Setor de serviços recua 9,7% no segundo trimestre

Transportes e atividades ligadas ao consumo das famílias despencam quase 20%

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Rio de Janeiro e São Paulo

Principal motor da atividade econômica brasileira e maior empregador do país, o setor de serviços amargou queda de 9,7% no segundo trimestre, o primeiro totalmente sob efeito da pandemia do novo coronavírus.

Foi o maior recuo desde o início da série histórica, iniciada em 1996, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O setor é responsável por 75% do cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) e seu desempenho é fundamental para a recuperação da crise.

O impacto foi maior nos segmentos que mais necessitam de atendimento presencial, como alimentação, hospedagem e lazer, por exemplo. O subsetor Outras atividades de serviços, onde elas se encaixam, teve queda de 19,8% no trimestre.

Já o subsetor Transporte, armazenagem e correio —que inclui desde motoristas por aplicativo a companhias aéreas

recuou 19,3%, o segundo pior desempenho do setor de serviços no trimestre.O comércio, que no cálculo do PIB é incluído dentro do setor de serviços, fechou o trimestre em queda de 13%, também sob impacto do fechamento das lojas em todo o país. O desempenho foi puxado pelo comércio atacadista.

"A queda do comércio varejista foi menor", disse a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis. O setor de supermercados, por exemplo, cresceu durante a pandemia, como mostram as pesquisas mensais de comércio divulgadas pelo instituto.

Como o setor de serviços é responsável por 75% da composição do PIB, tem grande influência sobre o indicador final, explicou Palis. "Quando olhamos a série histórica, o PIB tem comportamento bastante relacionado com consumo das famílias, pela ótica da demanda, e com serviços, pela ótica da produção."

Restaurante Figueira Rubaiyat após a autorização do Governo de São Paulo para reabertura de bares e restaurantes - Bruno Santos - 7.jul.2020/Folhapress

Ela ponderou, no entanto, que as atividades econômicas são correlacionadas e o desempenho da indústria e da agropecuária também tem impacto no serviços. "Agropecuária tem ramificações para o transporte, para o comércio. A indústria de transformação também."

Dentro do setor de serviços, o maior peso está nos serviços públicos, que no segundo trimestre caíram 7,6%, impactados negativamente pela suspensão em atividades que demandam atendimento presencial, como museus e parques, e de aulas presenciais em universidades federais.

Logo depois, vêm os outros serviços, como aqueles prestados às famílias, e o comércio, que sofreram com o fechamento do comércio de rua e com a queda na renda da população.

Entre os três grandes setores da economia, o setor de serviços é o que tem apresentado menor dinamismo com o relaxamento das medida de isolamento. Enquanto indústria e comércio começaram já em maio a se recuperar dos tombos recordes de abril, os serviços tiveram a primeira taxa positiva em junho, mas permaneceram perto do piso histórico.

Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o setor concentra 47% dos trabalhadores formais do país, o que leva economistas a relacionar a recuperação do emprego à retomada mais vigorosa das atividades desse setor.

"A recuperação mais lenta do setor [de serviços] preocupa principalmente por seu peso no mercado de trabalho", escreveram, no mês passado, analistas do banco UBS.

A retomada enfrenta como obstáculos as restrições ao funcionamento de parte dos estabelecimentos —restaurantes com capacidade reduzida e cinemas e teatros fechados—, o elevado desemprego, que reduz o poder de compra da população, e o próprio temor de contaminação, que leva muitas pessoas a evitarem o risco de aglomeração.

Mudanças de hábitos provocados pela pandemia devem dificultar ainda mais para setores específicos, como o de turismo corporativo, cujas vendas caíram quase 90% e continuarão sofrendo efeitos do maior uso de reuniões online e das dificuldades financeiras das empresas para bancar viagens. Ou dos serviços profissionais e administrativos, que incluem limpeza e segurança predial e devem sofrer com o uso mais disseminado de trabalho remoto após o fim da pandemia.

Por outro lado, sofreram menos no segundo trimestre atividades como intermediação financeira ou imobiliárias, que tiveram alta de 0,8% e 0,5%, respectivamente.

No primeiro caso, diz Palis, houve impacto positivo das transferências de renda do governo, mas parcialmente compensado pelo menor uso de planos de saúde durante o período de isolamento social.

No segundo, a gerente do IBGE diz que houve ajuda de uma grande atividade imobiliária de aluguel, com pessoas buscando locais para passar a pandemia, além de novas incorporações, embora a indústria de construção tenha caído 5,7% no trimestre.

"Lógico que a parte imobiliária também foi afetada, mas foi afetada menos do que a infraestrutura, que já vem sendo afetada há algum tempo", afirmou.

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