Condenação de brasileiro nos EUA reforça conexão com fraudes da Gradual

Marcos Elias recebeu pena de três anos; ele tentou depositar dinheiro desviado em conta de executiva da corretora

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São Paulo

A condenação de Marcos Elias, 48, a três anos e meio de prisão por desvio de dinheiro e roubo de identidade nos Estados Unidos, reforçou a conexão do ex-executivo do mercado financeiro com supostos crimes cometidos no Brasil.

A ligação é com Fernanda Braga de Lima e a corretora Gradual, que teve falência decretada. Fernanda nega envolvimento no caso de Marcos Elias.

No entanto, uma conta da ex-executiva da Gradual seria o primeiro destino do desvio de US$ 750 mil (R$ 2,8 milhões) que levou à condenação de Elias, em sentença proferida pela Justiça americana na semana passada. 

Procuradoria de Nova York e o FBI anunciaram em setembro a extradição para os EUA de Marcos Elias - Yuri Gripas - 5.jul.16/AFP

O caso remonta crimes cometidos em 2014, segundo a corte de Nova York. A conclusão da Justiça dos EUA foi que Elias montou um esquema para desviar recursos de contas do grupo gaúcho de supermercados e shoppings Zaffari, controlado pela família de mesmo nome.

Ele recebia informações sigilosas de um amigo de infância, também citado no processo. Por isso, sabia o valor dos recursos depositados e a qual instituição deveria pedir a transferência dos recursos.

O empresário criou emails em nome de um funcionário da companhia e, com ele, um registro de um domínio para um site parecido com o do Zaffari. 

Então Elias enviou, com o email falso, uma ordem para que pouco mais de US$ 750 mil fossem transferidos da conta do Zaffari nos Estados Unidos para outra em Luxemburgo.

A abertura da conta também foi feita com informações falsas, para simular que o dinheiro seria transferido para o mesmo titular.

Na verdade, o dono da conta era Elias, e o FBI (a polícia federal americana) encontrou inclusive a foto do passaporte brasileiro do gestor no cadastro.

A criação dos emails e das contas se concentra em junho e julho de 2014.

Antes do desvio se concretizar, Elias tentou fazer a transferência para uma conta em nome de Fernanda em um banco americano. Fernanda afirma que houve uma tentativa de uso de sua conta sem sua autorização.

O funcionário da instituição que custodiava o dinheiro do grupo Zaffari, porém, não transferiu os recursos porque as informações bancárias da conta de destino não eram associadas ao cliente. 

Foi então que Elias criou um domínio e abriu uma nova conta em que pudesse fazer parecer que pertencia aos Zaffari e assim conseguiu concretizar a transferência dos recursos.

Após o roubo do dinheiro, o grupo Zaffari denunciou o crime às autoridades americanas, dando início à investigação.

Marcos Elias foi preso em 2018, na Suíça, após um mandado de prisão da Justiça americana. De lá, foi extraditado aos Estados Unidos, onde está desde então.

Após cumprir a pena, ele poderá ser deportado. Elias tem também cidadania italiana.

Fernanda diz que conheceu Marcos Elias atuando em operações do mercado financeiro e que foram sócios em apenas uma empresa.

Afirma que o ex-parceiro de negócio tentou usar a sua conta “sem a devida autorização”. A investigação e outros documentos obtidos pela Folha, no entanto, mostram que os dois fizeram negócios em mais de uma empresa que atuou no mercado financeiro. 

Na Turing, nome fantasia da Benchmark, documento da Junta Comercial de São Paulo mostra que Elias e Fernanda foram sócios de 2012 a 2014, quando ela deixou a empresa.

Já na ITS@, outra empresa que mostra proximidade entre os dois, Fernanda assumiu como administradora após a saída de Elias, que vendeu sua participação ao marido de Fernanda, Gabriel Gouvea. A operação teve valor simbólico de R$ 1, no final do mesmo ano de 2014.

Nesta empresa, Gouvea já tinha participação por meio da GF System, para a qual também foram repassadas ações de Elias.

A ITS@ foi a empresa que emitiu, em 2016, debêntures (dívidas de empresas) distribuídas pela Gradual e que geraram perdas milionárias a fundos de pensão municipais em suposta fraude investigada nas operações Papel Fantasma e Encilhamento da Polícia Federal.

Em sua defesa, Fernanda alega que as emissões não foram fraudulentas. 

O escândalo, porém, levou à liquidação extrajudicial e posterior falência da corretora Gradual, então administrada por ela.

Por meio de seu advogado, Fernanda afirmou que houve uma tentativa de uso de sua conta sem sua autorização no caso que levou à condenação de Marcos Elias. E acrescentou que nunca negou que tenha sido sócia dele, apenas que não foram sócios na Gradual. Registros da página da Gradual no Facebook e fontes ouvidas pela Folha indicam que Marcos Elias teria sido sócio diretor da área de pesquisa da Gradual entre 2013 e 2014. A saída da corretora teria ocorrido após o desvio de recursos pelo qual Elias foi condenado.

Por meio de mensagem retransmitida por seu advogado à Folha, Fernanda disse ainda que a empresa em que teve sociedade do Marcos Elias foi criada como primeira etapa de uma possível parceria com uma boutique financeira, cujos sócios eram ex-executivos do Banco Fator.

“Na época me interessei porque apresentava uma oportunidade para a Gradual oferecer serviços ao mercado corporativo”, afirmou. “Ocorre que a parceria operacional não avançou como queríamos, de forma que a empresa foi cedida aos sócios”, disse Fernanda na mensagem encaminhada por seu advogado.

O Banco Fator disse, em nota, "que não guarda nenhuma relação com as situações, pessoas e eventos relatados. E que não se responsabiliza por quaisquer atos praticados por seus ex-colaboradores, notadamente aqueles realizados fora do exercício de suas funções contratualmente estabelecidas junto à instituição".

A Folha procurou o advogado de Marcos Elias por email na sexta-feira (26). Ele sugeriu uma conversa por telefone. Apesar dos pedidos de retorno, não deu retorno para agendar data e horário. Até a conclusão deste texto, não respondeu à reportagem.

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