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Presidente da Samsung morre aos 78 anos

Lee Kun-hee transformou o comércio de macarrão de seu pai no maior conglomerado da Coreia do Sul

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Seul | Reuters

O presidente do grupo sul-coerano Samsung, Lee Kun-hee, morreu aos 78 anos neste sábado (24), segundo informações divulgadas pela empresa. Ele estava com a família, incluindo o filho Jay Y. Lee, vice-presidente da Samsung Eletronics.

Lee Kun-hee, presidente da Samsung, em entrevista em 2010 - Lee Jae-Won-1.dez.10/Reuters

Lee ajudou no crescimento do comércio de macarrão de seu pai, Lee Byung-chull, transformando-o no maior conglomerado da Coreia do Sul, com dezenas de afiliadas, que vão desde eletrônicos e seguros até construção de navios e obras civis.

“Presidente Lee era um verdadeiro visionário que transformou a Samsung em uma líder mundial em inovação e potência industrial a partir de um negócio local. Sua declaração de 1993, “Nova Gestão”, foi um propulsor da visão para a entrega da melhor tecnologia para ajudar no avanço da sociedade global”, disse a Samsung em comunicado.

Ao longo de sua vida, o empresário viu a Samsung Eletronics passar de uma fabricante de TV de segunda linha para a maior empresa de tecnologia do mundo em receita -deixando para trás as japonesas Sony, Sharp Corp e Panasonic Corp em chips, TVs e monitores; acabando com a supremacia dos celulares da Nokia Oyj e batendo a Apple Inc em smartphones.

“Seu legado será eterno”, disse a Samsung.

História

Em fevereiro de 1993, cinco anos depois de substituir seu pai no grupo sul coreano Samsung, Lee Kun-hee, aos 51 anos, estava frustrado por não estar deixando sua marca.

Ele convocou um grupo de executivos da Samsung Eletronics para ir a uma loja da Best Buy em Los Angeles (EUA) para um choque de realidade da marca Samsung. Coberta de poeira, uma TV Samsung jazia numa prateleira de canto com uma etiqueta de preço quase US$ 100 mais barata que o modelo da rival Sony.

Depois de uma tensa reunião de nove horas, Lee deu o pontapé numa mudança estratégica na Samsung –para ganhar participação no mercado via qualidade, não quantidade.

Lee era movido por um senso constante de crise, que instigou seus times de líderes a buscar mudança e lutar contra a apatia.

Em meados dos anos 1990, Lee pessoalmente fez um recall de celulares e máquinas de fax de baixa qualidade, avaliados em US$ 50 milhões, e colocou fogo neles.

Esse foco em crise, e seus modos frequentemente calorosos, ajudaram Lee a transformar o negócio de macarrão de seu pai, Lee Byung-chull, em um império corporativo com ativos avaliados em US$ 375 bilhões (dados referentes a maio de 2020).

Em um artigo de 1997, Lee relembrou sua frustração com a inércia da gerência. "O ambiente externo de negócios não era bom, mas não havia um senso de ansiedade dentro da organização, e todos pareciam estar satisfeitos com seu próprio conceito de si. Eu precisava apertá-los um pouco e relembrar repetidamente os gerentes da necessidade de ter um senso de crise", escreveu.

Em 2013, a revista "Forbes" nomeou Lee o segundo homem mais poderoso da Coreia do Sul, atrás apenas do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Temido e reverenciado

Quatro meses depois da reunião em Los Angeles, Lee chamou seus batalhão para o quarto de um hotel em Frankfurt, onde ele mostrou o seu plano "Nova Gestão", exortando executivos a "mudar tudo exceto sua esposa e filhos".

Reuniões executivas se mostraram brutais, frequentemente se prolongando para além de dez horas, com os participantes com medo até de beber água porque eles não queriam interromper Lee tendo que ir ao banheiro.

A perspicácia de Lee para os negócios fez dele objeto de fascinação sem fim e especulações na Coreia, mas ele e o império que construiu também foram vilanizados por críticos e acionistas ativistas por exercer tamanha influência econômica, governança hierárquica e opaca, além de escândalos de corrupção.

Conforme sua saúde piorou –Lee precisava de ajuda para andar e era suscetível a doenças respiratórias após um tratamento de câncer de pulmão–, ele tornou-se uma presença menos frequente na sede da Samsung, passando longas viagens de inverno no Japão ou Havaí.

Mas seu controle sobre o grupo continuou firme. Sempre que viajava, pelo menos quatro executivos do alto escalão da Samsung, junto com o pessoal e a segurança da companhia, iam ao aeroporto para despedir-se.

No centro de desenvolvimento de recursos humanos da Samsung, as dezenas de milhares de funcionários participando de sessões de treinamento prestam uma vigília silenciosa para uma maquete do quarto do hotel de Frankfurt –com mobília importada da Alemanha.

Como a maioria do quadro da Samsung está na casa dos 20 e 30 anos e não experimentaram em primeira mão o estilo de gestão de Lee, essa homenagem serve para lembrá-los de que eles precisam de "pensar crise", diversas pessoas que participaram dos treinamentos disseram.

Lee nasceu em 1942 no vilarejo sul-coreano Uiryeong, o terceiro filho do fundador da Samsung. Ele foi enviado ao Japão com 11 anos, após o fim da guerra da Coreia. Seu pai queria que seus filhos aprendessem como o Japão estava se reconstruindo a partir das cinzas da Segunda Guerra Mundial.

Ele admitia ser um solitário e achou difícil fazer amigos quando voltou ao seu país natal, que estava tomado por um sentimento anti-japonês. Ele voltou ao Japão para estudar economia na Universidade Waseda, e depois administração de empresas na Universidade George Washington (EUA).

Seu contato precoce com a tecnologia avançada do Japão levou-o a estabelecer as bases da Samsung Electronics formando alianças com empresas como a Sanyo, e adotando tecnologias de fabricação de chips e TVs.

Lee começou sua carreira na Samsung em transmissões, trabalhando até chegar no topo, como presidente, em 1987, rompendo com a prática tradicional do filho mais velho assumir as rédeas. Seu irmão mais velho, Lee Maeng-hee, foi escolhido inicialmente para liderar a Samsung em 1967 quando seu pai se aposentou, mas seu estilo de gestão agressivo causou tensão com pessoas próximas do fundador, de acordo com diversos livros sobre a Samsung.

O segundo filho, Lee Chang-hee, cortou os laços com a família ao dizer o gabinete presidencial que seu pai tinha US$ 1 milhão em fundos de suborno no exterior.

O patriarca exilou Chang-hee nos EUA e retornou para a presidência da empresa. Em 1976, diagnosticado com câncer, passou os negócios para Kun-hee. Chang-lee morreu em 1991.

A postura curvada de Kun-hee, devida a um acidente de trânsito, sua voz suave, olhos redondos e expressão frequentemente confusa eram atípicas para uma figura tão poderosa. Casado com Hong Ra-hee, que comanda a galeria de arte afiliada da Samsung Leeum –uma combinação de Lee e museu–, com quem teve um filho e três filhas.

Lee foi membro do Comitê Olímpico Internacional entre 1996 e 2007.

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