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Investimentos em startups resistem durante pandemia e ganham fôlego neste segundo semestre

Mesmo no ápice da crise, empresas conseguiram quase US$ 2 bi; fusões e aquisições se intensificam

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São Paulo

Pesquisa que mapeia o ecossistema das startups brasileiras mostra que um número maior de jovens negócios resistiu ao ápice da pandemia do novo coronavírus e já há sinais de maior capitação de recursos neste segundo semestre.

Detalhe: não houve paralisação no fluxo de aportes, como se viu em empresas de segmentos mais tradicionais. Entre janeiro e agosto, o setor contabiliza 268 novos investimentos, que somam US$ 1,42 bilhão.

Os números são do Inside Venture Capital Brasil, relatório produzido pelo Distrito Dataminer, principal mapeamento de startups.

O montante deste ano, de fato, é inferior ao observado em igual período do ano passado, quando a injeção de capital em novos negócios somou US$ 1,98 bilhão, mas aí entra uma consideração importante, explica Gustavo Geirun, cofundador do Distrito Dataminer.

Gabriel Cabral/Folhapress

“Em julho de 2019, houve um investimento fora da curva: o Nubank recebeu US$ 400 milhões, que concentrou 86% do volume investido naquele mês”, diz Geirun.

Desconsiderando esse aporte, a curva de crescimento deste ano, na comparação com o ano anterior, seria mais acentuada.

Neste segundo semestre, dados de agosto já apontam para uma retomada rápida.

O volume de investimentos no mês foi 44% superior ao de agosto de 2019 e 145% maior que em agosto de 2018. Agosto também registrou um recorde no número de aportes: foram 36, número 33% acima do registrado no mesmo mês do ano passado.

Na avaliação de Tiago Ávila, presidente da Distrito, esse aumento do número de rodadas de investimentos em startups nacionais está ligada ao otimismo com a recuperação econômica global, já que a retração esperada deve ser menor que a prevista incialmente, e a intensa movimentação nas Bolsas de Valores.

O fato de a taxa básica de juros (Selic) estar em seu mínimo histórico no Brasil também motiva investidores tradicionais a buscarem novas opções para diversificar seus portfólios, incluindo as startups.

Soma-se a isso o interesse crescente de investidores internacionais nas startups brasileiras, tendência que reforça a consolidação do segmento.

“Não é só o ecossistema das startups que está mais amadurecido, mas também o dos investidores, que se mostram mais seguros para colocar um valor maior de recursos nessas do Brasil”, diz Ávila.

Outras frentes com intensa movimentação são fusões e aquisições. No primeiro semestre deste ano, o número de fusões cresceu mais de 300%, e o de aquisições 151%. Nem todos divulgam valores, mas a soma de transações divulgada, no primeiro semestre, é de US$ 750 milhões. O montante é 1.500% superior ao registrado em igual período do ano passado.

Segundo relatório da Distrito, 58% desses negócios foram feitos por grandes empresas, como Via Varejo, XP Investimentos, BTG Pactual e Linx, que buscaram fintechs para aprimorar processos como antecipação de recebíveis, contas digitais e fornecimento de crédito.

Em números absolutos, o maior volume de fusões e aquisições se deu na área das adtechs, em busca de soluções para as redes sociais e mídias digitais.

Até agora, as maiores aquisições foram do Grupo Zap, comprado pela OLX Brasil por US$ 643 milhões, da Trigg, vendida para o Fundo Vector por US$ 59,7 milhões, e da PinPag, comprada pela Linx por US$ 31,5 milhões.

A previsão é encerrar o ano com 120 fusões e aquisições no segmento.

“As empresas que conseguiram superar o ‘vale da morte’, como chamamos o primeiro momento da pandemia, foram percebendo que, se quisessem sair mais fortes, teriam que se juntar a outras”, avalia Junior Bornelli, presidente e fundador da StartSe, um centro de formação voltado para o empreendedorismo.

“Você pega uma grande empresa, como a Gerdau, que sabe que consegue desenvolver inovação dentro de casa, mas sabe também que ao se conectar com startups vai promover tanta ou mais inovação do que ela consegue fazer por si mesma”, diz Bornelli.

O que nem a pandemia mudou foi a falta de mão de obra especializada —o que é bom para o trabalhador, mas mantém o desafio para os empresários completarem suas equipes.

Segundo o presidente da ABStartups (Associação Brasileira de Startups), Amure Pinho, praticamente todos os demitidos na fase mais crítica da pandemia já estão ocupados.

“Na associação, criamos um banco de dados para esses profissionais. Muitas empresas logo começaram a contratar ou recontratar: A verdade é que, no nosso segmento, há defasagem de 40% na oferta de mão de obra especializada, principalmente nas áreas de tecnologia”, afirma.

Um dos principais gargalos é a falta de profissionais com habilidade matemática e atualizados quanto às linguagens de programação, afirma Pinho.

“Os programadores ainda estudam memória e processamento das máquinas com parâmetros antigos e acabam precisando dos estágios para se tornarem os profissionais que o mercado demanda”, diz ele.

“Para suprir essa lacuna, algumas empresas até contratam talentos no exterior, especialmente em áreas como data science, machine learning e inteligência artificial, mas são casos isolados. A maioria trabalha com mão de obra local e a demanda supera a oferta.”

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