Descrição de chapéu The New York Times

Facebook começa a planejar trabalho remoto permanente

Se empresas seguirem exemplo, emprego no setor pode reduzir concentração em polos como o Vale do Silício, Seattle e Nova York

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Nova York

O Facebook anunciou na quinta-feira (21) que permitiria que muitos de seus empregados trabalhassem de casa permanentemente. Mas há um porém: eles talvez não consigam manter os polpudos salários que ganham no Vale do Silício caso vivam em regiões de menor custo de vida nos Estados Unidos.

Mark Zuckerberg, o presidente-executivo do Facebook, disse a trabalhadores durante uma reunião interna da empresa, transmitida por “livestream” em sua página pessoal de Facebook, que, dentro de uma década, até metade dos mais de 48 mil empregados da companhia trabalhariam de casa.

“Fica claro que a Covid-19 mudou muita coisa em nossas vidas e entre elas certamente a maneira pela qual a maioria de nós trabalha”, disse Zuckerberg. “No final desse período, antecipo que o trabalho remoto venha a ser uma tendência em ascensão”.

Placa do Facebook com sinal de 'Like'(dedo polegar)
Anúncio do Facebook se seguiu a decisões semelhantes no Twitter e no serviço de pagamentos Square - Elijah Nouvelage/Reuters

A decisão do Facebook, a primeira a ser anunciada por uma das maiores empresas de tecnologia, representa uma grande mudança em uma cultura de negócios construída em torno de unir os trabalhadores em escritórios gigantescos e mantê-los neles pelo maior tempo possível. Recorrendo a ônibus, refeitórios e serviços pessoais gratuitos, por exemplo lavagem a seco, as companhias de tecnologia fizeram o máximo possível, ao longo dos anos, para dar ao seu pessoal poucos motivos para voltar para casa, quanto mais evitar o escritório.

Se outras empresas de grande porte seguirem esse exemplo, o emprego no setor de tecnologia pode começar a reduzir sua concentração em polos de alto custo de vida como o Vale do Silício, Seattle e Nova York.

O anúncio do Facebook se seguiu a decisões semelhantes no Twitter e no serviço de pagamentos Square, ambos presididos por Jack Dorsey. Dorsey disse na semana passada que os empregados de suas companhias poderiam trabalhar de casa indefinidamente. No Google, os empregados foram informados de que podem trabalhar de casa até o final do ano, mas a companhia não deu qualquer indicação sobre planos permanentes.

Aaron Levie, presidente-executivo da Box, uma empresa de tecnologia para negócios, escreveu no Twitter que “a campanha em favor do trabalho remoto vai mudar tanto o futuro do setor da tecnologia quanto o lançamento do iPhone o fez, mais de uma década atrás”.

Os executivos de tecnologia acreditam há muito tempo que a comunicação interpessoal desempenhava papel importante para a criatividade necessária a desenvolver produtos populares. Eles construíram complexos gigantescos para sediar suas companhias, refletindo essa crença, com novas e dispendiosas sedes no Vale do Silício para a Apple, Google e Facebook, e para a Amazon em Seattle.

Mas a maior parte das grandes empresas de tecnologia já estava tentando se expandir para além de seus escritórios principais antes da pandemia, como uma geração anterior de empresas de tecnologia, que inclui a Intel, fez. A Amazon, por exemplo, pretende construir uma segunda sede na Virgínia. A pandemia do coronavírus pode acelerar esses planos.

Um êxodo de trabalhadores de tecnologia nos maiores polos urbanos do setor, combinado a demissões, poderia ter impacto local dramático. Os custos de moradia na região da baía de San Francisco, por exemplo, caíram depois que a pandemia começou, de acordo com a Zumper, uma imobiliária especializada em locações. Os aluguéis em San Francisco caíram em 7% em abril, e em Menlo Park, a sede do Facebook, a queda foi de 15%.

Zuckerberg sempre se preocupou com a possibilidade de que o trabalho remoto torne os empregados menos produtivos. O Facebook no passado pagava bonificações por produtividade para os empregados que morassem a menos de 16 quilômetros de sua sede. Em 2018, a empresa expandiu o complexo que abriga sua sede, com novos escritórios projetados pelo arquiteto Frank Gehry, que incluem um jardim no topo do edifício com 1,5 hectare de área e contendo mais de 200 árvores.

No ano passado, o Facebook começou a ocupar um edifício de escritórios de 43 andares que alugou em San Francisco, e a companhia ao que se sabe continua negociando uma expansão considerável de seus escritórios em Nova York.

O Facebook começará a permitir que novos contratados para cargos sêniores de engenharia trabalhem de casa, e a autorizar seus atuais empregados a pedir permissão para trabalhar de casa caso suas avaliações de desempenho sejam positivas.

A partir de janeiro, a remuneração do Facebook será ajustada com base no custo de vida dos locais em que os empregados escolherem morar. O Facebook anunciou que vai garantir que os empregados sejam honestos sobre sua moradia por meio de verificações sobre seus locais de conexão aos sistemas internos da empresa.

Zuckerberg disse que a mudança ofereceria mais vantagens do que inconveniências para a companhia.

Permitir trabalho remoto facilitaria uma ampliação das áreas de recrutamento da empresa, a retenção de empregados chave, a redução do impacto ecológico causado pelos deslocamentos de casa para o trabalho, e a diversificação da força de trabalho, disse Zuckerberg.

Até agora, Facebook, Twitter e Square vêm agindo mais agressivamente nesse sentido do que outras empresas do setor. O trabalho deles acontece principalmente na área de software, que permite trabalho remoto.

Na Apple, por outro lado, muitos empregados são engenheiros de hardware, que precisam estar presentes no laboratório da empresa, especialmente por conta do sigilo que ela mantém sobre seus produtos. Tim Cook, o presidente-executivo da Apple, disse em abril que o escritório principal da companhia no Vale do Silício ficaria fechado pelo menos até junho, e não atualizou esse cronograma posteriormente.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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