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Bancos médios querem voltar a ter ações na Bolsa

Estratégia é se aproveitar do momento de euforia do mercado de capitais

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São Paulo

O avanço tecnológico do mercado financeiro e o crescimento no número de investidores que entraram na Bolsa de Valores devem nortear os encontros com potenciais investidores (roadshows) de bancos médios que miram a abertura de capital neste ano.

Pelo lado tecnológico, o avanço das fintechs (empresas de tecnologia voltadas para o sistema financeiro) acompanha o comportamento de clientes que procuram alternativas aos bancos tradicionais —e que fomentam o crescimento de bancos digitais.

Soma-se a isso a migração de investidores da renda fixa para o mercado de ações em busca de rendimentos melhores após a queda dos juros —o número de pessoas físicas  na Bolsa mais que dobrou em 2019, para 1,7 milhão de CPFs.

Especialmente nos casos de Daycoval e Paraná Banco —próximos na lista de IPOs (ofertas públicas de ações), segundo analistas—, porém, a estratégia precisará ir além de uma oferta calcada em tecnologia e demanda.

Os dois bancos já foram listados na Bolsa, mas decidiram, em 2016 e 2017, tirar suas ações do mercado. 

Sala de controle do mercado eletrônico, da B3, em 2011, então BM&F Bovespa
Sala de controle do mercado eletrônico, da B3, em 2011, então BM&F Bovespa - Alessandro Shinoda - 08.ago.2011/Folhapress

Além da expectativa de que Daycoval volte ao mercado na espera de captar R$ 4 bilhões, o Paraná Banco divulgou comunicado ao mercado na sexta-feira (7) no qual anuncia o pedido de oferta de units (ativos compostos por mais de uma classe de valores mobiliários) em IPO.

Segundo o sócio da Monte Bravo Rodrigo Franchini, é natural que esses dois bancos se apoiem na mudança de cenário entre a deslistagem e o atual momento da Bolsa.

“A concentração bancária era muito grande e não tinha o viés comportamental de saída de clientes dos grandes bancos que temos hoje. Agora, o que eles vão tentar mostrar é que o potencial de aumentar o market share [participação no mercado] melhorou e que está mais fácil dar o retorno prometido”, afirma.

O último relatório do Fintechlab aponta um crescimento de 30,9% no número de fintechs entre agosto de 2018 e junho de 2019. Neste período, a quantidade de bancos digitais no país subiu de 8 para 12.

“Além de uma tendência forte do consumidor em buscar opções, temos um forte movimento regulatório no intuito de criar intenções adequada para o crescimento de plataformas digitais”, diz Raul Moreira, diretor executivo de TI, produtos, open banking e operações do Banco Original.

Em outubro de 2019, o Original sinalizou que prepararia uma captação internacional, o que acionou os radares do mercado para um potencial IPO. Segundo Moreira, a instituição foi procurada por bancos de investimentos, mas ainda não existem planos para uma abertura de capital.

“Nós procuramos estruturar melhor a conversa com esses bancos de investimentos, abrimos informações e fizemos um roadshow para entender como o mercado percebia o que está acontecendo no segmento. Não descartamos a possibilidade [de um IPO], mas é uma coisa de estudar o cenário mais para frente. Agora, não faz sentido”, diz o diretor.

O mercado também havia feito a leitura de possíveis IPOs para outros bancos médios, como Agibank, BS2 e BV (antigo Banco Votorantim).

Gabriel Ferreira, nomeado presidente do BV em setembro de 2019, iniciou o mandato dizendo que prepararia a instituição para uma oferta pública de ações no início de 2020.

Criado a partir de uma parceria entre o Banco do Brasil e a multinacional Votorantim, a abertura de capital da instituição seria mais um dos desinvestimentos que o governo de Jair Bolsonaro prometeu fazer nos bancos públicos do país.

Na sexta, o BB também anunciou, em comunicado ao mercado, que firmou um novo acordo de acionistas sobre a parceria do BV. Em 2019, o banco entregou lucro de R$ 1,4 bilhão, alta de 29% ante o ano anterior.

“Acreditamos que o mercado financeiro está em um processo de fragmentação, no qual a experiência do consumidor passa a ser o novo imperativo. Entendemos que a maior competição e a segmentação do mercado financeiro vieram para ficar”, disse Ferreira à Folha.

Para o sócio da Velloza Advogados César Amendolara, parte das intenções de abertura de capital dos bancos médios se baseia em cases de sucesso anteriores do Banco Inter e da XP Inc., na Nasdaq.

“É uma somatória de fatores: crescente demanda dos investidores, boa perspectiva de crescimento do setor financeiro, recuperação econômica e maior abertura regulatória. Basta ter um plano de negócio que convença [os investidores] e ir para a ação”, diz.

Em nota, o Agibank informou que o IPO permanece nos planos para 2020 e que este é um ano considerado estratégico para a consolidação da instituição como banco de relacionamento.

“A condição de banco pagador de benefícios públicos, garantida após exitosa participação em leilão de folha de pagamento, prevê um potencial aproximado de 1 milhão de benefícios/ano”, afirmou o banco, que no ano passado arrematou três lotes no leilão da folha de pagamento de benefícios do INSS.

Ao mesmo tempo em que a migração de pessoas físicas para a Bolsa de Valores é positiva no quesito demanda, o perfil mais conservador do investidor brasileiro pode ser um desafio para os bancos médios que querem abrir capital, afirmam especialistas.

Segundo o analista de empresas da Guide Investimentos Luis Sales, ainda que os investidores estejam mais informados, o mercado brasileiro está longe de aceitar o mesmo risco que alocadores de países mais desenvolvidos aceitam atualmente.

“A demanda está mais forte e o momento está positivo para os bancos menores, mas não vai ser o mesmo ‘oba-oba’ que vemos lá fora. Muitas dessas instituições podem acabar entrando com precificação de banco múltiplo e não de fintech [que é mais alta], como esperam”, afirma.

Para o sócio da Veedha Investimentos Rodrigo Moliterno, além do imediatismo característico do investidor brasileiro, que busca lucros rápidos, outro fator que pode colocar em xeque o otimismo dessas empresas que miram a Bolsa é a dificuldade para definir o valor dos papéis.

“Quando falamos de ações de fintechs e tecnologia, ainda falta noção no mercado de como precificá-las. É difícil saber se um papel está barato ou caro porque a parte exponencial da tecnologia não é uma coisa tangível”, diz.

Segundo ele, chegará um momento em que o mercado tentará encontrar o equilíbrio no preço dessas ações, situação que poderia trazer quedas fortes e pontuais a esses ativos.

“O crescimento não pode ser gigante para sempre. Existe um limite, só não sabemos qual é”, afirma Moliterno.

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