Mesmo após reajuste, preço do diesel manteria defasagem internacional

Setor ainda vê espaço para aumentos; banco diz que preço esta acima do mercado

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Rio de Janeiro

O reajuste de 4,8% no preço do diesel anunciado pela Petrobras na quarta-feira (17) não foi suficiente para eliminar a defasagem em relação às cotações internacionais, de acordo com especialistas no setor. 

O preço da gasolina, que não é alterado desde o dia 5, também é inferior ao praticado no mercado global.

Segundo a Abicom, associação que reúne as importadoras de combustíveis, a defasagem no preço do diesel era de R$ 0,06 por litro nesta quinta (18). Na quarta, antes do aumento, era de R$ 0,16 —o reajuste foi de R$ 0,10 por litro.

A conta considera o conceito de paridade de importação, que inclui o preço do produto mais os custos para trazê-lo ao país, usado pela estatal em sua política de preços. Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) esse indicador teve alta R$ 0,13 por litro no período em que a estatal segurou o preço do diesel.

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Refinaria da Petrobras em Betim, Minas Gerais - Geraldo Falcão/Petrobras

“Apesar de a Petrobras continuar afirmando que segue a política de paridade internacional, o aumento informado é incapaz de cobrir a variação da paridade no período”, diz relatório de acompanhamento de preços elaborado pela consultoria.

O reajuste ocorreu seis dias depois de recuo da Petrobras em reajuste de 5,7% anunciado no preço do diesel, decisão tomada após telefonema do presidente Jair Bolsonaro para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.

Vendo sinais de intervenção política, o mercado derrubou as ações da estatal no dia seguinte, levando a empresa a perder R$ 32 bilhões em valor de mercado. Nesta quinta, as ações preferenciais da Petrobras subiram 3,18%. 

“A decisão reforça a independência da gestão da Petrobras e soma-se com diversas medidas e iniciativas definidas pela empresa em conjunto com o governo para evitar nova greve dos caminhoneiros”, escreveu Thiago Salomão, da Rico Investimentos.

Para analistas do UBS, o aumento é positivo, mas é preciso esperar o próximo reajuste para confirmar se a Petrobras terá autonomia de fato para definir os preços de acordo com o mercado internacional. 

Ao contrário da Abicom e do CBIE, o banco tem a avaliação de que o diesel vendido pela Petrobras está 11,4% acima da paridade de importação.

Em entrevista na quarta, o presidente da Petrobras disse que o recuo foi decisão interna e que Bolsonaro lhe garantiu independência.

Ele afirmou que “por enquanto” não há planos para mexer na política de preços. Instituída em outubro de 2016, ela teve duas reavaliações: em 2017, a empresa autorizou reajustes diários e, após a paralisação dos caminhoneiros, estendeu o prazo.

No caso do diesel, os reajustes respeitam um prazo de 15 dias desde 26 de março. Após a alta desta quinta, o preço nas refinarias da Petrobras foi a R$ 2,2470, o maior nível desde outubro de 2017, quando o combustível era subsidiado por programa federal.

Para sexta (19), a estatal decidiu manter inalterados os preços do diesel e da gasolina.

Sem reajustes nos últimos 15 dias, o preço da gasolina nas refinarias da estatal está R$ 0,07 por litro, abaixo das cotações internacionais, segundo a Abicom. O CBIE fala entre R$ 0,02 e R$ 0,13, dependendo do ponto de entrega.

Nos últimos 30 dias, diz o CBIE, a estatal promoveu dois reajustes, somando R$ 0,11 por litro. Nesse período, a paridade de importação teve alta de R$ 0,18 por litro. “Vale ressaltar que a variação insuficiente foi sobre uma base já defasada”, afirma a consultoria.

O CBIE diz que o problema pode ser agravar, já que o preço da gasolina costuma subir neste período do ano, pressionado pela demanda maior com a proximidade das férias de verão no hemisfério Norte.

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