Modi pede que Brasil deixe de questionar na OMC subsídio para açúcar

Pequenos produtores indianos afirmam que investigação ameaça seu sustento

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O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado (25) que o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pediu que o Brasil reveja o contencioso da Organização Mundial de Comércio (OMC) questionando os subsídios indianos ao açúcar.

Jair Bolsonaro (à esquerda) ouve fala de Narendra Modi (à direita). Ambos estão atrás de púlpitos. Atrás deles estão as bandeiras de Brasil e Índia.
Jair Bolsonaro disse que vai estudar com Ernesto Araújo a revisão do questionamento sobre o subsídio do açúcar indiano - Money Sharma/AFP

De acordo com o presidente, o pedido foi feito em reunião bilateral com o indiano, e Bolsonaro afirmou que iria pedir ao chanceler Ernesto Araújo que estude a possibilidade de retirar o questionamento na OMC.

“Ele  [Modi] me disse que o açúcar comerciado para fora é só 2% do total, isso é pequeno, então pedi para o Ernesto analisar a possibilidade de revermos a posição do Brasil.”

O Brasil, ao lado da Austrália e da Guatemala, pediu à OMC a abertura de um painel (investigação) sobre os subsídios concedidos pelo governo indiano aos produtores de açúcar. O argumento é que os subsídios estão levando a uma superprodução de açúcar, que deprime o preço mundial da commodity.

Para a Índia, o assunto é muito sensível, porque atinge os pequenos agricultores do país, que são grande parcela da população e enfrentam situação econômica difícil.

Produtores de açúcar, inclusive, criticaram a escolha do presidente Bolsonaro para ser convidado de honra do Dia da República da Índia, pois o Brasil estaria “ameaçando o sustento” dos agricultores ao questionar na OMC o apoio governamental.

No entanto, a Folha apurou que dificilmente o Brasil irá rever esse posicionamento na OMC.

Modi também discutiu durante a reunião com Bolsonaro a produção de carros flex na Índia. O Brasil assinou um acordo de cooperação com a Índia em produção de etanol. O objetivo é que mais países passem a produzir etanol, para que o produto se torne uma commodity, ampliando o mercado.

Além disso, produzir etanol seria uma maneira de reduzir a grande produção de açúcar na Índia. Para a Índia, que importa 84% do petróleo que consome e comprava muito do Irã e da Venezuela, atualmente sob sanções, seria uma forma de reduzir dependência de combustíveis fósseis.

“O momento é perfeito para voltarmos a promover a globalização do etanol, principalmente na Ásia, onde países como a Índia enfrentam enormes níveis de poluição”, diz Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da Unica (associação da indústria canavieira). O governo indiano passará a exigir uma mistura de 10% de etanol nos combustíveis a partir de 2022 e 20% a partir de 2030.

Bolsonaro está em visita oficial de três duas à Índia. Neste sábado (25), reuniu-se com Modi e assinou 15 acordos com a Índia. No domingo, será convidado de honra do desfile do Dia da República da Índia.

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