Agência do setor de teles sinaliza que Brasil deve evitar barrar Huawei no 5G

Para superintendente da Anatel, país precisa manter 'neutralidade tecnológica'

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Brasília

Em uma sinalização de que o governo brasileiro deve tentar ficar de fora da briga geopolítica entre Estados Unidos e China, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) indicou que não pretende impor travas para fabricantes específicos no leilão da tecnologia 5G, previsto para 2020.
 
"Existe o princípio da neutralidade tecnológica. Em todos os editais anteriores e em toda a regulamentação editada pela agência, nós temos como premissa a neutralidade tecnológica", afirmou nesta quarta-feira (27) Karla Ikuma, superintendente-executiva da Anatel. 
 
"Exatamente para dar possibilidade e oportunidade para que todos os fabricantes, a camada produtiva, venham e participem de todas as licitações. E que possam trazer os equipamentos de ponta também para o país", disse.

Karla participou nesta quarta de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, convocada para discutir o futuro mercado do 5G no Brasil.

Presidente Jair Bolsonaro em Audiência Audiência com Zou Zhilei, presidente regional da Huawei Latin America
Presidente Jair Bolsonaro em Audiência Audiência com Zou Zhilei, presidente regional da Huawei Latin America - Marcos Corrêa - 18.nov.2019/PR

Também participaram da reunião representantes de fabricantes de equipamentos para o 5G —Ericsson, Huawei e Qualcomm—, além da Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) e da organização Intervozes. 

O Brasil tem sido pressionado pelo governo dos Estados Unidos a impedir a entrada da chinesa Huawei no 5G brasileiro.

Isso porque os americanos argumentam que a Huawei tem ligações com o governo da China e poderia compartilhar informações de redes que usam seus produtos com Pequim.

A empresa chinesa nega que pratique esse tipo de espionagem.

Embora sejam as operadoras de telecomunicação, e não as fabricantes de equipamentos como a Huawei que participarão do leilão da nova tecnologia, os chineses receiam que o edital da Anatel traga alguma especificidade que crie dificuldades para o uso de seus produtos. 

Caso isso ocorra, o Brasil abriria um forte desgaste com a China, que além de principal parceiro comercial do país sinalizou recentemente com um pacote de US$ 100 bilhões (R$ 420 bilhões) de investimentos no país.

Karla Ikuma, da Anatel, disse nesta quarta-feira que o governo, capitaneado pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), está tomando as precauções necessárias para a garantia da segurança cibernética no mercado 5G do Brasil, mas acrescentou que a agência entende que não é recomendável estabelecer "regras prévias", "escritas em pedra", sobre o tema. 

"Todas as formas de ataque e vulnerabilidade em termos de segurança cibernética são bastante dinâmicos, são questões muito vivas. A agência entende que o que devem ser estabelecidas seriam premissas e princípios básicos para a preservação da segurança cibernética", afirmou.

Ao final da audiência pública, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente do colegiado, evitou se posicionar sobre a disputa envolvendo EUA e China em torno do 5G

"Quem vai dizer o que é seguro ou não são os técnicos, e para isso estão em tratativas não só o GSI como a Anatel", disse.

"Os Estados Unidos têm recentemente, nestes casos envolvendo a Huawei, alguma suspeita com relação ao sigilo e segurança da informação, mas eu não sou a pessoa adaptada ou adequada para falar sobre isso porque eu sou um ignorante com relação a essa tecnologia", afirmou.

Na reunião desta quarta, as fabricantes de equipamentos defenderam a realização do leilão e disseram que o Brasil não pode entrar atrasado no mercado 5G.

Eles argumentaram que o potencial da nova tecnologia é revolucionário —essencial para carros autônomos, internet das coisas e cidades inteligentes, entre outros— e que ela já está operando em outras regiões do globo.

"O 5G é a infraestrutura mais importante da próxima década para atração de investimentos, inovação e competitividade", disse Tiago Machado, diretor de Relações Governamentais da Ericsson. 

Além de defender o leilão, Atilio Rulli, diretor em Governo e Relações Públicas da Huawei do Brasil, afirmou que a empresa chinesa desenvolveu ao longo das últimas duas décadas mecanismos que garantem a segurança de ponta a ponta dos seus produtos.

O representante da Abratel, Wender Souza, afirmou por sua vez que a banda de frequência reservada para o 5G gerará interferência no serviço de TVs parabólicas no Brasil, um sinal ainda usado em locais mais afastados do país. 

Ele disse que a nova tecnologia é importante, mas defendeu que seja encontrado uma solução para não prejudicar quem ainda depende de parabólicas

Erramos: o texto foi alterado

A sigla da Associação Brasileira de Rádio e Televisão é Abratel​, e não Abert, como publicado em versão anterior desta reportagem. O texto foi corrigido.
 

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