Gustavo Montezano é escolhido para assumir a presidência do BNDES

Paulo Guedes escolhe jovem banqueiro de sua equipe para chefiar BNDES

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Brasília e São Paulo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou nesta segunda-feira (17) Gustavo Montezano, 38, como novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Ele substituirá o economista Joaquim Levy, 58, que pediu demissão no domingo (16) após o presidente Jair Bolsonaro dizer que ele estava “com a cabeça a prêmio”. Guedes chancelou a fritura pública do economista.

Segundo auxiliares do ministro, a escolha segue a estratégia que ele considera bem-sucedida até o momento de nomear para sua equipe “jovens banqueiros”.

Montezano foi sócio-diretor do BTG Pactual e atuou nas áreas de crédito e commodities. Assim, nesse linha, ele teria perfil semelhante aos dos presidentes do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da Caixa, Pedro Guimarães.

No setor privado, o currículo de Montezano é reconhecido e, apesar da pouca idade, é considerado inteligente. Porém, para executivos mais graduados, é visto sem estatura para o cargo de presidente do maior banco de fomento do país.

Levy, por exemplo, foi diretor-financeiro do Banco Mundial e diretor do Bradesco, além de secretário estadual de Finanças do Rio, secretário do Tesouro Nacional e ministro da Fazenda.

Gustavo Montezano foi escolhido para assumir a presidência do BNDES - Hoana Gonçalves - 22.mar.2019/ ME

Com a escolha de Montezano, afirmam auxiliares de Guedes, a ideia é acalmar as expectativas do mercado e afastar eventuais temores sobre possíveis ingerências políticas de Bolsonaro nas decisões da equipe econômica.

Porém, a colegas do setor financeiro, contam fontes do mercado, Montezano costuma dizer que é amigo próximo de filhos de Bolsonaro. Cita em conversas nominalmente Flávio e Carlos, de quem conta já ter sido vizinho.

A principal orientação de Bolsonaro é que ele identifique onde foram investidos os recursos usados em operações concedidas em governos do PT. Até agora, nenhuma ação foi aberta contra servidores do banco.

Segundo executivos de empresas com contato com o BNDES, prevaleceu o temor de que o posto de presidente terminasse com alguém mais alinhado politicamente a Bolsonaro.

Há preocupação, agora, entre graduados executivos do setor privado, sobre a capacidade de diálogo de Montezano com servidores públicos considerados de perfil técnico.

Esse processo ainda será testado, e uma eventual resistência interna poderá comprometer projetos e programas em andamento.

Para a equipe de Guedes, a prioridade de Montezano será avançar na venda de ativos em poder do BNDES e se empenhar em fornecer apoio técnico para as privatizações do governo federal —uma das questões que o governo afirma ter se transformado em impasse na gestão Levy.

A escolha de Montezano, para acelerar esse processo, foi conduzida pelo secretário especial de Desestatização e Desinvestimento, o empresário Salim Mattar, responsável pelo programa de privatizações.

Mattar chegou a ser cotado para o posto. Ele se queixava da atuação de Levy. Para ele, faltava no cargo alguém mais voltado à desestatização. No banco, a avaliação é que a negociação de ativos deve ser realizada no momento oportuno.

Para o lugar de Levy foi alçado seu secretário-adjunto, que agora dará prosseguimento à prioridade de seu órgão e do ministério.

Na equipe econômica, o entendimento é que o novo presidente tem alinhamento à agenda defendida por Guedes. 

Montezano é mais um integrante do grupo que estudou no Ibmec —escola fundada por Guedes. Graduado em engenharia pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), é mestre em Finanças pelo Ibmec. Ele tem 17 anos de carreira no mercado financeiro.

Montezano foi alçado ao posto após uma saída considerada traumática de Levy. As críticas do presidente, na avaliação de um auxiliar de Guedes, foi a gota d’água em um copo que já estava para transbordar.

A gestão de Levy gerou irritação no ministro pela dificuldade de dar andamento em determinações do governo.

A avaliação é que Levy não conseguiu abrir a “caixa-preta” do BNDES, promessa de campanha de Bolsonaro. 

Ele também era criticado por resistir em devolver recursos devidos pelo BNDES ao Tesouro Nacional no ritmo desejado por Guedes.

Segundo um interlocutor do ministro, na conversa com Montezano, Guedes deixou claro que o repasse do dinheiro faz parte do pacote que precisará ser cumprido.

Guedes já disse que espera receber R$ 126 bilhões do BNDES neste ano. A medida irá impactar positivamente a dívida pública e é tratada como necessária para ajudar no ajuste fiscal.

O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse nesta segunda-feira que Bolsonaro espera que Montezano dê andamento a esse processo.

A devolução de recursos não é vista com preocupação, e o entendimento é que ele deverá cumprir a tarefa sem resistências. A visão no ministério é que, mesmo com os pagamentos, o banco não necessariamente ficará pequeno.

Segundo o porta-voz da Presidência, Bolsonaro também acha que o BNDES deve aumentar investimentos em infraestrutura e saneamento.

No ano passado, o banco teve lucro de R$ 6,7 bilhões, crescimento de 10% em relação ao ano anterior. O desempenho, porém, foi prejudicado pelo calote em financiamentos concedidos a Venezuela e Cuba.


​O nome de Montezano foi escolhido depois de um longo dia de reuniões entre Bolsonaro e Guedes no Palácio do Planalto. Os dois se reuniram pela primeira vez logo pela manhã, em encontro que não estava previsto na agenda.

Diante do impasse sobre quem seria o escolhido, Guedes voltou à tarde e a agenda estimada em 15 minutos se estendeu por mais de uma hora. 

Durante todo o dia, o nome de Salim Mattar era o favorito, mas acabou ficando de lado por um temor de auxiliares do presidente de que a indicação dele esbarraria na Lei das Estatais, que veda a nomeação de quem tenha trabalhado na “organização, estruturação e realização” de campanha eleitoral nos últimos 36 meses, caso dele, que atuou pela eleição de Bolsonaro.

 

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