Levy deveria pedir demissão antes de ser demitido por Bolsonaro, diz Arminio Fraga

Ex-presidente do BC diz que polarização por negar contratação de alguém por ter trabalhado para governo petista é absurda

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São Paulo

O economista Arminio Fraga disse neste sábado (15) que o presidente do BNDES, Joaquim Levy, deveria pedir demissão antes desta segunda-feira (17).

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro disse que está “por aqui” com Levy e sua “cabeça está a prêmio há algum tempo”. 

“Levy deveria pedir demissão antes de ele ser demitido na segunda-feira”, disse Fraga que é colunista da Folha e ex-presidente do Banco Central.

Bolsonaro disse que poderia demitir Levy, sem falar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, porque ele pretende indicar Marcos Barbosa Pinto, que trabalhou durante governo do PT, para a diretoria de Mercados de Capitais do banco.

“Essa polarização e essa radicalização me parecem um absurdo.”, afirmou Fraga. "[Essa polarização] me parece ser o oposto do que o país precisa neste momento, o país precisa acertar sua vida.”

Sobre as declarações de Bolsonaro sobre Levy, Fraga diz que pode ser que haja uma motivação maior.

“No caso dele em particular, que é outro profissional com grande experiência em assuntos públicos, pode ser encarado como algo da gestão do BNDES não estar alinhada com os objetivos da área econômica. Não sei se o caso ou não. O que seria uma pena, mas é algo que acontece em governo”, disse.

O episódio sobre Marcos Pinto causa espanto pela motivação da demissão.

“Marcos é um sujeito seríssimo, um profissional de mão cheia, um brasileiro com 'b' maiúsculo. Ele se arriscou a aceitar essa posição [cargo], que é bem compatível com o histórico dele profissional, com o currículo. Então isso tudo me parece um enorme absurdo”, afirmou Fraga.

Segundo ele, Marcos Pinto é “um profissional de mão cheia, uma pessoa do bem, que se pôs à disposição de um governo com o qual certamente ele não se alinha, mas para cumprir uma missão”.

“O caso dá mais colorido negativo a algo absurdo”, disse o economista.

Barbosa Pinto e Fraga foram sócios por sete anos na Gávea Investimentos. Ele atuou ao lado de Fraga entre maio de 2011 e outubro de 2018.

Barbosa Pinto já trabalhou nos setores privado e público. Foi membro do conselho de administração da América Latina Logística, Unidas, Chilli Beans, BR Malls e Fibria.

Trabalhou no BNDES como assessor da diretoria de dezembro de 2004 a março de 2006. De março de 2006 a novembro, foi chefe de gabinete da presidência do banco. Foi também consultor do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Barbosa Pinto é advogado. Estudou na USP (Universidade de São Paulo). É mestre em Economia e Finanças pela FGV e doutor em direito pela USP. Fez ainda mestrado na Universidade de Yale. E foi pesquisador da Universidade de Columbia.

“Marcos é um técnico excepcional e profundamente comprometido com a política pública e o melhor para o país. Episódio lamentável. Revela falta de decoro e de respeito a profissionais que, com desprendimento, se dispõem a colaborar com o país” disse o Marcos Lisboa, presidente do Insper e colunista da Folha.

O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, em evento em São Paulo
O economista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, em evento em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress
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