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Investidores estrangeiros fogem de ações brasileiras, diz Financial Times

Saque de recursos bate recorde, apesar do bom desempenho do mercado

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Anna Gross
Londres | Financial Times

Os estrangeiros evitaram as ações brasileiras em ritmo recorde neste ano, em meio ao ceticismo persistente dos investidores globais quanto à recuperação econômica do país.

No total, investidores estrangeiros retiraram R$ 15,2 bilhões dos mercados de ações do Brasil neste ano, segundo dados da Bolsa de Valores de São Paulo. Os dados consideram as ofertas de ações (IPOs e follow-ons), que passaram a ser incluídas no cálculo neste ano. Sem esse número, a saída líquida é de R$ 43 bilhões.

Ainda assim, a Bolsa subiu mais, com o índice de referência Ibovespa em alta de mais de 25%. Mas os persistentes saques de contas estrangeiras mostram o quanto essa recuperação depende dos investidores locais.

Investidores no saguão da B3 (Bolsa de valores); alguns investidores evitam o Brasil devido a preocupações com a governança sobre o ambiente
Investidores no saguão da B3 (Bolsa de valores); estrangeiros evitam o Brasil devido a preocupações com a governança sobre o ambiente - Zanone Fraissat/Folhapress

"Os investidores estrangeiros estão procurando mais a realidade do que a retórica", disse Greg Konstantinidis, gerente de portfólio na Fidelity International. "Alto desemprego e baixa utilização de capacidade são sinais de um cenário de crescimento econômico fraco."

Excluído o ano de crise de 2008, os investidores estrangeiros têm sido fortes compradores líquidos de ações brasileiras em todos os anos desde que os números foram coletados pela primeira vez, em 2004.

Mas as entradas líquidas pararam no ano passado e as saídas se aceleraram ao longo de 2019. Até agora neste mês, os investidores estrangeiros reduziram suas participações acionárias no Brasil em R$ 3,4 bilhões.

Isso ocorre em parte porque o Brasil oferece um mercado financeiro grande, líquido e sensível à volatilidade de outras partes da América Latina, de acordo com analistas.

Mas os investidores estrangeiros também ficaram assustados com a interrupção da janela de reformas após a aprovação de uma importante reforma previdenciária neste ano. Apesar dos sinais de crescimento econômico retornarem após uma profunda recessão em 2015 e 2016, o desemprego está em cerca de 12% e a dívida das famílias aumenta.

Alguns investidores também estão evitando o Brasil devido a preocupações com a governança do país sobre o meio ambiente. Sob o presidente Jair Bolsonaro, madeireiros e agricultores intensificaram a exploração econômica da floresta amazônica, fator que já levou a Nordea Asset Management a desistir de investir no país.

Investir dentro de métricas ambientais é "um grande negócio", disse Wilber Colmerauer, consultor financeiro brasileiro em Londres. "Temos um presidente que não consegue parar de falar em produzir o máximo que pudermos o mais rápido possível. Está completamente fora de sincronia."

Enquanto os habitantes parecem ter mantido a fé no programa econômico liberal do novo governo, os estrangeiros são mais céticos. Os dados da Bolsa de Valores mostram que os estrangeiros foram vendedores líquidos de ações brasileiras desde a eleição do governo de direita, em outubro de 2018.

Uma pesquisa regular da XP Investimentos com 81 gestores de fundos, economistas e consultores, a maioria deles de fora do Brasil, sugere que o apoio ao governo nos mercados diminuiu drasticamente.

Em janeiro, 86% dos entrevistados classificaram o governo como bom ou excelente, e 1% como ruim ou péssimo. Em outubro, apenas 45% classificaram o governo como bom ou excelente, e 10% o descreveram como ruim ou péssimo.

"A mensagem que o governo está transmitindo é muito confusa", disse Colmerauer. "Este é um governo liberal, mas possui alguns elementos intervencionistas e extremamente conservadores."

De modo mais amplo, entretanto, as perspectivas para o Brasil são otimistas. A economia cresceu 0,6% no terceiro trimestre, gerando esperanças de uma recuperação cíclica do maior país da América Latina.

A maioria dos economistas consultados pelo Banco Central neste mês espera que o Produto Interno Bruto cresça 1% neste ano —subindo no próximo ano para mais de 2,2%— com inflação de 3,4%.

Os formuladores de políticas também estão se concentrando em uma série de grandes reformas econômicas destinadas a restaurar a confiança na posição fiscal do país, como a revisão do emaranhado sistema tributário do Brasil.

Tradução de Paulo Migliacci

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