Descrição de chapéu Coronavírus

Indústria atinge em tempo recorde o pior nível de ociosidade em 20 anos

Setores essenciais como alimentos e medicamentos mantiverem os níveis de produção

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São Paulo

A demanda menor das famílias e as políticas de isolamento social aplicadas em estados e municípios a partir de março deste ano levaram a uma queda recorde no nível de utilização da capacidade instalada da indústria brasileira.

A redução na atividade econômica ocorreu na tentativa de reduzir a circulação do novo coronavírus. No Brasil, o número de mortes passa de 6.000.

O indicador calculado pelo Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) para o setor, o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada), aponta que, em média, as fábricas estão operando em 57,5% do que poderiam.

Esse nível representa 15,9 pontos a menos do que os 73,4% registrados em dezembro de 2016, o pior momento do ciclo de crise econômica entre os anos de 2014 e 2016.

O tombo na produção foi tão grande agora que ele levou a utilização da indústria, de um mês para o outro, ao menor patamar em 20 anos.

Instalações do laboratório de segurança veicular de uma montadora - Eduardo Knapp - 28.mai.15/Folhapress

“Na crise anterior, tivemos um ciclo de 37 meses em queda até o pior momento. Agora, em dois meses, a queda no Nuci foi duas vezes maior do que no ciclo 14-16”, diz a economista Renata de Mello Franco, do Ibre. Em fevereiro deste ano, o índice estava em 76,2%.

A queda também não foi homogênea, afetando mais os setores considerados não essenciais, como a produção de automóveis, de calçados e artigos em couro e de vestuário.

No segmento automotivo, a indústria está operando com 12,5% da capacidade, enquanto o percentual médio de utilização da capacidade instalada nesse setor é de 78,6%.

Em apenas um mês, a queda foi de 61,5%. No pior momento do último período de crise, a produção ocupou 56,5% da capacidade.

Renata Franco explica que os setores não operam com 100% da capacidade, mesmo que alguns fiquem próximos da utilização total.

No caso da indústria de peças de vestuário, a redução foi ainda maior. De utilização média do potencial produtivo de 88,3%, o setor operou com apenas 20,5% em abril.

​No setor de couros e calçados, o nível está em 24,8% –a média de utilização é de 79,6%.

Renata diz que há duas diferenças principais na reação da indústria da transformação no período de crise anterior e o de agora.

A primeira refere-se ao modo brusco como as atividades foram reduzidas na crise do coronavírus.

“Naquele momento, a partir do esgotamento do modelo de desenvolvimento, as empresas vinham se adaptando à queda na demanda. Dessa vez, o que se viu é que em dois meses, 18 pontos da capacidade instalada deixaram de ser usado. É algo que a gente não tinha visto antes”, afirma.

Além de uma queda imediata na demanda das famílias, que estão dando prioridade a despesas consideradas essenciais, as medidas de isolamento social que, em alguns casos, obrigou o fechamento de fábricas para atender às medidas sanitárias, colaboraram para uma redução mais intensa na produção.

Para Renata, os setores que menos tiveram alteração nos níveis de utilização são aquelas ligados às necessidades da crise sanitária e de saúde e ao que as famílias priorizam quando perdem renda ou estão inseguras quanto ao futuro.

Na indústria de alimentos, o nível atual de utilização da capacidade está em 74,5%, pouco abaixo dos 78,5% da média para o segmento. No setor farmacêutico, o mês de abril ocupou 81,1% do que a indústria do segmento consegue atender, operando acima do nível médio, que é de 76,7%.

A economista considera o cenário desanimador, diante do aumento no nível de incerteza. Outros indicadores calculados pela FGV apontam que os estoques do setor industrial continuam altos. Pelos próximos três meses, a previsão é de desaceleração na produção.

Outro indicador pesquisado pela FGV, o índice de confiança da indústria fechou abril em 58,2 pontos, umas queda de 39,3 pontos, a maior desde janeiro de 2001, quando a pesquisa começou a ser feita.

“Os empresários estão mais pessimistas agora do que estavam em 2016”, diz a pesquisadora da FGV.

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