S&P reduz perspectiva do Brasil de positiva para estável devido ao coronavírus

Agência de classificação de risco também vê risco nos conflitos entre Congresso e Planalto

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São Paulo

A agência de classificação de risco S&P reduziu a perspectiva do Brasil de positiva para estável devido aos impactos do coronavírus. A S&P espera uma queda de 0,7% no crescimento do PIB (Produto interno Bruto) este ano e uma piora na saúde fiscal do país com o aumento de gastos por parte do governo para conter a pandemia e seus efeitos econômicos.

Em relatório nesta segunda-feira (6), a agência também cita como agravante o “aumento de incerteza em relação a capacidade de avançar na agenda de reformas estruturais uma vez que a pandemia se dissipe, dado o desentendimento contínuo entre os Poderes Executivo e Legislativo”.

A agência manteve a nota do Brasil em BB- para crédito soberano em moeda estrangeira de longo prazo e B para o crédito de curto prazo. Pela nota de longo prazo, o país está três degraus abaixo do grau de investimento pela S&P.

Com a perspectiva anterior, positiva, a nota poderia ser revisada para cima, o que favoreceria a entrada de investimentos no país. Agora, a tendência é que ela permaneça BB-.

O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro –ou seja, com baixo risco de calote.

As notas de crédito têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.

Para investidores estrangeiros, a avaliação das agências serve como termômetro para avaliar um investimento e saber se a remuneração de um papel está adequada ao risco do investimento.

As notas de crédito também são importantes para os fundos: muitos deles são impedidos de aplicar em papéis sem grau de investimento. Se um emissor de dívida (país ou empresa) é rebaixado, esses fundos são obrigados a tirar os títulos com grau especulativo da carteira.

“Podemos elevar as notas nos próximos dois anos se a trajetória fiscal se recuperar mais rápido do que esperamos, junto a melhores perspectivas da implementação de reformas”, diz a agência.

A S&P prevê que em 2020 o déficit fiscal dobre em relação ao ano anterior e atinja 12% do PIB. A agência destaca que, dentre emergentes, o Brasil é um dos que mais gasta para conter os efeitos do vírus na economia, comprometendo 3,5% do PIB. Em comparação, Rússia anunciou medidas equivalentes a 0,3% do PIB, Mexico, 0,7%, India 0,1% e Argentina 1%.

Da mesma forma, a agência diz que pode reduzir a nota brasileira nos próximos anos caso a situação fiscal permaneça fraca por um tempo maior do que o esperado, ou caso o país tenha uma piora imprevista na balança de pagamento.

“Uma deterioração significativa na credibilidade da política monetária, marcada por um comprometimento enfraquecido de uma taxa de câmbio flutuante, também pesaria no rating”, diz a S&P.

O Banco Central (BC), que controla a política monetária, mantém, atualmente, uma política de câmbio flutuante, ou seja, a cotação do dólar acompanha o movimento de mercado. Para prover liquidez e conter movimentos exagerados do mercado, porém, o BC intervém com contratos de dólares o leilões da moeda à vista.

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