mundial ressalta que os indicadores da satisfação de necessidades básicas são mais estáveis e, portanto, apropriados para a análise da evolução do bem estar.

“A mensuração do sucesso na luta contra a pobreza usando indicadores sociais com muitos componentes cíclicos pode ser enganosa”, ressalta o documento.

Segundo o relatório, as fatias das variações da pobreza e do desemprego explicadas pelo ciclo econômico na América Latina são de, respectivamente, 43% e 74%. No caso do indicador de necessidades básicas não satisfeitas (UNB, na sigla em inglês), esse percentual é de apenas 21%.

O acesso a serviços básicos tem sido cada mais usado por especialistas nas análises do bem estar social. Essa abordagem foi usada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na mais recente “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgada em dezembro passado.

A novidade destacada na época pela Folha mostrou que 60% dos brasileiros viviam em 2017 sem acesso adequado a, pelo menos, um dos seguintes itens importantes para o exercício da cidadania: educação, moradia, proteção social, saneamento básico e internet.

O relatório divulgado nesta quinta pelo Banco Mundial apresentou também as perspectivas econômicas para a América Latina em 2019.

“Infelizmente, o caminho muito antecipado de aumento do crescimento não ocorreu”, aponta o documento.

Citando problemas como o colapso da Venezuela, a recessão Argentina e a recuperação lenta do Brasil, o Banco Mundial projeta um aumento de apenas 0,9% no PIB (Produto Interno Bruto) da região neste ano. No caso brasileiro, a expansão esperada é de 2,2%.

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