Grupo conservador lança movimento contra avanço do Sleeping Giants no Brasil

Intitulado Gigantes Não Dormem, perfil quer boicote a marcas que retiraram anúncios do site e diz que guerra é espiritual

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São Paulo

Um grupo conservador reage à chegada, ao Brasil, do Sleeping Giants, movimento que nasceu nos EUA para alertar empresas que seus anúncios digitais financiam sites com conteúdos apontados como fake news ou extremistas.

Como um contra-ataque, foi lançado há dois dias no Twitter o perfil Gigantes Não Dormem, num trocadilho ao nome do movimento internacional, que significa numa tradução livre gigantes adormecidos.

O Sleeping Giants vem ganhando força há uma semana quando passou a pressionar dezenas de empresas a retirarem anúncios digitais (que são distribuídos de forma automática pelo Google) do site Jornal da Cidade Online, um portal de Mato Grosso do Sul identificado por ativistas como como propagador de notícias falsas e de discurso de ódio.

Mais de 35 empresas já se comprometeram a excluir a publicidade do site, o que gerou reação desta nova conta, que se intitula de direita e conservadora. O veículo de MS que foi alvo da debandada de anúncios também é conhecido por divulgar notícias positivas ao governo federal.

Agora, o autointitulado opositor convoca que essas empresas voltem atrás.

Imagem do perfil do Gigantes Não Dormem, considerado de direita e conservador
Imagem do perfil do Gigantes Não Dormem, considerado de direita e conservador - Reprodução

Apesar de o perfil no Twitter ter 18 mil seguidores, contra 215 mil do Sleeping Giants, o grupo conservador diz que é maioria, referindo-se ao total de apoiadores da direita, como eles se definem, e que "mídias de esquerda têm acessos baixos e receitas menores ainda".

O perfil usa a tática de pressionar empresas a reporem anúncios no site de Mato Grosso do Sul. Depois, deve optar por lógica semelhante à do opositor, mirando um site por vez; seu foco, entretanto, será nos portais que julga propagar fake news e que estariam ligados à esquerda. O perfil já pressiona pela retirada de anúncios no site Brasil 247.

Entre as empresas que concordaram com a notificação do novo movimento Gigantes Não Dormem estão a Centauro, cujo presidente apoiou a campanha de Jair Bolsonaro, e a UniBH. A primeira excluiu anúncios do “Blog do Esmael”, e a segunda, do Brasil 247.

Em nota enviada à Folha nesta segunda (25), a a UniBH esclarece que tem adotado as medidas de bloqueio de perfis e sites "de qualquer viés político ou que contenham notícias falsas ou discurso de ódio", seguindo orientações do Google.

A instituição diz que a resposta foi direcionada a um específico usuário, não a "um movimento de cunho estritamente político, o que foge totalmente de nossas premissas". "A UniBH tem atuado no bloqueio de perfis de qualquer viés político", diz o centro universitário.

FastShop e a Petlover, por sua vez, responderam no Twitter que irão revisar anúncios de plataformas automáticas.

Em seu perfil no Twitter, o Gigantes Não Dormem diz que, num primeiro momento, contra-ataca para barrar o avanço do "censurador" do Sleeping Giants. Argumenta que as empresas estão caindo "inocentemente ou propositalmente" nos pedidos dos ativistas do “outro lado”, insinuando que escolhem apoiar movimentos de esquerda.

A reportagem enviou uma mensagem ao perfil, que não quis falar com a Folha. "Não falamos com mídia que propaga fake news", afirmou.

Em um dos tuítes, o autor diz que é empresário, dando a entender que é o administrador da página. O perfil também tem um canal de distribuição de mensagens no Telegram, com mais de 360 inscritos, onde cita ideólogo Olavo de Carvalho e diz que "a guerra é espiritual e nós estamos do lado certo".

Uma das empresas que ficaram no centro da nova polarização sobre o direcionamento de publicidade na internet foi a Dell. Ao atender ao Sleeping Giants e retirar anúncios do portal Jornal da Cidade Online, alvo da CPMI das Fake News, a companhia logo virou objeto de uma campanha de boicote chamada #NãoCompreDell no Twitter, apoiada pelo Gigantes Não Dormem. Num segundo momento, veio a #CompreDell.

“O portal que vocês cortaram anúncios não dissemina ‘notícias falsas’. Retornem os anúncios ao portal ou então nós iremos boicotá-los”, disse o Gigantes Não Dormem à Dell.

O grupo chama a atenção de todas as marcas que responderam aos pedidos do outro perfil. Questionou a PUC (Pontifícia Universidade Católica), que disse ao Sleeping Giants que revisaria a automatização de seus anúncios após ter tido conhecimento de anunciva no Jornal da Cidade Online.

"Uma universidade católica se unindo à esquerda contra o conservadorismo?", diz uma mensagem. ​

Grandes empresas têm afirmado que não têm alinhamento político. Elas atribuem à forma automática de distribuição de anúncios que compram de serviços como o Google.

As empresas amplamente citadas por esses perfis nesta semana, como Dell, Samsung, Americanas, Submarino, Mercado Livre, Magazine Luiza e FastShop anunciam em sites por meio de publicidade programática. Nessa modalidade, a companhia não compra espaço digital em um site específico que tenha escolhido.

A ferramenta de publicidade do Google, o AdSense, direciona os anúncios a partir de filtros pré-definidos pelas empresas. As marcas, no entanto, têm a possibilidade de acompanhar o direcionamento, revisar e excluir os anúncios. Por essa distribuição, o Google ganha uma porcentagem do valor direcionado ao site.

A divisão não é fixa e depende da negociação em cada caso. O Google tem um filtro que barra automaticamente sites que divulgam conteúdo relacionado a violência, incitação ao ódio, drogas e temas adultos de cunho sexual. Já os conteúdos políticos entram na lista de temas mais sensíveis para as empresas de tecnologia que trabalham com publicidade. A regra é não atuar como regulador.

O Google afirma que tem políticas contra conteúdo enganoso em suas plataformas e que trabalha para destacar conteúdo de fontes confiáveis. "Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas”, disse a empresa em nota à Folha na quinta (21).

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