Descrição de chapéu Financial Times

Facebook negocia com regulador americano sobre moeda digital

Uma das preocupações das autoridades será determinar se projeto será capaz de respeitar regras quanto à lavagem de dinheiro

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Laura Noonan Hannah Murphy
Washington e San Francisco | Financial Times

O Facebook iniciou negociações com a principal agência regulatória de derivativos financeiros nos Estados Unidos para uma moeda digital, em um sinal dos preparativos da maior plataforma mundial de mídia social para um avanço ambicioso no setor de pagamentos.

Christopher Giancarlo, presidente da Comissão das Transações de Commodities e Futuros (CTFC, na sigla em inglês), disse que a agência estava nos estágios iniciais de um diálogo com o Facebook para avaliar se os planos da empresa se enquadrariam na sua área de atuação.

O Facebook acelerou seus planos para criar uma nova rede de pagamentos digitais que permitiria que os usuários enviassem dinheiro uns aos outros e comprassem produtos na plataforma, em seus apps Instagram e WhatsApp, e na internet em geral. A empresa planeja introduzir uma "stablecoin", ou seja, uma moeda digital vinculada a uma moeda oficial.

A CTFC tem autoridade sobre os mercados de derivativos e futuros, de modo que qualquer desses instrumentos financeiros que venha a ser vinculado à GlobalCoin –o nome que o Facebook aparentemente escolheu para sua proposta de "stablecoin"– se enquadraria em sua área de atuação.

As conversas iniciais com a CTFC surgem em um momento em que o Facebook vem consultando organizações de fiscalizações e bancos centrais a fim de obter orientação em torno da moeda digital. Ao mesmo tempo, muitas autoridades ainda não têm regulamentação precisa para as criptomoedas.

"Estamos muito interessados em compreender melhor a ideia", disse Giancarlo sobre os planos de Facebook. "Mas só podemos agir quando recebermos uma solicitação, e não temos uma solicitação diante de nós".

O grosso das operações com o bitcoin, por exemplo, é feito nos mercados futuros, e não nos mercados à vista. É cedo demais para dizer se a GlobalCoin se limitaria a estes últimos, o que a excluiria da área de atuação da CTFC, disse Giancarlo.

Se a moeda do Facebook for lastreada pelo dólar dos Estados Unidos, os mercados futuros de câmbio poderiam remover a necessidade de um derivativo ligado à GlobalCoin.

"Isso seria muito inteligente", disse Giancarlo, acrescentando que ainda assim haveria algum "risco básico" –termo que descreve a situação na qual o preço de um instrumento e o de seu derivativo não se movimentam em exata sincronia.

Preocupações

Uma das maiores preocupações das autoridades regulatórias será determinar se o projeto do Facebook será capaz de respeitar as regras severas quanto à lavagem de dinheiro e de identificação de clientes.

O Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira, parte do Departamento do Tesouro americano, tem um grupo de trabalho sobre criptomoedas que está examinando questões como a exposição de instituições financeiras a ativos digitais e "atividades ilícitas empreendidas com ativos digitais".

O Facebook conversou com o Tesouro dos EUA nas últimas semanas para oferecer informações atualizadas sobre o projeto, de acordo com uma pessoa que conhece o assunto.

O Tesouro se recusou a comentar.

A perspectiva de que as moedas digitais ganhem circulação mais ampla está causando escrutínio e atraindo atenção da parte dos interessados em compreender suas potenciais ramificações mais amplas para a estabilidade financeira.

No mês passado, Tobias Adrian, diretor do departamento monetário e de mercados de capital do FMI (Fundo Monetário Internacional), disse que as "stablecoins" se enquadram à classificação de "eMoney", e que sua adoção poderia ser extremamente rápida; "mas existe a possibilidade de que ela traga riscos significativos".

O FMI deveria ter um papel na vigilância dessas moedas, ele disse.

Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, discutiu o projeto recentemente com o Facebook, como parte de uma reunião mais ampla sobre o futuro das finanças, de acordo com uma pessoa informada sobre a reunião.

O Banco da Inglaterra se recusou a comentar.
 
Tradução de Paulo Migliacci

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